Capítulo 20

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Não havia nada que me fizesse compreender a atitude da Rebeca, em nenhuma circunstância eu conseguia entender o que de fato ocorreu a quatro dias atrás.

Também não posso dizer que sua atitude mudou minha vida e o fato de ainda não ter perdoado ela pelo passado.

Algo aqui dentro doeu em vê-la naquele estado, e apesar desta dor incomoda que eu senti, não fui capaz de chorar nenhuma vez. É cruel?
Sim, talvez seja, mais o fato de não saber da verdade me impede de deixar que de fato entrem em meu coração e quebrem as barreiras levantadas por dezoito anos.

Ela nunca havia me ferido com objetos cortantes antes, muito menos com a fúria que havia demonstrado ao gritar para não toca-la.

Porém sempre que me fazia algo no passado nunca me pedia desculpas, muito menos perdão. Ela era sempre muito desequilibrada, falava coisas desconexas para mim, que nada fazia sentido.

A dois dias atrás quando acordou ela me chamou, reforçou seu pedido de perdão e chorou durante os outros dias sem parar.

Tomando medicamentos para dormir constantemente ela se isolou do mundo, se trancou em seu mundo solitário e vazio, segundo as palavras de George, ela voltou a ser um "zumbi" como a mais de vinte anos atrás, onde ela havia passado por essa mesma fase de reclusão. Ele apenas não me explicou o que ocasionou a primeira crise, por tanto eu não poderia tão pouco compreender a segunda. A pergunta que eu me fazia neste momento era se ele não me contava por ser outro segredo, ou pelo fato do George nunca ter se importado em descobrir no passado, e no presente continua pouco se importando.

George Thompson

Tomar a decisão de trancar Rebeca para proteger Fernanda e meu neto Miguel, nunca me fez imaginar as consequências que sofreria. Ao encontrarmos ela jogada no banheiro banhada no próprio sangue me fez questionar o motivo para tamanho descontrole, não era a primeira vez, mais depois de vinte anos sem estes surtos, me pergunto o que teria provocado o mais recente.

Seria culpa? Arrependimento? Será que de fato não machucou a Fernanda de forma premeditada?

Recordo-me de anos atrás onde tudo deu início, eu não sei a razão pela qual o primeiro surto surgiu, poderia ser fatores aleatórios, mais tudo se deu início naquele dia.


...
Anos atrás




...
___ Precisamos planejar tudo para que não saia do controle.

___ Estou com medo que alguém descubra....

___ Se fizer como o planejado ninguém descobrirá nada. Embora eu ache melhor ser eu quem saia de casa...

___ Eu não tenho tanta fama como você e sua família George, se você sair terá no minimo três jornalistas no seu encalço e automaticamente no meu também para descobrir se nosso casamento está em crise. Homens saindo cheira a traição e traição é fofoca. Mulheres saindo soam como mais uma fútil no mundo gastando o  dinheiro do marido. Além do mais, quem fará a fertilização sou eu.

Não há argumentos que sobressaía aos fatos, ela tem razão, era necessário passar uma semana fora do país levando meu material para tratamento e com a esperança de conseguir finalmente engravidar.

Recentemente eu havia descoberto com uma das empregadas que tive cachumba na infância, isso me destruiu, as chances de me tornar estéril são grandes, mais no fundo prefiro acreditar que seja reversível, que não passe de um problema tratável.

Era nossa única alternativa, tendo em vista que nosso plano anterior foi completamente descartado por mim momentos antes de acontecer. Eu não poderia deixar minha mulher arrumar um caso qualquer e engravidar de um desconhecido para me dar herdeiros, embora ela com a pressão que a nossa família havia imposto com prazo para gerar um filho tenha nos obrigado a organizar tudo, desde o encontro a uma noite regada a sexo. A questão foi que meu ego não permitiu que o ato se cumprisse, busquei Rebeca momentos antes dela sair com o desgraçado que a tocaria.

Infringi a lei por diversas vezes para que nosso plano desse certo, mais ela estava temerosa, dizia que seríamos descobertos, que não daria certo, que as chances de engravidar de primeira eram muitos raras, e quantas vezes mais ela viajasse para tentar, mais levantaria suspeitas.

Aquilo estava me enfurecendo, era como se ela quisesse e preferisse a outra opção, transar com outro homem.

Compramos a passagem no seu verdadeiro nome, ela viajaria sozinha, mais arrumei documentos falsos para que ela fosse a clínica sem usar nosso sobrenome. Isso tornaria as chances de sermos descobertos ainda menores, eu não poderia arriscar perder tudo por causa de uma maldita doença. Se meu pai descobrisse ou suspeitasse que o infértil era eu, certamente seria deserdado e perderia tudo.

Estava tudo minimamente orquestrado, eu passei meses dedicando meu tempo e minha vida neste plano, o que eu não sabia é que a Rebeca tinha outros planos, os mesmos em que eu havia recusado.
Ela escolheu se entregar a outro homem, ela quis engravidar a moda antiga com porcentagem de sucesso ainda maiores.

Lembro-me como se fosse hoje, aquele foi o pior dia da minha vida e eu ainda nao sabia.

___ Boa viagem querida!

Dou -lhe um beijo carinhoso em sinal de despedida, entrego sua bolsa em suas mãos e a incentivo a partir.

___ Tem certeza que esta  é a melhor solução? Se descobrirem, se me reconhecerem na clínica....

___ Shiu.... Agora é tarde para arrependimentos, se não der certo, se por acaso descobrirem, seremos eu e você, em uma casa humilde, sem tantos luxos, mais ainda assim estaremos juntos.

Ela nada diz, apenas deixa algumas lágrimas caírem enquanto me beija uma última vez.

___ Eu te amo George!

Estas foram suas ultimas palavras antes de entrar no táxi.
Seriam uma semana de expectativa, mas que se tornou meu pior pesadelo.

Dois dias haviam se passado e eu não consegui entrar em contato com ela, eu estava muito preocupado e aflito, após quarenta e oito horas sem informações eu liguei na companhia aérea, foi lá que meu mundo ruiu.

___ Sinto informar senhor Thompson, mais sua esposa nunca embarcou no avião.

Mil coisas começaram a passar pela minha cabeça, aquilo estava me matando, onde Rebeca estava? Havia acontecido algo? Ela estava bem?

Eu não poderia ir a polícia, mais também não poderia ficar de braços cruzados. Então contratei um investigador, caso ela precisasse de ajuda ele descobriria.

Durante a investigação ele conseguiu imagens de segurança que mostravam o trajeto do táxi, ele não foi para o aeroporto, disso nós já sabíamos, o que precisávamos descobrir era para onde ele foi.

Três dias se passaram quando eu recebi as fotos que decretaria o fim do meu casamento.

Na imagem a minha frente estava Rebeca aos beijos com um homem, esta foi a foto que o investigador conseguiu. Eu não quis saber como, nem mesmo onde, eu apenas amassei a foto, peguei a carteira e paguei caro pelo trabalho e o silêncio do mesmo.

Ela havia feito sua escolha e eu estava amarrado as consequências, jamais poderia expor tamanha humilhação, ou eu perderia mais do que já havia perdido naquela noite.

A ESPERA DE UM MILAGRE 2Onde histórias criam vida. Descubra agora