Vincent
- Irei levar eles ao hospital, os outros irão para o aeroporto, mais alguma coisa? – Manoel me pergunta e eu nego com a cabeça.
Soraia parecia perdida, ela tinha tirado todas as armas que vestira, estavam jogadas em algum canto do carro que ela trouxe, parecia ter chorado, parecia vulnerável e eu percebi que não havia perdido a sensível princesa que eu fui obrigado a machucar enquanto estávamos no Cairo. Eu queria abraça-la, mas ela passou por mim como se eu não existisse, foi indo para sair da garagem do hotel e então ela realmente saiu.
- Não vá atrás dela, ela precisa ficar sozinha – Noah diz olhando para a mesma direção que eu.
- Você não a conhece, ela precisa de mim – Eu disse já deixando todas as armas com os homens que iriam transportar até o aeroporto.
- Ela parece querer paz Vincent, e você não é a melhor pessoa agora.
- Cala a boca. – Noah me olha com desprezo e então volta a sua função.
Eu os ajudo com tudo, mas fico pensando em Soraia, queria perguntar o que foi aquilo com Ramsés, mas também queria apenas pedir perdão, sabia que tudo podia mudar e não queria ser o motivo de tudo aquilo. Quando eu terminei fui até o quarto, mas ela não estava, suas roupas estavam lá e o banheiro estava com indícios de um banho recente, o celular dela ainda estava na cômoda e aquilo me incomodou, mas eu decidi tomar um banho para depois procura-la.Soraia
Eu fui para a praia, passei na pizzaria do hotel, peguei uma tamanho pequeno e fui conversar com o mar, se eu estivesse no quarto eu brigaria com Vincent, se estivesse com fome eu brigaria comigo mesma então eu decidi apenas ficar sozinha, as vezes eu gostava de pedir desculpas para mim mesma, então eu comia algo gorduroso, e fazia algo que eu gostava muito.
Não seria possível tocar piano naquela situação, então eu apenas comi algo gorduroso e fiquei quietinha, a maré estava alta, o clima estava fresco e eu conseguia ver uma nuvem de chuva chegando do horizonte, outra coisa que eu adorava era chuva e aquela eu aproveitaria assim como eu fazia quando mais nova, mordia aquela pizza de queijo como se ela fosse a última que eu comeria, meus cabelos soltos voavam com o vento, meus pés enterrados na areia fofa estavam quentinhos por conta da areia estar morna, meu vestido de verão enfeitava o meu corpo, ele era azul claro e combinava com a sapatilha branca que eu havia posto.
Pensar na vida era uma dadiva, e logo eu chorava, de saudade da minha mãe e de como nesse momento ela me daria carinho e palavras bonitas, saudade do meu pai que mesmo sendo quem é, ele me amava, saudade de mim. Quando foi que eu me perdi? Por que eu me perdi?
- Onde eu estou? – Eu perguntei ao céu, assim que a chuva começou a cair, eram gotas grossas e em pouca quantidade.
Joguei a caixa da pizza fora, e peguei minhas sapatilhas, fui até o mar e então em algum momento eu já estava dançando na chuva, uma música imaginaria que instrumentalmente deixava o mar cantar por mim, meus cabelos grudados em meu rosto assim como meu vestido grudava em meu corpo.
- Eu quero me encontrar. ME DEIXA ME ENCONTRAR – Lagrimas, essas sim eram a parte mais bonita da música que eu dançava, tão sinceras e puras, lavavam o meu rosto assim como a chuva lavava a minha pele e o mar meus pés.
Eu, apenas eu, meu coração batia rápido, mas tudo pareceu melhorar quando dois braços me envolveram. Cheirava a perigo, mas meu coração insistia a falar que era bom, que era alívio, meu corpo se moldando a cada parte do tronco dele, minhas mãos apertando sua camiseta e minhas lagrimas se misturando a chuva que nela molhava.
- Eu posso ser seu GPS – Ele diz, parecia afetado – Eu posso ser seu caminho, posso ser seu transporte, só não me deixe de fora quando você se encontrar, porque eu te encontrei e não quero nunca mais te soltar – Vincent me aperta mais, me puxa e me tira do chão, se senta e me põe por cima dele.
Eu continuei o abraçando, meu rosto em seu pescoço e meus braços envolta do mesmo, suas mãos faziam carinho em minhas costas e então eu me senti em casa, quando eu iria perceber que meu lar é uma pessoa e não um lugar?
