A ESPERA DE UM MILAGRE 2

Capítulo 01

George Thompson

Caminhar por esses corredores já não tem o mesmo significado.

Adentrar a sala da diretoria do hospital e sentar na cadeira de líder não tem mais o mesmo sabor, a vitória tornou-se amarga como fél, pois vem carregada de atrocidades, eu as conquistei passando por cima dos sonhos da minha própria filha.

A vida é repleta de surpresas, eu possuía certezas das quais a vida fez questão de derrubar em efeito dominó.

Eu cometi erros e a vida jogou todos eles em minha cara. Ela cobrou o seu preço e eu não tenho escolha a não ser quitar minha dívida.

O destino me fez corroer em culpa e remorso, a certeza de jamais ter o perdão da minha menina me fizera fugir feito um covarde que eu sempre fui, e agora me deleito em minha própria dor,
dor esta, que eu havia causado a Fernanda, e que a vida fez questão de me retribuir a altura.

Sou tirado dos meus devaneios de auto depreciaçao quando William um dos médicos da área de emergência adentra minha sala.
Conheço bem essa atitude, e sei o que significa, alguém chegará em breve com a vida por um fio, e caberá a mim tentar salvar-lhe.

Por mais que eu treine, ensine e dedique todo o meu tempo em orientar minha equipe de cirurgiões a serem tão bem  sucedidos como eu, nunca obtive o resultado esperado, eles sempre falham, e isso me preocupa.

Mais cedo ou mais tarde precisarei de um sucessor a minha altura.
Alguém tão capaz de realizar as cirurgias mais complexas que existem, assim como eu faço hoje.
Vidas dependem disso, e a única que conheci com essa capacidade admirável foi a Fernanda, mais eu estraguei tudo.

Após me preparar para a cirurgia de emergência, sou informado que o paciente chegou, e me aguarda na sala onde ocorrerá o procedimento.

Ser médico sempre foi o meu sonho, mais para mim não bastava ser apenas um médico, eu precisava ser o melhor.
O que esses jovens de de hoje não sabem é que para chegar aos meus pés, é necessário estudar muito e todos os dias, um bom médico nunca para de buscar conhecimento.

Eu não comprei minha carreira e meu reconhecimento com o dinheiro do meu pai. Posso falar com orgulho que os conquistei por mérito próprio.

Ensinei a Fernanda tudo o que sabia, mais usei as técnicas erradas de opressão, castigo e tortura psicológica.  Em minha cabeça, eu queria que ela fosse a melhor, assim como eu, e no final todos diria que ela herdou isso de mim. Nunca levantaria a suspeita da certeza que somente eu carregava. Há como eu estava enganado! O único que não enxergava a verdade sempre fui eu.

Minha doce menina tinha muito de mim, não somente o talento para a medicina.
Sempre soube que se dedicava ao máximo para conquistar meu afeto, sempre enxerguei em seus olhos a busca pela minha aprovação, pelo meu amor, amor este que sempre lhe neguei.

___ Senhor! A paciente se encontra a sua espera. Ela não resistirá muito tempo mais.

___ Certo. Vamos de uma vez!
(Digo tomando a frente, e após colocar a roupa adequada para a cirurgia, higienizo minhas mãos e com as costas abro a porta e entro no local.
Toda a equipe me sauda com um aceno de cabeça em que correspondo.
Porém antes que me aproxime da mesa, uma enfermeira adentra nos informando que a paciente será transferida para um hospital público, já que nenhum parente foi localizado para fazer o pagamento da cirurgia.

Todos sabem que jamais aceitaria fazer caridade, todos me conhecem muito bem, sabem o tipo de homem que eu sou, ou fui. Algo me mudou desde que trouxe meu neto ao mundo, meu coração de pedra por fim havia amolecido um pouco.