Capítulo 15

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Soraia

Estava sentada no chão da sacada da sala com Sophie no meio das minhas pernas, ela gesticulava a falava como o seu dia havia sido cheio, falou que sua professora mais uma vez reclamou de seu peso e que ela nunca subiria em uma sapatilha de ponta se continuasse fofinha, eu não concordava com ela, por mim Sophie continuava do jeitinho que sempre fora, fofinha e feliz. Ela é a prova viva de que comida traz felicidade.

- Foi o papai que fez isso em você? – Ela tocou no roxo em minha barriga, eu estava com uma calça de moletom de cós baixo, com os elásticos a baixo do meu umbigo para não apertar a minha contusão e um top preto, Vincent havia me dado uma pomada para passar e falou que não deveria colocar nada por cima, disse que antes de dormir me faria uma massagem e bom, hoje eu não irei recusar. Sophie analisava a mancha com muito carinho, um pouco preocupada e eu até fiquei um pouco confusa com a sua pergunta.

- Claro que não, meu amor... Seu pai nunca faria isso – Puxo-a para o meu colo e ela olha em meus olhos, ainda com as mãozinhas no machucado – Por quê está pergunta?

- O papai da minha amiga bate na mamãe dela – Me assusto e a puxo para mais próximo de mim – Ela falou que a mamãe dela chora toda noite – Meu coração batia muito forte, e Sophie ainda tão pequena parecia entender a gravidade da situação – Eu não quero que você chore, Sô.

- Meu amor, seu papai nunca faria isso – Eu a faço me encarar – Ele alguma vez já te bateu? – Ela nega com a cabeça – Então por que ele me bateria? – Ela encolhe os ombros e suspira – Você não pode deixar ninguém machucar você, está me entendendo? – Eu disse em forma de lição.

- Mas e se fizerem mesmo eu não deixando? – Ela pergunta um pouco em dúvida.

- Aí, você fala para alguém, assim como você está me contando isso agora – Ela assente. – Promete?

- Prometo – Ela sorri, e deixa um beijo na contusão da minha barriga – O que aconteceu?

- Eu bati na mesa do escritório e a minha pele é muito sensível – Ela assente e sorri, mas nada faz eu esquecer que a mãe de uma amiguinha dela sofre de violência doméstica.

- Princesa, você costuma frequentar a casa desta sua amiga? – Sophie me olha e nega com a cabeça – Você conhece o papai e a mamãe dela? – Ela continua negando.

- Pu quê? – Ela pergunta.

- Se algum dia o papai dela fizer alguma coisa para você, conte ao seu pai.

- Ta bom, mas o papai não deixa eu ir na casa das minhas amiguinhas – Ela suspira – Ele fala que não gosta que eu esteja tão longe dele.

- Seu pai é assim mesmo – Dou risada sentindo minha barriga doer com a contração – Meio controlador, um pouco chato.

- Ele é sato – Dou risada com a dicção da pequena tão esperta, seu bracinho parecia estar melhor hoje, menos inchado, ela reclamava que dentro do gesso coçava e era quente, mas logo ela estaria bem.

- Vamos dormir princesa? – Morgana aparece na porta da sacada – Já está tarde, você precisa descansar e Soraia também – Olho para ela – Quer um gelo?

- Não Morgana, obrigada. – Digo me levantando e dando alguns beijinhos em Sophie – Boa noite, princesa.

- Boa noite – Ela diz e pega na mão de Morgana e vai rumo ao seu quarto.

Entro na sala e vejo Vincent jogado no sofá, ele mexia em seu notebook, usava uma calça de moletom cinza, sem camisa com seu peito definido e alguns pelos aparecendo, ele digitava freneticamente, mandíbula serrada e respiração pesada, pés descalços e pernas esticadas na mesinha de centro.

Entre Tiros E HarmoniaOnde histórias criam vida. Descubra agora