Vincent
Soraia e Laura foram até o closet, eu aproveitei o ensejo e deixei Sophie deitada em sua cama, Manoel me seguia, mas não falava nada...
- Morgana falou que deixou uma encomenda no escritório... – Manoel murmura e fecha a porta do quarto de Sophie.
- Vamos lá. Aproveita e bebe alguma coisa, você está muito nervoso... – Manoel bufa, mas não me responde... Acho que ele realmente está de saco cheio de tudo, eu só não quero ser o motivo de seu maior nervosismo.
O meu escritório estava do jeito que eu havia deixado, mas infelizmente uma caixa vermelha estava me perseguindo, dessa vez não havia laço e estava em cima da minha mesa. Que inferno.
- Abre logo... – Manoel fala enquanto pega um pouco de whisky e se serve. – Acho injusto você não contar para a Soraia.
- Minha esposa está gravida, o que eu falo?
- A verdade... – Que raiva dele.
- Para você é fácil... Laura não está gravida, você não precisa pisar em ovos com os sentimentos dela.
- Vincent, não é porque minha namorada está gravida que eu vou trata-la diferente, eu respeito a Laura. Então, gravida ou não, eu contaria para ela... Porque respeito a confiança que temos um no outro.
- RESPEITA O ESCAMBAU – Manoel se assusta com a minha gritaria, mas eu não paro. – DEMOROU UMA ETERNIDADE PARA CONTAR A VERDADE SOBRE A GENTE. SEU HIPÓCRITA DO CARALHO.
- Não grite comigo... – Manoel parecia magoado – Eu demorei, e me arrependo. Mas hoje eu conquistei algo muito forte com ela, e não é jogando na minha cara os meus erros, que você vai resolver os seus problemas com Soraia.
- Por que eu ainda te escuto? Você não sabe nada de família... – Olho para aquela caixa e penso em como jogá-la fora sem Soraia ver...
- Eu não sei nada? Até alguns meses atrás, EU era a sua família. Eu, Sophie e Morgana... Pode parar – Ele me olha magoado, acho que não estamos fazendo muito bem um para o outro.
- O que eu faço? – Perguntar parecia tão mais fácil.
- Não esconda dela. Olha... Eu pretendo me casar com a Laura, os Miller virão ao nosso casamento porque é a família dela... Eu não terei o direito de jogar o presente deles no lixo. – Manoel suspira e coloca o copo vazio em cima da mesa.
- Já falei... É fácil para você... – Manoel parece ficar chateado, mas pensa muito antes de me responder.
- Eu consigo te entender... O cara que prejudicou a pessoa que você ama, está simplesmente agindo como se nada estivesse acontecendo... Eu te entendo porque foi assim com os Miller. Eles acabaram com a vida da Laura, todos os traumas, o passado ruim, são culpa deles... Mas eu tive que aceitar, Vincent....
- A Laura não precisou matar a mãe.
- A Soraia não precisou trabalhar a infância inteira para não ser estuprada. – Parecemos duas crianças brigando.
- A sua namorada mal sabe manusear uma arma... Cala a boca.
- Isso não é verdade, Laura me salvou, muito diferente de você... E aliás, não é porque a Soraia sabe que ela se tornaria melhor que a Laura... Pelo amor de Deus, as duas não devem ser comparadas e a conversa não é essa.
- Vou jogar isso fora...
- Você não tem esse direito, Vincent – Antes que eu conseguisse chegar perto da caixa, lá estava o Manoel em minha frente, com cara de suplica e muito dolorido, parecendo uma mariquinha.
- Sai da minha frente... – Sinto raiva, ele é meu melhor amigo, meu irmão, ele precisa me apoiar.
- Não... – Manoel me empurra de leve e então logo eu já estava em cima dele...
