Vincent
Estava sentado em uma cadeira confortável, apreciava um vinho qualquer francês que haviam me oferecido, enquanto esperava um dos meus fornecedores chegar, eu sabia muito bem que me encontrar em um restaurante era perigoso, mas precisava almoçar e nunca havia visto o rosto do meu mais novo sócio, então até que valia muito a pena estar naquele lugar, o estabelecimento era bonito, com uma fachada envidraçada e muitas plantas enfeitando o lado de fora, dando um toque tropical, o chão de taco e as mesas acompanhando o rustico, meu terno engomado não me deixava ornado com o ambiente, porém ainda sentado, sentia olhares curiosos em cima de mim, sabia que vinham da maior parte de mulheres das mesas ao lado, ou das funcionárias do restaurante, aumentando o meu ego, não que eu precisasse, mas me dava certa confiança e autoridade.
Já estava me servindo de outra taça de vinho, quando ouço passos apressados em direção a um palco ainda não notado por mim, ele era redondo e enfeitava o meio do salão levando um lindo piano de calda branco por cima, os passos provinham de um caminhar impaciente de uma mulher negra de cabelos longos e encaracolados, parecia ser alta, mas com certeza seus saltos estavam ajudando suas pernas torneadas parecerem tão atrativas, sua cintura era fina e ela vestia um vestido preto de tecido leve com um cinto dourado enfeitando.
- Sinto muito pelo atraso Sra. Fontaine - Ela diz em um francês perfeito enquanto se senta na banqueta do piano e se arruma para abri-lo, sua voz era doce para uma mulher de andar tão prepotente.
- Oh menina, não sei o que faço contigo - A senhora baixa e ruiva diz enquanto arrumava os cabelos da mais nova - Aqui temos alguns pedidos, por favor, não toque nada autoral hoje. - A senhora desce do palco e então a mulher começa a tocar uma melodia ainda desconhecida por mim.
Logo minha atenção é tirada pelo meu novo sócio que ao se sentar faz um ruído tosco com a cadeira, ele era aparentemente mais velho do que eu, esbanjava um corpo malcuidado e um terno caro, porém desalinhado, um relógio extremamente grande enfeitava seu braço e uma respiração alta saia de seu nariz, ele provavelmente era sedentário, sua cabeça era calva, mas havia muito pelos em suas mãos.
- Sr. Agostine, certo? - Pergunto ao mais velho.
- Sim. Sr. DAvanzzo, certo? - Apenas assinto com a cabeça enquanto dou sinal a um garçom, para pedir a minha comida.
- O senhor já pode começar a fazer a sua proposta - digo enquanto olho o meu relógio.
- Ah claro. Minha proposta são drogas, sei que o senhor não trabalha com elas ainda, mas com a nossa parceria a sua fortuna aumentaria. Drogas são fáceis de vender, são valorizadas no mercado, as suas armas também então sei que o lucro viria para ambos os lados - Estou perplexo com a audácia deste miserável, de ter marcado uma reunião para apenas me vender drogas.
Espero o garçom chegar a minha mesa, peço a recomendação do chefe e encho mais uma vez a minha taça, tento apreciar o ambiente e até me perco na melodia de uma música brasileira que a pianista toca perfeitamente em seu piano apenas para me acalmar, a melodia é de garota de Ipanema e até dou risada ao imaginar a pianista como a garota tão almejada na música, respiro fundo e bebo um curto gole da minha taça.
- O senhor sabe o que eu desenvolvi? - Pergunto desafiando a cópia barata de Rafael Quintero sentado à minha frente.
- Bombas, apenas bombas - Dou uma risada debochada, assustando o homem, me aproximo dele segurando seus pulsos sobre a mesa. - Disse alguma piada?
