Vincent
Uma das primeiras coisas que planejei para esse sábado, era conseguir um pouco da confiança de Soraia, não sabia o motivo, mas era uma das coisas que eu fazia questão de conquistar, antes de realmente agarra-la e nunca mais soltar.
- O que quis dizer com aquele papo de princesa sem fadas e sem príncipes? – Tento jogar verde para colher maduro.
- A minha vida não foi fácil, só isso. E me vejo muito mais parecida com guerreiros, exterminadores e caçadores, do que a presa fácil deles. – Ela diz sem olhar para mim.
- Quer conversar sobre isso? – Me aproximo dela e envolvo seu corpo em um meio abraço, dado pelo meu braço direito.
- Você não entenderia – Ela diz, cedendo ao meu abraço esquisito.
- Acho que você não conhece a minha história, então vou te falar – Ela se arruma e tenta se desvencilhar, mas não deixo – Acho que você sabe do legado da minha família, vou pular tudo que você pode pesquisar – Vejo ela rir e então continuo – Das teorias que criam sobre a mãe de Sophie, a mais próxima é a da prostituta. Ela morreu no parto, Sophie sabe, mas finge não sentir falta, por isso se empolga tanto com você – Digo a verdade, ela suspira e começa a brincar com os dedos da minha mão direita, que estava pendurada no seu ombro.
- Eu entendo, quer que eu me afaste? – Ela me olha um tanto receosa.
- De jeito nenhum – Digo sorrindo, vendo ela forçar um sorriso de lado.
- Eu também perdi a minha mãe – ela mente mal, mas mente – eu não era tão nova quanto Sophie, então sinto falta dela e não de uma figura. – Ela suspira. – Às vezes eu queria voltar no passado, para mudar algumas coisas.
- Eu também – Aperto ela em meu corpo – Mas o bom da vida, é que ela nos dá a oportunidade de mudar daqui para frente.
- Não sei se consigo mudar – A esse ponto, sua cabeça já estava encostada em meu peito, e meu queixo apoiado em seus cabelos arrumados em um coque – Não sei nem como mudar.
- Você pode começar por qualquer lugar, basta começar – Ela sorri.
- Para você, as coisas parecem ser mais fáceis, você tem muita confiança – Ela diz simples. – Isso é bom, e admirável.
- Obrigado – Digo firme. – Você também tem um ar de confiança.
- Uma casca, apenas – Ela suspira. – Ficou meio bad né? Quer mudar de assunto?
- Do que você tem mais medo? – Ela treme, conforme a minha pergunta soa baixo no seu ouvido.
- De aranha – Ela mente, meu Deus ela mente muito mal – E você?
- De você – Ela se vira para me encarar, tinha uma feição confusa, e um tanto engraçada.
- Como assim? – Dou risada e aproximo meu nariz do seu, sentindo seus olhos encarar os meus de uma maneira muito profunda... Faço questão de desviar meu rosto alguns milímetros para sentir o cheiro de seu perfume doce, e logo depois voltar para encara-la.
- Você mente mal, mas continua linda – Ela treme, e antes que eu pudesse continuar a minha pequena tortura psicológica, escuto um grito agudo vindo da minha filha.
Soraia levanta tão rápido, que antes mesmo de eu entender o que estava acontecendo, vejo a mesma correr até a minha filha que chorava segurando seu bracinho enquanto algumas crianças tentavam acalma-la.
- Oi meu amor, calma, eu estou aqui – Escuto Soraia falar para a minha filha.
- Sô, meu braço está doendo – Ela estica o braço bom para Soraia, que a pega no colo e se distancia das crianças que olhavam um pouco assustadas. – Ele me empurrou – Sophie aponta para um menino Loiro, mais alto do que ela, de cabelo tigelinha e dentes faltando.
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Entre Tiros E Harmonia
RomanceSe apaixonou pela melodia que ouviu, foi assim com Vincent e Soraia, a brasileira de cheiro doce que tocava uma melodia desconhecida no salão de um restaurante enquanto o mesmo almoçava. Os dedos da jovem dedilhavam algo íntimo, que havia composto a...