Não consigo explicar, mas eu estava tentando socar a cara do meu melhor amigo enquanto ele tentava segurar o meu pulso. Manoel caiu no chão igual merda e logo estávamos ambos batendo um no outro. Quando Soraia abre a porta do escritório, a dor vem mais na dignidade do que no rosto. Laura parecia chocada e ela corre até nós dois, Manoel se solta de mim e ela abaixa para ajuda-lo a levantar... Já a minha mulher... Essa encarava a caixa vermelha, e sem pestanejar foi até ela. É... Não valeu de nada tentar esconder dela.
Soraia
Laura se sentou no sofá junto com Manoel, ela parecia muito assustada, mas eu estava pouco me fodendo com o meu esposo supostamente machucado. Eu queria saber sobre aquela caixa, e foi ela o meu rumo...
Meu coração batia rápido e forte, mas nada me fazia parar, minhas mãos tremiam e conforme eu tirava a tampa vermelha eu respirava mais forte, espero que meu bebê fique bem, porque eu sou ciente de que eu não ficarei bem... Dentro da caixa havia um bloco preto de metal, estava gelado e tinha um cadeado em seu fecho, eu o tiro de dentro da caixa e consigo sentir o peso...
- Deixa que eu te ajudo – Vincent tenta pegar, mas um sentimento de cuidado e posse não me permite soltar aquilo.
Coloco em cima da mesa e então eu percebo que a lateral é revestida tanto pelo metal quanto por uma reforçada tela de vidro, deixando eu ver por dentro. Respiro fundo e então olho para o vidro, e como se exposto em uma vitrine lá estava o coração da minha mãe, boiando dentro de algum liquido espeço, parecia frágil, pequeno, e aquilo realmente me deixou muito sensível...
- Olha, ruiva... – Laura segurou a minha mão com bastante força, igual ao apoio que me deu para ler a carta – O coração da minha mãe... – Eu já estava chorando, mas acho que era de alivio e felicidade...
- É lindo... – Laura parecia chorar também, e ficamos ali... Como duas bobas olhando para o órgão em conserva que eu ganhei de presente de casamento...
É pai... O senhor sempre foi o meu herói, agora minha alma te dá esse título independente do nosso passado. Porque o senhor realmente a salvou.
[...]
Uma semana havia se passado, Vincent tentava se comunicar com Manoel com muita frequência, mas o loiro não estava muito aberto a conversar por agora... Laura havia me dito que eles estavam bem, mas que ele estava muito chateado com o que havia acontecido, e ela realmente não sabia o que se passava na cabeça dele. Em compensação, ela ainda se mantinha minha amiga, e eu achava isso a coisa mais preciosa do mundo... Eu e Vincent decidimos não viajar em lua de mel, então eu decidi tocar o projeto da minha escola e seguir com as nossas vidas... Sabemos que logo teríamos alguma bomba para resolver, mas por agora? Por agora só vamos continuar vivendo...
- O que você acha desse violão? – Laura aparece segurando um violão fosco e de madeira escura. – Olha, podemos colocar cordas de aço nele, e então ele seria um violão lindo para a professora ensinar...
- Aah agora eu entendi... É um violão para você – Ela sorriu e deixou o instrumento no suporte. – Eu gostei mesmo foi desse piano.
- Sua cara... Enorme e de calda, detalhes em dourado – A ruiva suspira e passa a mão na lateral – Brilhoso, envernizado... Sério, eu só vejo você tocando em um piano desses. A única pessoa que eu conheço que tem culhão para tocar em algo assim, é você. – Sorrio para ela e anoto o modelo...
Será isso, eu farei A MINHA ESCOLA DE MUSICA, e não será qualquer coisa. Farei com os melhores instrumentos, melhores profissionais, com tudo muito bem bonito e arrumado.
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O Epilógo sai qualquer dia desses aí... Vlw, bjinhos. Votem e comentem
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Entre Tiros E Harmonia
RomanceSe apaixonou pela melodia que ouviu, foi assim com Vincent e Soraia, a brasileira de cheiro doce que tocava uma melodia desconhecida no salão de um restaurante enquanto o mesmo almoçava. Os dedos da jovem dedilhavam algo íntimo, que havia composto a...