17- Coringa

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Uma caneca de café quente nas mãos, a fumaça do líquido fervente, se misturando a respiração calma, e ao ar que era soprado pelos lábios vermelhos que tocavam a borda da cerâmica escura.

Sentado com os joelhos dobrados juntos ao peito, Leon admirava a visão da tv ligada, sem se conectar de fato com o programa de variedades que a tela mostrava. Seu rosto estava sereno, tranquilo, e o observando desse jeito ao qual era difícil vê-lo sair, Millo, sentado no outro sofá, o avaliava silenciosamente, como era seu costume fazer, para tentar, mesmo que inutilmente desvendar os pensamentos de seu chefe.

Mesmo com seus mais de dois metros, de sua estrutura forte e ameaçadora, perto de Leon, Millo sempre se sentiu pequeno, vulnerável como um gatinho esmirrado, mas isso não o incomodava, não o amedrontava, era a confiança e o respeito gigantesco que o fazia se apequenar diante do chefe.
Nesses longos anos ao seu lado, ele tinha a certeza de que ninguém o conhecia melhor, que ninguém o entendia mais. Ele foi escolhido para estar ao seu lado, protegê-lo, cuidar dele, e nada nem ninguém no mundo, poderia romper o contrato de amizade e subserviência que Millo se impôs ter ao seu chefe.

Enquanto divagava em pensamentos, misturando passado e presente em sua cabeça, Millo foi interrompido pela voz do chefe a chamar seu nome.

- Ei, em que planeta você está hoje?

Millo sacudiu a cabeça, sorrindo em desculpa.

- Foi mal chefe, pensando em coisas velhas._ Millo falou.

- Você não gostou da aposta com o garoto não é?_ Leon disse, se levantando, enquanto bebia um gole do café.

Sendo sincero, como ele sabia que podia ser, Millo respondeu imediatamente:

- Acho arriscado ter esse garoto aqui, e desnecessário também, a essa altura, você devia se proteger, e não trazer o perigo até a nossa porta.

Leon, sorriu, sempre aquele mesmo sorriso, calmo, que irritava muitas pessoas, e cativava outras, como Millo.

- Meu gigante amigo, você deveria entender, entre todos, essa aposta foi benéfica de muitas maneiras para nós. Saímos duas vezes vencedores._ Leon argumentou.

- Ainda não entendo como, chefe.

Leon se aproximou do amigo, segurando seus ombros, bem mais alto e largo que o seu.

- A esse ponto, ter Ben aqui, é uma carta na manga muito conveniente, ter algo que deixa alguém de posição tão privilegiada quanto o general, a ponto de nos proteger para evitar sujar seu nome, é algo importante, e que nos é muito útil nesse momento.

- Você vai chantagear ele então?_ Millo perguntou.

- Não, quer dizer, não agora, e ouso dizer que não será preciso, mas imagine, caso seja necessário, para jogar para debaixo do tapete seu filho envolvido com gangues, o grande Raika, será capaz de cuidar da nossa segurança, certo?

- Acho que sim._ Millo disse por fim, entendendo bem o que Leon construiu com aquela partida de cartas aparentemente sem sentido.

- Claro que sim, um homem como ele jamais deixaria que o nome de sua família fosse jogado aos lobos dessa forma, o único filho, deve ter grandes planos prontos para ele, e seu papai famoso, irá fazer qualquer coisa para que esses planos não sejam arruinados. Inclusive, proteger a nós.

O sorridente Leon, falou, satisfeito e orgulhoso de si mesmo.

- Não vai ser fácil lidar com aquele garoto abusado. Você sabe disso, além disso, ele pode descobrir muito sobre nós._ Millo falou.

- Deixe que descubra, deixe que veja tudo, quanto mais souber, quanto mais ver, mais nas nossas mãos ele vai estar.

Após dizer isso, Leon seguiu até o quarto, voltando vestindo uma jaqueta de jeans escuro. Enquanto dobrava as mangas, foi novamente questionado por Millo.

- E quanto ao gênio terrível dele? Como você vai fazer chefe? Como devemos tratar o menino rebelde?

Trançando o cabelo ao lado do ombro direito, Leon respondeu friamente:

- Sabe o que dizem, para amansar um puro sangue, não é preciso violência, e sim paciência. E eu sou muito paciente.

Millo permaneceu calado, apenas olhando para Leon.

- Quanto ao tratamento que ele deve ter, ele é um novo funcionário, o trate como tal, ensine, explique e fique atento, como sempre._ Leon disse.

- Entendido chefe.

Se encaminhando para a porta, ao segurar a maçaneta, Leon se voltou a Millo, que o seguia. Antes de abri-la Leon disse:

- Agora vamos ao trabalho, detetive Makino nos espera no bar.

Dirt Game  ( Lgbtq+)Onde histórias criam vida. Descubra agora