Vincent
O lugar realmente estava movimentado, uma decoração clássica, baseada em dourado, vermelho e azul, as mesas separadas para cada convidado, nós estávamos sentados na companhia de empresários chineses, todos ali conversavam sobre algum tipo de evento de arrecadação, mas não conseguia prestar atenção.
- Vincent, olhe disfarçadamente para a sua direita, o homem com máscara prata e gravata dourada é Ramsés, Kaled está ao lado – Soraia sussurra em meu ouvido. E eu o faço, Ramsés era moreno, parecia ser forte, no entanto, era menor do que eu, tinha uma carranca séria e um porte duro. – Não olhe tanto. Ele é bonito, mas eu sou mais.
- Não me confunda com Arthur, minha fruta é outra – Ela sorri lindamente, e pisca.
- Eu sabia que aquele papo de nem mulheres nem homens tinha a ver com ele.
- Arthur não parece ser gay, mas é.
- Vincent, e quem parece ser gay? Todos eles, só tem uma coisa em comum, gostar de homens – Ela se mostra uma das pessoas mais desconstruídas que eu tive o privilégio de conhecer, por mais que em minha cabeça os gays são afeminados, afobados e exagerados, Soraia estava certa ao dizer aquilo.
- Ele é diferente, quer dizer. Ele não gesticula, não fala alto, é discreto – Soraia assente com a cabeça, e se vira para mim.
- Na sua cabeça o que caracteriza um gay é o porte e não a opção sexual?
- Não, o que nos faz identificar um gay é isto. É difícil identificar um gay tão discreto como Arthur.
- Vincent, você está se ouvindo? – Ela parecia um pouco indignada, mas mantinha o tom baixo – Não é assim, está errado e você sabe disso.
- Eu sei, depois nós conversamos. Quando formos dançar, quero que fique comigo nas trocas, tenho medo de você chegar muito perto de Ramsés e ele te reconhecer.
- Ele o fara, mas terá duvidas, por isso eu prefiro continuar sentada – Ela se aproxima mais de mim e eu o encaro, ele era atento a tudo, parecia ter olhos de águia, mas em alguma parte de mim o meu ego gritava que eu era melhor do que ele, ao menos por ter Soraia comigo. Não que ela fosse um troféu, mas para ele, seria.
Passamos a festa inteira assim, ela ao meu lado as vezes mexendo no celular e eu atento a Manoel, a Ramsés e a todos os meus homens, eles haviam cumprido com tudo, os que eu conseguia enxergar nunca me olhavam diretamente, alguns até dançavam ao som da música animada que tocava. Quando o relógio bateu 00:55 começaram a organizar a valsa, eu sabia que era a de estilo Vienense e aquilo me agradou em muito, pois eu saberia conduzir, Soraia se levantou junto comigo e arrumou sua máscara, nos posicionamos e ao começar a música nós nos movimentamos, sentia o coração da minha namorada bater conforme a valsa, eu a via fechar os olhos e sentir cada nota daquela composição, ela sorria veemente, e respirava com calma. Seus pés acompanhando os meus, sua mão as vezes fazendo carinhos involuntários onde estava repousada, começamos a dar a volta no salão, a música aumentava a velocidade conforme íamos chegando ao lado dos seguranças de Kaled, todos parados em pé, seguindo o chefe com o olhar.
- Vincent, quando passarmos por Ramsés não me deixe virada para a direção dele – Soraia pede e eu assinto, sabendo os motivos.
Conhecia Soraia a mais ou menos 1 mês e meio, e a namorava a menos de uma semana, e mesmo assim já havia decorado até seu cheiro, imagino a uma pessoa que viveu com ela durante anos. Aperto sua cintura quando chegamos no ângulo de visão de Ramsés, a viro para o outro lado em uma volta da música e quando passamos por ele consigo o impedir de enxerga-la, eu realmente era muito mais alto do que ele, consegui uma boa visão de seus cabelos negros e cacheados de cima. Aos poucos a valsa foi terminando, e quando realmente acabou já estávamos na mesma direção onde havíamos começado, bem longe deles.
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Entre Tiros E Harmonia
RomansaSe apaixonou pela melodia que ouviu, foi assim com Vincent e Soraia, a brasileira de cheiro doce que tocava uma melodia desconhecida no salão de um restaurante enquanto o mesmo almoçava. Os dedos da jovem dedilhavam algo íntimo, que havia composto a...