Capítulo 20

435 53 12
                                    

Vincent

Ao entrarmos no quarto do hotel Soraia correu para o banheiro, ela não estava bem quando desembarcamos e até pensei que ela iria desmaiar, entrou no carro com rapidez e encostou a cabeça no vidro, Manoel me encarava com preocupação, mais preocupado do que eu, ele não estaria. Havíamos brigado, seus olhos estavam inchados e eu queria não ser o motivo de nenhuma lagrima que houvera caído de seus olhos, pensei tanto em tudo que havia dito, cheguei à conclusão de que ela estava certa. Queria perguntar se ela estava bem, mas sabia que ela choraria e não queria que demonstrasse fraqueza na frente de Manoel, querendo ou não ela tinha integridade, então apenas nos dirigimos até o hotel.

Ela vomitava todo o café da manhã, e chorava, talvez pela dor no estomago. Não conseguia entender como ela ficou tão ruim, suas ânsias eram tão fortes, mas já não tinha nada no estomago, então despejava água, eu segurava seus cabelos em um rabo e tentava afagar suas costas. Foram minutos que pareceram uma eternidade, estávamos até que enfim sozinhos, e eu nunca a vi tão frágil quanto naquele momento, quando ela pareceu controlar a ânsia e a respiração, se afastou do vaso e ainda jogada no chão se sentou e se juntou no montinho que ela costumava se isolar. Juntou suas pernas ao peito e continuou a chorar, eu fechei a tampa do vaso e dei a descarga, estava agachado diante dela, queria toca-la, mas percebi que talvez eu houvera perdido essa intimidade.

- O que você tem? – Eu perguntei em tom baixo, fui com uma mão até seus cabelos e toquei de leve, então percebi que podia, ela não reagira mal.

- Eu não me dou bem com aviões – Ela diz ainda com a cabeça escondida entre as pernas, seu choro houvera diminuído, parecia querer recuperar a respiração – Você pode pegar a minha frasqueira? Estou com um gosto horrível na boca – Assinto com a cabeça mesmo ela não vendo, a ajudo a levantar e a deixo sentada no vaso, dou um beijo em seus cabelos e vou até a sala, pego a frasqueira e lhe entrego.

Ela tem movimentos leves, não sabia se era precaução pelo pulso ou se era lentidão por que ela estava fraca, ela pega sua escova de dentes e se levanta, escova com calma, guarda tudo e prende o cabelo em um coque, e então sai do banheiro, eu vou atrás. Nossas malas estavam na sala, as joguei para ir ajuda-la, e ela não se importa, apenas coloca a frasqueira em um criado que havia encostado na parede, e então vem até mim. Ela usava um casaco de tecido fino, imitando um cardigã que iria um pouco mais abaixo do seu short, ela amarrotava as mangas dele em sua mão, em sinal de nervosismo, mas ao chegar perto de mim estendeu os braços e os atravessou em meu tronco, seu cabeça batendo em meu peito e seus braços apertando a minha cintura.

- Você quer conversar? Mas sem brigar – Ela pergunta ainda com a cabeça encostada em meu peito – Sem brigar de verdade Vincent. Promete?

- Podemos tentar – Ela parecia ter entendido, então vamos até o sofá, ela se senta em meu colo, sua cabeça em meus ombros e sua respiração batendo em meu pescoço. Minhas mãos estavam apenas repousadas em sua cintura, as pernas dela se esticavam no sofá – Você está certa, eu realmente sou egoísta e se fosse pela sua segurança, eu nunca te traria aqui. Você está completamente certa, mas eu não sei como trabalhar a ideia de te ver longe, agora que te tenho tão perto. Eu sou assim, obsessivo, grosso, exigente, sádico, e não há nada que podemos fazer para mudar. – Ela suspira, e começa a fazer um carinho por dentro da minha blusa, nas minhas costas.

- Nós podemos nos ver sempre, eu vou continuar sendo sua namorada, dizem que é bom sentir saudade – Eu dou risada, sua voz estava rouca, ela realmente estava mal.

- E se você continuasse morando lá em casa? – Eu tento a minha primeira ideia – Sei que você está acostumada a ser sozinha, mas agora não está mais, e tem Sophie.

- Não coloque Sophie no meio disso – Ela suspira – Você me deixaria ir, se eu morasse com vocês?

- Claro, se você não quiser, eu não sei o que faço. – Ela sorri, e olha para o seu pulso – Eu não farei mais isso, prometo. – Toco nele, estava a marca certinha dos meus dedos, mas não estava inchado e aquilo me alegrou.

Entre Tiros E HarmoniaOnde histórias criam vida. Descubra agora