Capítulo 8

637 85 16
                                    

Soraia

- Você vai ficar por aqui hoje – Vincent diz enquanto entramos em seu quarto. Ele era grande, até demais para alguém que dorme sozinho, haviam três portas contando com a de entrada, a sua cama era enorme e ficava em um canto de parede, estava decorada com lençóis brancos e pretos, ao lado de uma porta de vidro que provavelmente acessava a sacada, sua cabeceira era de madeira e ao lado havia um criado onde tinha um abajur em cima e algumas gavetas, o quarto era cinza e preto, tinha uma luz baixa e era frio, por conta do ar-condicionado, tinha um tapete, e uma estante com muitos livros, que eu provavelmente também roubaria. – Vamos conversar. – Ele me puxa para sentar ao seu lado na cama.

- O que você não sabe? – Pergunto tirando meu tênis e subindo na cama, cruzo as minhas pernas e fico de frente para ele.

- O que você tem contra o seu pai? Por que ele não veio atrás de você? – Ele pergunta me encarando.

- Não vou te contar isso – Fico um pouco desconfortável, até porque isso é algo íntimo meu e de meu pai. Vincent sorri de lado.

- O que você vai me contar? – Dou de ombros – É verdade que você... – Ele não termina, não precisa terminar.

- Sim, eu matei a minha mãe – Digo me afastando dele na cama – Eu sei... – É sempre assim, me sinto suja, com vontade de chorar, eu sei que o que eu preciso é de um psicólogo e não um abraço, mas é isso que ele me da.

- Eu não entendo, por que você? Por que ele mesmo não a matou?

- Para provar a minha lealdade – Eu respondi correspondendo ao seu abraço, ele me prensa em seu tronco e nos puxa para o meio da cama, acabamos comigo em meio das suas pernas, com as minhas costas encostadas em seu peito e a sua respiração batendo em meus cabelos. As mãos dele estavam apoiadas em minha cintura e nossas pernas estavam esticadas, as minhas no meio e as dele ao lado.

- Eu matei os assassinos dos meus pais, tinha 18 anos quando o fiz – Eu não sabia disso, penso em olhar para ele, mas me contento em apenas segurar a sua mão e brincar com os dedos compridos do mais velho – Era de um grupo rival, que negaram aliança aos meus pais, mas queriam o nosso lado do tráfico, viram oportunidade enquanto eu fazia faculdade em outro país e os meus pais tiravam algumas férias, fui obrigado a assassinar todos os integrantes da minha equipe por suspeitar de traição vindo de qualquer um, todos pagaram, mas mantive Manoel e com a ajuda dele reconstruímos tudo, incluindo a DallTec que de início era apenas uma empresa com o propósito de uma vida nova para nós dois, até que quando eu fizemos 22, fomos obrigados a voltar para o tráfico de armas, sendo que o grupo rival nos forçou a isso, ou nos entregaria com algumas provas para a polícia, eles precisavam de nossos trabalhos então ajudamos, mas percebemos que o nosso lugar era naquela adrenalina, que era aquilo que queríamos, não ficar em uma empresa, por fim fomos obrigados a fazer um tratado de paz, hoje dividimos território italiano, eu domino o território Frances e eles o território Polonês, as vezes nos ajudamos e é assim que convivemos, eu sei que você não foi criada normalmente, sei que isso foi diferente pra você. Eu ainda estudei em colégios normais e até tive uma vida normal, nós, DAvanzzo, temos o costume de fazer tudo pela família e farei tudo para que o seu pai não faça mais nada com você, nem ele e nem Kaled. – Ele aperta as minhas mãos, e a essa altura eu já chorava, um pouco.

- Eu matei a minha mãe no meu aniversário de 18 anos, consegui sair do Brasil faltando uma semana para completar 19, era uma das melhores assassinas da equipe do meu pai, mas consegui uma maneira de fazê-lo se afastar de mim, nunca matei inocentes, meu pai me deixou manter essa integridade. Enquanto ele traficava órgãos, eu era uma assassina de aluguel, no Brasil não se usa muito, mas no total, matei 15 pessoas – Disse tirando a minha mão do aperto – comecei aos 16, as vezes sinto falta das facas, entendo o papo de adrenalina, mas sempre me lembro da minha mãe, então prefiro não tentar nada como entrar para a polícia, ou para outra máfia.

Entre Tiros E HarmoniaOnde histórias criam vida. Descubra agora