Depois de várias paradas, eu acordar de madrugada e ter cochilado várias vezes durante a viagem, o cobrador finalmente avisa que a próxima parada é a rodoviária da cidadezinha em que vivi mais da metade da minha vida.
Eu estava reclamando da viagem desde as cinco da manhã que acordei para pegar o ônibus, mas a verdade é que faria tudo outra vez só para não ter que me prestar a ir até a casa do meu pai, a casa que ainda poderia ser minha se Erika não tivesse aparecido em nosso caminho.
Suspirei me preparando para levantar com os outros passageiros, quase tudo mundo tinha saído, restavam apenas eu, uma senhora que devia ter uns oitenta anos ou mais e uma mãe com dois filhos, o garotinho e a garotinha tagarelando ao seu redor me fizeram pensar imediatamente em Seth e Charlotte, o que será que eles estariam fazendo agora? Conferi as horas no celular, faltavam quinze minutos para as dez da manhã, então, provavelmente estariam se divertindo com Brianna ou comendo alguma coisa que Susan fez, não pela primeira vez hoje, desejei estar com eles, com os pestinhas que haviam roubado meu coração e não indo para essa maldita festa.
Era desnecessária minha presença, era desnecessário eu ir ver minhas tias por parte de pai (quem nem eram mesmo minhas tias) perguntando dos "namoradinhos" e Erika com o sorriso de deboche ao constatar isso. Meu único alento era saber que tia Sarah estaria lá, não por escolha, no mínimo, mas por que meu tio era muito amigo do meu pai e para infelicidade da minha tia, eles todos eram vizinhos.
Esperei a mulher com as crianças e depois a senhora que gastou uma vida inteira, para só então sair do ônibus atrás delas. Peguei minha mala e olhei para a rodoviária a todo vapor decidindo se valia à pena pedir um táxi. Não valia, a casa do meu pai ficava a vinte minutos daqui e não compensava mesmo gastar meu dinheiro com táxi. Peguei a mala e segui em direção a casa em que cresci.
Ia ser um longo fim de semana.
Arrastei-me debaixo do sol pelas ruas que conhecia muito bem, até a casa que agora tinha uma fachada amarela que Erika tinha tido o prazer de mandar pintar no instante em que meu pai lhe deu liberdade pra isso. Ela tinha feito questão de mudar tudo o que pudesse, mudar tudo que lembrava minha mãe. Estava praticamente marcando a casa e papai como sendo seus. Dizendo com todas as letras que meu tempo ali tinha acabado.
Desisti desses pensamentos quando parei em frente à porta. Eu estava me preparando psicologicamente para bater, talvez entrar sem bater mesmo, mas não tive tempo de escolher, por que de súbito a porta foi aberta e papai surgiu a minha frente, ele parou onde estava, sua expressão de surpresa me fez sorrir, vê-lo estava cada vez mais raro, mas ele não parecia estar se importando muito com isso.
- Livy, que surpresa! – ele exclamou quando o silencio começou a ficar estranho, papai tinha um saco de lixo enorme nas mãos e não parecia saber se me cumprimentava e continuava sua tarefa de levar o lixou ou só ficava ali parado a minha frente. No fim decidiu por continuar a minha frente.
- O senhor me convidou, lembra? – digo meio irônica e o sorriso já meio precária de papai vacila.
- Claro que lembro. Só estou surpreso em vê-la aqui. Por que não disse que estava chegando? Eu poderia ter ido buscá-la.
- Não quis incomodar. A Erika poderia achar ruim – resmungo essa última parte e como sempre papai me olha feio. Quando o assunto é sua mulher eu sempre estou errada ou querendo criar confusão.
- Olivia... – ele começa como sempre e suspiro sem coragem nem paciência para continuar.
- Tudo bem, pai, eu vim pelas coisas da mamãe de qualquer forma. Onde estão?
- Na garagem, mas como está aqui é para ficar até a noite. Isso não é um pedido - ele reforça como se eu não tivesse entendi o recado.
- Certo... – suspiro. – Vou para o meu antigo quarto, depois continuamos.
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Confusão em Dose Tripla ✓
RomanceQuando perdeu o emprego a milhares de anos luz atrás, Olivia Cooper não imaginou que demoraria tanto para arrumar outro, não pensou que seria tempo o suficiente para ser ameaça com um aviso de despejo por não pagar o aluguel. Mas como um raio de luz...