Capítulo 3 - Crianças pra mim? Não, obrigada.

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- Então você vai voltar pra casa do seu pai, é? E o emprego novo? - Christina perguntou enquanto eu tentava enfiar o resto das minhas coisas na última caixa vazia que eu tinha. Eu estava no meu ex-quarto enquanto minha ex-colega de apartamento estava me olhando do batente da porta.

- O emprego não deu certo e entre virar moradora de rua e ir morar com meu pai, ir morar com ele ainda é a opção menos pior - respondi de má vontade socando as roupas na caixa.

A verdade é que desde ontem quando voltei do meu primeiro e último dia na casa dos Price eu estava irritada e perdida. Se eu ao menos achasse que tinha chance com Seth eu ficaria, ia tentar domá-lo e conquistá-lo, mas depois daquela cena assustadora que ele chamou de "brincadeira" eu vi que não ia dar certo, como a gente ia se entender se ele não me ouvia e eu não podia sacudi-lo pelos ombros como gostaria? O melhor era eu voltar a passear com os cachorros, pelo menos eles não tentavam me matar do coração.

- Livy? - Christina me chamou e a encarei desistindo da caixa e dos meus pensamentos.

- Oi.

- Se você quiser, sabe... - era nítido seu esforço para fazer as palavras saírem. - Se quiser ficar mais um pouco, até achar um lugar, eu sei que você não se dá bem com seu pai e tudo, então...

- Está tudo bem, Christina, você não me quer aqui e eu não tenho por que ficar, voltar pra casa dele é a melhor coisa que faço, pra mulher insuportável dele esfregar na minha cara o quão inútil eu sou. Mas agradeço a oferta - a resposta ácida e irônica escapa dos meus lábios antes que eu possa me conter.

Ela parece chocada e dou de ombros, no fim não disse nenhuma mentira.

- Eu nunca disse que não a queria aqui, só disse que precisava de ajuda com as contas - Christina se defende e finalmente consigo fechar a caixa antes de ficar de ficar de pé outra vez e olhá-la.

- Não disse mesmo? Nem antes de ontem quando me enxotou daqui? Ah quer saber? Não importa, eu estou indo e minha mudança só vai levar mais alguns minutos. Vamos só fingir que essa conversa nunca aconteceu. Agora me dá licença que ainda tem algumas coisas minhas no banheiro - não espero uma resposta ou uma reação, só passo por ela pra buscar a escova de dente que esqueci.

Não demora até eu ter tudo guardado em três caixas, uma mala e minha bolsa nas mãos. Eu não quero ir, não mesmo, mas que outra escolha tenho? Virar moradora de rua ainda não é uma opção, só que está quase se tornando, cada vez que penso mais a respeito de morar com Erika, suas regras sem sentido e seu sorriso debochado de quem sabe que vai conseguir tudo o que quiser do meu pai.

Eu tenho que ligar para o meu pai, estou indo embora pra casa dele e ainda nem disse nada, mas sinceramente eu nem gostaria de ter que avisar coisa nenhuma. Revirei minha bolsa pela milésima vez e não encontrei minha carteira, hoje de manhã eu achei a tinha deixado em outro lugar, mas agora, olhando para o quarto contendo só a mobília eu tinha certeza de que ela não estava em lugar nenhum. Pensa, Olivia! Quando foi a última vez que a viu?

Gemi em frustração quando me dei conta que tinha sido indo trabalhar, mas na volta não a vi em lugar nenhum. Eu guardava meu dinheiro no bolso interno da bolsa, carteira pra mim era só pra ocupar espaço e guardar meus documentos e os cartões que não funcionavam mais por que tinham sido todos bloqueados e era por isso que eu nunca sabia onde a tinha deixado, mas dessa vez me superei, por que eu tinha certeza que tinha ficado em cima da estante da sala da casa de Ethan, uma vez que a tirei da bolsa quando fui procurar uma lixa de unha.

Deitei no colchão sem capa ou lençol e encarei o teto com vontade de chorar, tinha que ser eu né? Pra arrumar uma dessas, se não fosse pelos documentos que eu ia precisar não teria motivo algum para eu ir atrás dessa maldita carteira, mas agora eu preciso voltar até lá. Olhei as horas no celular e suspirei, eram quase duas da tarde, ir lá, voltar e pegar minhas coisas não demoraria tanto assim, acho que eu ia conseguir pegar o ônibus das 16h00m.

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