Capítulo 03

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George Thompson

Um sonho.....
Um maldito sonho que mais pareceu real do que a cena de agora, onde me encontro diante do espelho jogando água em meu rosto pálido devido ao susto de ver minha filha morta.

Era um sonho, mais foi tão real.....

A culpa inesplicavel que sinto no meu peito também me parece real. Como se a minha filha precisasse de mim e eu me recusasse a ajudá-la.

Parece loucura mais é como se o sonho me dissesse que minhas atitudes egoístas estão matando a Fernanda.

___ Droga! Que porra de homem você se tornou George? (Questiono o meu reflexo no espelho exasperado, tentando anular em meu ser a sensação de estar falhando com minha filha.)
___ Deu para ser um merda supersticioso agora? Você é o homem da ciência, não é de crenças e superstições infundadas.

Caminho pelo meu quarto em busca de calma e racionalidade. A saudade dela e do meu neto estão afetando o meu juízo. Nada faz sentido, a não ser a culpa me corroendo a sensatez, isso explica bastante a razão por sonhar com a Fernanda.
Sim, é isso.
Eu quase a vi morrer em meus braços quando deu a luz ao meu neto. Logo em seguida descobri que ela é a minha filha biológica e como um covarde, fugi, por isso estou tendo esses sonhos estranhos com ela. É culpa pelo passado.

Sigo em direção ao escritório, não conseguirei dormir novamente, por essa razão vou pesquisar a fim de aprender mais sobre o cérebro humano e adquirir  conhecimento para aperfeiçoar meu trabalho.

Os tumores cerebrais são minha especialidade, já salvei mais vidas do que as perdi, para ser bem realista, foram poucos os que não resistiram. Eu estudei bastante, ousei mais ainda tomando rumos que nenhum outro havia tomado, e que até hoje não ousam se arriscarem por medo do fracasso.
E foi assim que eu consegui, nome, prestígio, fama e dinheiro.
Muito dinheiro!
Não faço caridade, nunca operei um paciente por generosidade, sempre foi por dinheiro.
Quem puder pagar bem,
E quem não puder tanto faz.
Sempre pensei assim, e agi da mesma maneira, até agora....

O fato é que este sonho me recordou de uma mulher humilde, que se ajoelhou diante dos meus pés e implorou por minha caridade.
A Fernanda me implorou mais ainda, eu vi que minha filha se compadeceu do sofrimento daquela senhora, mais eu não.

Não me vi comovido com as lágrimas daquela estranha, nem mesmo com as da Fernanda, e assim eu me recusei a salvar uma vida. Não porque aquilo me faria menos milionário, pelo contrário, eu tinha dinheiro para operar gratuitamente qualquer pessoa pelo resto da minha vida. Mais eu não o queria, até aquele momento, onde um sonho me fez refletir pela primeira vez na vida sobre meu orgulho e soberba.

Aquela mulher era filha de alguém.
Ter esse momento de sentimentalismo me fez lamentar pela primeira vez, por ser um homem frio e calculista.

___ Ah minha filha, o que foi que a vida fez comigo?
Como pôde o destino me dar tamanha rasteira?
Subi tão alto no meu pedestal, que me esqueci de calcular o quão grande poderia ser a queda!

Me sirvo de whisky, e relembro dos seus olhos quase sem vidas me chamando de "Pai", ali ela derrubou todas as minhas estruturas, meu neto em meus braços, minha menina diante de mim desfalecendo

Procuro no site e nas redes sociais da família Collins, algo sobre minha filha, ultimamente este é o único meio pelo qual tenho notícias dela.

E quando vejo sua foto estampada nas mídias meu coração se enche de orgulho!
Este evento foi logo pela manhã, onde ela discursava sobre câncer e a importância de sua prevenção.

Não leio toda a matéria, pois tudo o que me importa neste momento, é poder olhar para minha filha, mesmo que seja somente através de uma foto!


Fernanda On

___ Os jornais não para de noticiar "A doença da senhora Collins"!
(Ricardo diz revoltado, e eu não tenho muito o que dizer, agi por impulso, falei mais do que deveria, agora estou colhendo os frutos!)

___ Me desculpe, eu não pensei nas consequências....
Eu... Eu só......

___ Ei, não é sua culpa, eu só não consigo compreender a frieza desses abutres ao falar de algo tão sério!
Eu sei que para ter feito o que fez, é porque foi importante para você naquele momento!

___ Obrigada por compreender e principalmente por não me criticar!

___ Sabe que eu sempre vou te apoiar em tudo! É isso que as famílias fazem Fernanda!
Eu te amo, e por amor a você, eu preciso ser sincero!

(Presto atenção em sua fisionomia, seu jeito único de ser carinhoso e cuidadoso mesmo querendo abordar um tema delicado para mim. Eu sei o que ele quer dizer, apenas não sei se estou preparada para isso.)

___ Ricardo eu não sei se estou preparada... (Digo fugindo do seu olhar expressivo. Não quero ser fraca diante dele, mais também não posso dar um passo maior que minhas pernas!)

___ Amor! Olha para mim! (Assim eu faço, e ali eu encontro algo inexplicável, eu encontro força. O Ricardo sempre será o Homem que permanecerá ao meu lado em todos os momentos, ele é a minha força quando traquejo.)
___ Você é a mulher mais forte que eu já conheci em toda a minha vida, você é guerreira e tem um filho lindo, e eu sei que nada neste mundo te atinge mais do que o medo de perde-lo.


___ Perde-los! Porque só posso me sentir completa com os dois em minha vida. Não tenho medo de perder só o meu filho, tenho medo de perder você também. Vocês são minha família.


Ricardo me abraça forte, em seus braços sinto uma mistura de conforto e medo, medo de perder tudo o que eu sempre sonhei durante toda minha vida, e que eu posso perder em um piscar de olhos.


___ Eu sei que não vai ser fácil, mais seu coração precisa disso, você precisa enfrentar seu passado para ter paz!
Eu quero te ver vem, sem este peso em seu coração, faça isso por você! Faça por nós!


Em silêncio deixo minhas lágrimas caírem. A incerteza do que virá se eu remexer em algo que tanto me feriu assombra minha mente.
O medo da rejeição, do desprezo e das lembranças me trazem pânico.
E ao mesmo tempo eu sinto que preciso de respostas, tentar entender o motivo para terem destruído tanto minha vida.
O único problema é que mais do que eu precisava de respostas, eu precisava de amor, eu só queria me jogar nos braços dos meus pais e chorar toda a dor que eles mesmos me causaram, e depois lamentar a minha falta de sorte, conseguir ter minha própria família para perde-la para o meu próprio destino.

No final, eu ainda estava aqui, procurando a aceitação e principalmente o amor da minha família. Eu nunca deixei de ser aquela menina que em silêncio pedia a Deus um milagre.
Eu ainda esperava que um dia me amassem.

A ESPERA DE UM MILAGRE 2Onde histórias criam vida. Descubra agora