CAMINHO DOLOROSO

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Confiro as horas em meu relógio, vendo que havia chegado na hora

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Confiro as horas em meu relógio, vendo que havia chegado na hora. E sorri ao ver Lux saindo da clínica, sempre abraçando ao próprio corpo, como se fosse um meio de proteção. Ele fazia isso sempre que andávamos na rua. Estávamos há um ano morando juntos, e ele se tratando, se consultando com uma psiquiatra e fazendo terapia. Tudo que pudesse ser bem vindo para ajudá-lo, eu faria sem pestanejar. Eu prometi a irmã dele e tenho o costume de cumprir minhas promessas.

— Como foi? — Pergunto, assim que ele se aproxima.

— Bem. — Respondeu, baixo, entrando no carro. Eu sei que a morte da irmã e a confusão que aconteceu na mansão de Conrad mexeu ainda mais com a cabeça dele, o levando de volta para essa bolha de aço na qual ele não quer sair. Por muitas vezes eu presenciei um quase suicídio dele, na tentativa de tirar a própria vida à todo custo, seja com uma corda envolta do pescoço ou entrar na linha do trem quando este já está próximo.

Tudo isso também mexe comigo. Por alguma razão, Lux me prendeu a ele de uma forma inexplicável. Sua história de vida me deixou completamente quebrado por dentro, e sei lá quantos mais passam pela mesma situação que ele. E talvez sem ter alguém para ajudar e tirar desse poço fundo na qual eles procuram se esconderem.

Assim que chegamos em casa, sou o primeiro a descer do carro, fechando a porta e abrindo a do banco passageiro para Lux, que logo abandonou o veículo, indo rapidamente para dentro da casa e provavelmente se trancando em seu quarto.

Respiro fundo, entrando em casa e jogando as chaves do carro na mesinha de centro da sala, retirando a camisa e a deixando em qualquer lugar. A diarista faria seu trabalho depois. Não tenho empregados fixos, a não ser os seguranças que são indispensáveis para a imagem que tenho na máfia, mas dentro de casa, não deixo ninguém, justamente por conta de Lux, que seria um motivo maior ainda para ele nem sequer sair do quarto. Eu tento. Juro que tento. Até estudei um pouco de psicologia para entender melhor o que ele está passando, mas não tive muito sucesso. Mesmo estando há um ano vivendo com ele, ainda sinto um enorme abismo entre nós.

Lux não me fala o que sente, não interage com ninguém e mesmo tentando ocasiões para certos momentos, ele nunca demonstra interesse. Sei que ele foi o mais afetado dentre os irmãos e não irei jamais conseguir fazê-lo esquecer o que passou, mas eu também canso. Abri mão da minha vida, da minha cidade, até mesmo da máfia, indiretamente, para poder cuidar dele, me dedicar a ele. Não é fácil, e ele não parece interessado em ser ajudado. De qualquer forma, não penso em desistir. Não agora. Cheguei tão longe e não vou voltar para a estava zero. Isso realmente não passa pela minha cabeça.

Sinto meu celular vibrar no bolso da minha calça, me arrancando dos meus devaneios.

— Alô? — Atendo a chamada por vídeo, um tanto quanto cansado, me jogando no sofá da sala.

— Oi, Adam! Parece cansado. Aconteceu algo? — Era Conrad, sempre protetor e cuidadoso com a família. Sorri, passando a mão no rosto.

— Um pouco. Mas estou bem. E você? Já chegou da lua de mel? — Questiono, vendo ele soltar uma risada. E eu sabia que só depois do belo casamento que ele teve com Harry, era que ele estava realmente feliz. Meu irmão estava radiante e finalmente podendo ter uma vida, não somente afundando na máfia como fazia antes, já que Andrea e ele viviam em pé de guerra, ambos presos em um casamento sem amor. Agora eles estavam livres e cada um podendo seguir sua vida.

— Sim. Cheguei ontem à noite. Eu queria ligar antes, mas nossos pais me encheram de visitas e não consegui me livrar até hoje de manhã. — Ditou, o que me fez ri.

— Sabe muito bem como é o Sr. Berryann. Jamais ele deixaria essa passar. Além disso, mamãe adora uma boa desculpa para dá uma festa. — Comento, o que o faz ri. Logo vejo Harry aparecer, o abraçando e acenando para mim. Retribuo. Harry estava nitidamente mais alegre, ainda tímido com estranhos, mas já havia embarcado na intimidade da nossa família.

