Capítulo 16

1.4K 124 18
                                    

Fernanda on

Ao acordar pude constatar algumas coisa em relação ao sonho que tive, a primeira é que de fato estou protegida, os cinco seguranças na porta do meu quarto não me permitem esquecer deste fato.

Muitos devem estar se perguntando neste momento seu eu protestei, recusei ou se me comportei como uma menininha mimada como nos livros que li, geralmente elas xingam, brigam e fazem bico quando são obrigadas a sederem em algo que limite seus passos.

O problema aqui se trata das razões pelas quais me obrigam a ser adulta, a primeira pelo fato da minha vida não ser um livro, por tanto não se trata de um roteiro com finais felizes, nunca foi.
A segunda e não menos importante se dá ao fato de nunca ter sido mimada, não me dando a oportunidade de bancar a frustrada ou garota rebelde. Sendo assim, me resta apenas a alternativa de aceitar os fatos como eles são, eu preciso de proteção e não serei hipócrita ao ponto de recusar.

" O orgulho e o medo são os piores inimigos que o ser humano carrega em seu coração."

Ok, confesso que esta frase predomina meus pensamentos, e me pergunto se ela veio apenas para que eu saiba que estou cometendo a maior burrada da minha vida ao me recusar compartilhar com os meus pais sobre meu estado de saúde, tendo em vista que somente meu pai poderia me operar. De fato o orgulho e o medo me impedem de demonstrar tal ato de vulnerabilidade a eles,
Mais como poderia ser diferente?
Vivi o inferno ao lado deles, fui torturada física e psicológicamente, maltratada de todas as formas possíveis e quase abusada sexualmentecom a permissão de ambos, se ao menos eu soubesse os motivos que os fizeram mudar comigo, eu poderia decidir se confio ou não na minha família, o que é difícil no momento infelizmente eu diria impossível seria confiar cegamente depois de tudo.

"Você está protegida, mais tem um coração lindo, e eles usarão isso para te destruir"

"Eles", mais eles quem?
Meus pais?
Não posso ignorar o fato destas palavras ter sido anunciadas no plural.

Seria essas advertências relacionadas a minha família ou a Felipo?

Se bem que Felipo não se encaixa ao plural da frase....


___ Por Deus estou ficando louca!


___ Por quê diz isso?

Meu coração puxa no peito, com certeza se eu não morrer agora de susto não morro mais.

Rebeca me encara especulativa e eu a encaro abobalhada. O que direi a ela agora?

___ Pelo amor de Deus, não faz isso de novo!

Coloco as mãos sobre meu peito sentindo minhas pernas fraquejarem após o susto, no momento acredito que até minha própria sombra deva me anunciar sua presença.

___ Me desculpe filha, não foi minha intenção assusta-la.

Um pouco mais aliviada sento-me na cama e decidida a conseguir alguma informação da qual me dê um norte em tudo isso, analiso Rebeca antes de prosseguir com meu intuito.

___ Quando vão me contar o motivo ao qual mudaram tanto comigo.

Já avisei a vocês que sutileza não é uma quantidade em que eu possua?

Recrimino-me mentalmente ao ver os olhos esbugalhados dela para mim, seus lábios abrindo e fechando de forma repetitiva demonstram sua surpresa, e a unica certeza que tenho neste momento é que agora é tarde para arrependimentos, não adianta nada querer ser sutil de agora em diante.

___ Você prometeu que respeitará o prazo que te pedimos Fernanda. Você precisa entender que não estamos prontos para dizer a verdade...

___ Mais eu estou pronta para ouvir...

___ Não é o momento!

___ E quando será? Quando eu estiver morta?


___ Nunca mais repita isso! Está me ouvindo Fernanda! Você está proibida de dizer isso novamente!

Ela se aproxima de mim e s3m que eu tenha tempo de assimilar sua aproximação ela me abraça forte, como se em seus braços eu estaria protegida.

E mesmo meus instintos de sobrevivência dizendo que eu não devo me afeiçoar em demasiado a estes gestos de carinho, meu coração se rende, e por mais que o medo e o orgulho que me impede de dizer a verdade seja grande, em seus braços me permito sentir algo que poucas vezes me foi concedido, "Amor de mãe".

Meu coração grita no peito todas as verdades em que lutei tanto para esconder, minha alma clama para que eu deixe o passado para trás e chore agora em seus braços, diga toda a amargura que preenche meu ser, despeje sobre seus ombros parte de toda carga que eu carrego.

Um dilema me domina, de um lado existe minha razão dizendo a todo instante "___ Cuidado, não confie tanto! Seja prudente, não diga a ela o que você sente, não demonstre fraqueza. Tudo isso pode ser parte de um plano, como mudariam tanto em tão pouco tempo?"

Eu sei que minha razão é a parte consciente e racional do meu cérebro tentando me proteger da decepção, do perigo e da dor, eu quero escutar a parte mais sensata de mim, embora meu coração diga a todo momento "___ Confie, conte a ela dos teus medos, diga sobre sua doença, chore, diga o quanto doi, o quanto você sofre, compartilhe com ela suas angústias seus temores, ela é a sua mãe, todos erramos e todos merecemos uma segunda chance, dê a ela a oportunidade de ser em sua vida tudo o que você sonhou durante 20 anos."

E nessa guerra entre razão e emoção, magoa e perdão, medo e coragem, uma voz sempre fala mais alto. Resta saber se eu escolhi dar ouvidos para a voz certa, para que no futuro eu não venha me arrepender das minhas escolhas, afinal, o tempo não volta atrás, e sempre que optamos por um caminho apenas nos resta calçar os sapatos e torcer que a estrada não seja íngreme, e que nos proporcione uma bela visão ao longo da jornada.



A ESPERA DE UM MILAGRE 2Onde histórias criam vida. Descubra agora