- Apenas algumas bombas, Sr. Agostine? - Ele nega com a cabeça tentando se soltar. - Eu sou a porra do maior traficante de armas e bombas desse continente, eu desenvolvi muito mais do que simples bombas, enquanto o senhor apenas planta miseráveis alucinógenos. Espero que nos próximos minutos o senhor passe pelas portas de saída e nunca mais me procure para oferecer drogas, estamos entendidos? - Ele assente com um olhar assustado, e quando solto seus pulsos ele levanta correndo e se vai levando seu odor de perfume barato, deveria ser um crime cheirar mal em plena França, país do perfume.
Logo a minha comida chega, inicio o meu almoço ao som de melodias brasileiras que a pianista tocava calmamente no piano, quando já estava saboreando minha sobremesa sou capaz de escutar algo diferente, de começo fúnebre e um tanto baixo, a dinâmica colocada na música desconhecida era de se invejar, e em 33 anos da minha vida meu coração nunca batera tão forte quanto estava batendo naquele momento, quando achava que enfartaria a melodia se acalmava e as notas entravam em perfeita dança ainda sensual, as mãos da pianista pulavam conforme os estacatos chamavam o fim da música e antes mesmo de eu poder almejar a última harmonia o restaurante começa a aplaudir a moça.
Vejo seu rosto corar e seus olhos lacrimejarem, ela os fecha e os seca antes mesmo de levantar da banqueta, no canto do salão está a gerente que havia chamado a sua atenção mais cedo, e a pianista apenas agradece aos convidados descendo do palco logo em seguida. Seu caminhar ainda prepotente a leva para os fundos do salão, sumindo junto com a gerente para os fundos do restaurante, consigo observar melhor os traços do seu corpo, as curvas, o brilho e faço questão de memorizar cada movimento que ela reproduz, não sei o motivo, mas tenho essa necessidade.
- Precisa de algo a mais? - O garçom chama a minha atenção.
- Sim. Do número daquela pianista - Ele sorri e coça a sua nuca com a minha falta de vergonha na cara.
- Claro. Eu não tenho permissão para te entregar o número, mas posso pedir para ela vir falar com o Senhor, o que acha? - Apenas assinto com a cabeça e faço um aceno com a mão para ele ir rápido.
Alguns minutos se passam, e então vejo a mulher vir em direção a minha mesa, ainda com seu olhar e andar prepotente, ela parecia ainda mais linda quando seu foco era eu.
- Com licença, o Senhor quer falar comigo? - Sua voz era doce, como a sua maneira de tocar.
- Sim. Me chamo Vincent, eu gostei muito da sua maneira e gostaria que você tocasse para mim - Ela me olha um tanto desconfiada.
- Alguma festa, reunião ou confraternização?
- Não. Simplesmente, tocar para mim. - Ela esta confusa e é notável. - Marcamos alguns horários na semana e você vai em minha casa tocar pra mim.
- Há alguma exigência? Eu trabalho aqui todas as quartas-feiras e sextas-feiras em horário de almoço.
- Seria a noite, e acho que não será mais necessário seu trabalho aqui.
- Eu tenho estima por esse lugar, não abro mão daqui - Ela diz com propriedade.
- Veremos - Vejo seu semblante de insultada, mas com toda a sua educação, ela levanta e joga um cartão na mesa, onde tinha seus contatos, seu nome era Soraia.
- Não exija muito Sr. Vincent, eu não preciso do senhor - Ela diz de costas pra mim, indo com seu rebolar de volta para a porta de saída. Garota intrigante, nova e cheia de vida, estou estranho.
....
Gente, é... Boa noite, esse foi o primeiro capitulo. Eu ainda não sei como reagir com vocês e acredito que vou soltar ao menos 5 capítulos essa noite, acho que para chamar publico mesmo.
Bom, obrigada desde já...
Aliás, eu sou pianista. ;)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Entre Tiros E Harmonia
RomanceSe apaixonou pela melodia que ouviu, foi assim com Vincent e Soraia, a brasileira de cheiro doce que tocava uma melodia desconhecida no salão de um restaurante enquanto o mesmo almoçava. Os dedos da jovem dedilhavam algo íntimo, que havia composto a...