— Olá, Adam! Como está o Lux? — Questionou, risonho. Ambos estavam abraçados no sofá e ninguém poderia negar o quanto eles foram feitos um para o outro, mesmo que já tivesse surgido comentários desagradáveis sobre a idade de ambos, o que para mim, era insignificante.

— Está na mesma. Até agora não há muita novidade. — Comento, em um suspiro.

— Então acho que vamos mudar isso. Queremos que venha para a Itália. Vamos fazer uma festa pós-casamento, reunindo os amigos mais íntimos da família. É claro que vocês dois não podem faltar. — Harry falou, animado.

— “Festa pós-casamento”? Isso existe? — Questiono, confuso. Ambos riram.

— Claro que existe. Bem... agora existe.

— Ah, eu não sei, Harry. Vocês sabem que Lux não curte multidões. — Falo, meio incerto.

— Mas ele já conhece a gente! Além disso, ele precisa desse contato. Até hoje eu também não curto, mas fazer o quê? — Harry falou, causando uma curta risada entre Conrad e eu.

— Certo, eu vou ver o que eu posso fazer. Quando será essa festa? — Harry sorriu, pegando o celular das mãos de Conrad e sentando no colo do mesmo, em êxtase, o que fez Conrad ri.

— Será daqui à uma semana, justamente para todos que moram longe como você, chegar a tempo e não ter desculpas para não vir.

— Exatamente. Além disso, sabe bem que não aprovei você morar longe da sua família. Aqui também tem bons profissionais que podem cuidar do Lux. — Conrad falou, o que me fez sorri.

— Eu sei, Conrad. Mas aí o Lux ficaria mais exposto aos nossos inimigos. Ele não sabe se defender, e talvez até pedisse para ser morto de tão... machucado psicologicamente que está.

— Não houve mesmo nenhum avanço? — Harry questionou, com um semblante triste.

— Não, Harry. Ele... não quer contato com as pessoas, por mais que eu tente levá-lo a lugares públicos. Não houve nenhum avanço. Ele quer se isolar, e tenho medo de que ele acabe cometendo uma loucura.

— Adam, trás Lux o mais rápido para a Itália. Eu vou te ajudar a cuidar dele. — Harry falou, e eu o encarei, duvidoso.

— Você? — Ele deu de ombros, sorrindo fracamente.

— Passamos por situações semelhantes. É mais fácil interagir com quem nos entende. Estamos te esperando, tudo bem? — Sorri, assentindo.

— Tudo bem. Obrigado, Harry. Eu vou assim que eu puder. — Ele assentiu, sorrindo.

— Combinado, então. Conrad, eu vou me encontrar com a Pettra, se não ela me mata se eu não for falar com ela. Tchau, Adam! E até logo, amor. — Harry falou, deixando um beijo rápido em Conrad e acenando para mim. Ri, acenando de volta e vendo ele correr pela sala, sendo perseguido por Sophia, que gritava aos quatro ventos algo que eu não conseguia entender.

— E a Andrea? Ainda está nessa vibe de relação a três? — Questiono, vendo Conrad ri.

— Está. E parece que está muito feliz com esse namoro. O bom é que nossa amizade se fortaleceu depois do divórcio, então, finalmente podemos nos entendermos.

— Foi uma surpresa e tanta quando fiquei sabendo dos três. Enfim. Que bom que cada um encontrou seu rumo. — Conrad assentiu, suspirando. Notei que ele estava preocupado com algo. — Algum problema?

— A máfia está enfraquecendo, Adam. Antes todos se importavam, agora o peso sobrou todo para mim. Os inimigos não estão mais se escondendo como faziam antes. Há um mês explodiram um dos meus cassinos. Perdi mais de dez homens nesse ataque. Mas parece que ninguém se importa mais com a Costa Nostra. — Declarou, ressentido. Suspirei, me sentindo um pouco culpado, pois de certa forma, também o abandonei.

— Irmão, desculpa. Eu fiquei tão focado em cuidar do Lux, que acabei negligenciando a máfia. Nosso negócio. Mas não se preocupe. Assim que eu voltar vou poder te ajudar novamente.

— Não se sinta culpado, Adam. Eu entendo que você saiu do País por um bem maior.

— Sim. Mas já estou voltando...

BOYS DON'T CRY - Adam Berryann Onde histórias criam vida. Descubra agora