Capítulo 4

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Soraia

Trabalhar para Vincent era como um teste para mim, já haviam se passado três semanas e pareciam uma eternidade, era admirável a maneira que ele apreciava as minhas composições e como ele queria e exigia que eu as tocasse. A maioria das vezes, eu me via sorrindo tudo o que não sorri a minha vida inteira, mas havia algo que me intrigava, ele era misterioso, parecia ter uma vida aberta, mas não tinha e isso abria um leque de possibilidades na minha cabeça.

Na quarta-feira, ele me deixou esperando por mais tempo na sala da casa dele, e foi quando eu conheci Sophie, a filha dele. Uma menininha encantadora, de seis anos, que dançava ballet, seus cabelos são castanhos, assim como os do pai, tinha um corpinho gordinho, rosto bochechudo e corado que esbanjava um olhar de diversão e felicidade, uma coisa que de cara me fez sorrir. Ela falava bastante, adorava comer e brincar com Morgana, a governanta que ela chamava de vó. E a partir daí eu questionei, onde está a família de Sophie?

Era sábado, e eu não trabalharia hoje, decidi descansar meus dedos e pesquisar sobre eles. Uma das primeiras matérias, contava sobre a vida de Vincent e como a Dall-Tec cresceu em anos, uma empresa que iniciou desenvolvendo sistemas, e terminou lançando os melhores modelos europeus de celular. Fui obrigada a entrar em sites de fofocas, e descobrir que Sophie pode ser filha de uma modelo assassinada a cinco anos ou de uma prostituta Espanhola, que também morrera assassinada. Em fotos, eram poucas as de Sophie atualmente, a maioria delas ela era bem novinha e com o pai por perto. Alguns sites abordavam o fato de Vincent ser italiano, outros abordavam o legado criminoso de sua família, onde ele simplesmente se desligou após perder os pais em um ataque de grupos rivais, acho que somos parecidos nessa parte.

Em poucos instantes me vejo lembrando de minha mãe, ela deve estar em um lugar bom, tocando para todos os anjos ouvirem antes de dormir, assim como fazia comigo. Vivo por ela, e talvez um dia eu vingue o seu assassinato, apenas sendo feliz.

Vincent

- Aos sábados nós usamos amarelo, papai – Escuto Sophie reprovar minha bermuda verde e blusa branca – Estou desocupada com o senhor – Dou risada da pequena sapeca que comia, provavelmente, seu terceiro Browne

- Se diz decepcionada, Sophie – Morgana a corrige e me dá um beijo de bom dia – Preciso ir ao mercado, será que você pode ficar com ela?

- Morgana, ela é minha filha – A mais velha assente e se senta para comer conosco.

E assim se passa meu sábado, eu brincando de todas as coisas mais interativas para gastar as energias de Sophie, até pararmos exaustos na sala de TV com um desenho animado passando.

- Papai, eu gostei da Sô – Ela diz e me encara – Nós podemos ficar com ela? Ela pode dormir no meu quarto – Dou risada com tanta ingenuidade.

- Ela não é um bichinho de estimação, Sophie. E ela vai ficar conosco até o dia que ela quiser – Digo fazendo carinho em sua cabeça.

- Será que se eu chamar ela para brincar, ela vem? – Dou de ombros e vejo Sophie voltar a ver seu desenho.

A verdade é que eu também a queria por perto, e em menos de um mês, não era só a música dela que mexia comigo, ela inteira mexia comigo. O jeito doce de falar, mas ainda sim impaciente com algumas coisas e imponente em outras, o fato de ser exigente consigo era fascinante, e o melhor de tudo era a sua história.

Fiz questão de pesquisar sobre ela, Soraia Furtado Soares, brasileira, filha de Mariah Furtado e Emílio Soares, criada no Rio Grande do Sul, treinada desde pequena para ser uma das melhores assassinas da Máfia Soares, como jura de lealdade foi obrigada a matar a sua própria mãe, que fora pega roubando a máfia, para com toda certeza fugir e tirar sua filha daquele lugar horrível. Com muita pesquisa, descobri que os Soares eram especializados em tráfico de órgãos e a sua mãe não teve outro destino a não ser esse, porém de acordo com um dos meus homens, Emílio ainda guarda o coração dela em algum lugar no Brasil, pois como ele mesmo disse em seu casamento seu coração, apenas pertence a mim. Soraia roubou seu pai e fugiu quando tinha dezoito anos, não fez questão de mudar seus dados quando chegou aqui, e eu preciso averiguar essa informação, mas de acordo com os meus homens, ela sabe algo de Emílio que o mantem extremamente longe dela.

Entre Tiros E HarmoniaOnde histórias criam vida. Descubra agora