- Você estava certo ao dizer que eu era fraca, porque eu realmente me sinto uma quando eu não estou com você. Me desculpe por aquilo, mas eu estava com medo – Eu sabia que depois disso ele me pediria desculpas, mas eu precisava me abrir – Eu sei que éramos um time, mas eu não me sentia o suficiente e nem bem para ajudar vocês, me desculpe.
- Eu te devo desculpas, você não é fraca. Você é uma Soares, olhe para mim – E eu o olhei, seu rosto estava molhado pela chuva e molhava cada vez mais – Eu falei aquilo para justamente te fazer lutar, te fazer superar o seu medo. Eu não deveria, mas eu prefiro te amparar porque você fez o que era para fazer, do que te amparar porque você se sente culpada por alguma morte em nosso lado. Soraia, você é forte, mais forte do que acha, mais forte do que parece, você é nobre, de feitos e coração honrado, nunca mais chore porque alguém te diminuiu, a minha opinião não deve interferir na sua vida, a de ninguém deve. Você é boa demais para esse mundo – Ele raspou seu nariz no meu e sorriu, aquele sorriso filho da puta.
- Iremos ficar gripados. – Eu digo quando escuto um trovão.
- Eu não ligo, você liga? – Ele deixa um beijo em meu queixo e não me deixa responder.
O beijo, aquele beijo, molhado não só pela água da chuva, mas por promessas, por carinho, era calmo e cheio de sorrisos, as mãos dele por baixo do meu vestido apenas fazendo carinho em minhas pernas e as minhas mãos fazendo carinho em sua nuca. Eu não o amava ainda, pelo menos achava que não, mas só o que sentia já parecia o suficiente.
...
- Você quer começar de novo? – Vincent me pergunta enquanto se deita na cama, ele me puxa para deitar em cima de seu peito e inicia um carinho em meus cabelos.
- Começar o que de novo?
- O namoro. – Ele suspira fundo – Eu, pela primeira vez, me sinto inseguro sobre alguma coisa. Nós parecemos desandados, eu sei que te assusto as vezes, mas você também me assusta. – Dou risada e começo a brincar com os pelos do seu peito.
- Mas o bom de um relacionamento é se conhecer, quer dizer. Pensa que chato que seria se você soubesse tudo o que eu penso?
- Não seria chato, eu até estaria mais tranquilo – Ele se afasta um pouco e eu subo meu rosto para encarar o seu.
- Vincent, já conversamos sobre isso. Eu também, as vezes, nem sei o que estamos fazendo – Sou sincera com ele – Mas não importa, eu sempre me sinto muito bem com você, mesmo sendo exigente, mandão, grosso, controlador – Eu arrumo meus cabelos os jogando para trás – Eu gosto da sensação de poder confiar em você, gosto da maneira como você cuida de mim e sempre me surpreende, tanto em atitudes, quanto com palavras.
- Você nunca idealizou um namoro? Quer dizer, meninas fazem isso na adolescência – Ele pergunta se sentando na cama e colocando minha cabeça apoiada em sua perna.
- Não, eu nem sei quando foi que comecei a gostar de você – Sou sincera com ele – Eu percebi que é legal me permitir viver as coisas que eu quero.
- Mas não criou nenhuma expectativa?
- Vincent, por que eu criaria alguma? Eu namoro você, não o Superman.
- Eu posso ser o Superman – Ele me vira e se posiciona por cima de mim de uma maneira rápida. – O Superman te agrada? – Seu corpo mais uma vez no meio das minhas pernas e as suas mãos sustentando seu corpo e cercando o meu.
- Não Vincent, você já me agrada – Subo minhas mãos para o seu rosto e deposito um beijo curto.
- Você também me agrada, até mais do que o necessário – Ele desse seu rosto para mais próximo ao meu, raspa seus lábios nos meus e eu fecho meus olhos, a sensação era muito acolhedora, tê-lo por perto era muito aconchegante – Então nós continuaremos assim?
- Sim, desse jeitinho. Não tem nada de errado, o seu temperamento é forte, mas não doentio. – Ele ri e então junta os nossos lábios de uma maneira sutil.
Era como estar nas nuvens, ou beija-las, a língua era suave e ultimamente esbanjava uma sensualidade tão mínima que chegava a torturar, era de movimentos agudos, e algumas mordidas eram dadas em meu lábio inferior apenas para alertar de que o verdadeiro Vincent estava ali, pronto.
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Entre Tiros E Harmonia
RomanceSe apaixonou pela melodia que ouviu, foi assim com Vincent e Soraia, a brasileira de cheiro doce que tocava uma melodia desconhecida no salão de um restaurante enquanto o mesmo almoçava. Os dedos da jovem dedilhavam algo íntimo, que havia composto a...