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Lara's pov

-Ai, caralho!
Falo entre um suspiro e jogo a tupperware que guardava meu cachorro quente em cima da mesa, ao lado de Hanji.
A morena exclama de susto e eu me sento ao lado dela, abaixando a cabeça logo em seguida. Era a hora do almoço aqui, ou seja, eu passei três horas e meia tentando ficar calma para a luta de mais tarde ao invés de arquivar os casos resolvidos recentemente pelas outras esquipes. Erwin provavelmente me mataria se soubesse.
-O que aconteceu, Larinha?
Ela pergunta, deixando seu almoço enjoativo de lado. Fico em silêncio e apenas resmungo algo incompreensível enquanto abria a tupperware e sentia o cheiro delicioso de cachorro quente surgir. Eu poderia ter trazido uma tapioca hoje, porém eu acabei me lembrando dessa receita apenas quando estava tendo outra crise nervosa no banheiro a umas duas horas atrás.
-Oi? Tá me ouvindo?
Reclamo olho para ela com uma cara de morta. Um espanto em sua feição se fez presente ao reparar atentamente em mim.
-Meu Deus! Quem morreu dessa vez?
  Reviro os olhos, pego meu almoço e dou uma mordida no mesmo enquanto degustava cada ingrediente contido nele. Hanji sempre teve uma dedução ou exagerada demais ou pequena demais. Não existia um meio termo.
-Vou fazer O Teste nos três hoje.
  Revelei, por fim, espantando a tenente e a deixando sem palavras. Aquele silêncio agradável da parte dela durou apenas três segundos, pois de repente ela começou a surtar e a me chacoalhar fortemente.
-O QUE!? QUE HORAS? LARA, PELO AMOR DE DEUS, VOCÊ PRECISA ME FALAR PORQUE EU QUERO ASSISTIR ISSO E...
   Dei um olhar mortal para ela enquanto livrava suas mãos estabanadas de meus ombros. O Teste era simplesmente a luta que ocorreria daqui a exatas três horas e meia. Todos que estão em minha equipe passaram por ele, uma hora ou outra; e Eld teve a melhor resistência nele. E, caso você tenha raciocinado e ligado os pontos, sim, eu estou querendo o trio em minha equipe.
-Se você calar sua boca eu falo.
  Não deu outra. Logo após que disse isso, a tenente fechou sua boca e fingiu estar passando um zíper nela, ficando quieta desde então. Agradeço mentalmente e relaxo o máximo que posso enquanto me voltava para meu cachorro quente e dava outra mordida nele. Quando terminei de mastigar e engolir, falo com Hanji.
-Vou começar O Teste às quatro da tarde, lá na quadra.
-Mas por que você quer fazer isso hoje? Nós nem sabemos se eles vão ficar com a gente.
  Suspiro pesadamente e falo em um tom mais alto, prestes a gritar.
-Eu sei, quatro-olhos. Eu vou fazer esse teste hoje exatamente por isso. O julgamento deles será amanhã e eu definitivamente quero eles na polícia.
  Hanji não disfarçou a sua surpresa após minha fala; na real, até mesmo eu estou surpreendida com a minha determinação. Dou outra mordida em meu almoço. Hanji continua falando.
-Uau... Mas e se eles acabarem indo para a equipe do Mike? Aquele farejador consegue pessoas tão facilmente quanto você, e você sabe disso.
  Coloco o que estava comendo na tupperware, apoio minha cabeça com a mão direita e volto meu olhar para o trio que chegara recente ao refeitório, indo para a cantina para pegar algo para comerem. Pareciam cansados, ou seja, é um sinal de que o treinamento de Richars estava progredindo da maneira que esperava que estaria. Eu não consigo imaginar como é que meu irmão esteja reagindo aos três agora que sabe a origem deles, mas espero que esteja tudo bem.
  Dou outro suspiro e olho para a morena com o canto do olho.
-Se eu não quisesse eles em minha equipe tanto assim, eu não estaria fazendo isso, quatro-olhos. Não sei, mas me importo com eles de uma maneira que simplesmente não vou aceitar eles entrarem em outro esquadrão senão o meu.
  Volto meu olhar para eles e os vejo sentar em uma mesa meio afastada da qual eu estava. Se passou uns segundos e eu estranhei o silêncio repentino da tenente que, normalmente, estaria me bombardeando de perguntas. Quando vou verificar a situação olhando para ela, dou de cara com um olhar completamente malicioso estampado em seu rosto. Franzo as sobrancelhas como se perguntasse: "você tem problema?".
-Já entendi... Não está afim de ceder o Levizinho para outra pessoa, não é??
  Reviro os olhos e me levanto rapidamente da mesa, não me esquecendo de pegar meu cachorro quente.
-Ah, vai se foder.
  Vou me afastando com rápidos passos da mesa em que aquela maluca está sentada enquanto ouço sua gargalhada exagerada. Hanji sempre vinha de surpresa com esses tipos de comentários desnecessários, porém eu acho que tem uma pequena verdade no que ela falou. Talvez eu tenha dado muita importância para Levi e consequentemente acabei me importando demais com as pessoas as quais ELE mais se importa. Isso era ruim, até certo ponto.
  Não deveria me jogar de cabeça para algum sentimento novamente pelo motivo de que eles sempre erram. A primeira vez em que namorei alguém eu estava no último ano do ensino médio. Ele era um rapaz com a mesma idade que eu, treinava hóquei e sempre me ajudava nas matérias que eu tinha mais dificuldade; talvez seja por isso que começamos a namorar.
  Certo dia, ele veio com o papo de usarmos alianças de compromisso; aceitei, mas quando foi colocar a minha em meu dedo, a aliança era extremamente larga para mim e caiu. Ele disse que iria trocar e ficou com a dele em seu dedo por muito tempo (e nada dele me devolver aquela bendita aliança), porém eu descobri que ele tinha uma outra namorada em seu time de hóquei e que ELA estava usando a aliança que deveria ser MINHA. Claro, fiquei super puta e terminei com ele no mesmo dia em que descobri isso. Passei meses me lamentando por ter tomado um baita dum chifre, foi horrível.
  Bom, esse foi o meu primeiro namorado. O segundo foi Nile, o babaca da academia de polícia. Não estou a fim de contar muitos detalhes agora porque não me sinto muito confortável ainda, mas saibam que uma das várias cicatrizes que tenho em meu corpo foi culpa dele. Já perceberam que meu cupido nunca acertou em cheio, não é?
  Entro em minha sala para terminar de comer meu cachorro quente e, enquanto isso, aproveito para arquivar os casos que não consegui arquivar mais cedo.

 

  [...]

 

  Vinte para as quatro. Faltam apenas vinte minutos para aquela pessoa que eu era antes ressurgir das cinzas. Eu estava tremendo e meu coração estava a mil e, para me acalmar, estou sentada em um sofá em uma sala com uma das únicas pessoas que sabe sobre meu passado meio sombrio: Erwin Smith.
-Lara, se acalme.
  Esfrego meu rosto com as mãos e praticamente grito com meu superior.
-Não me peça para eu me acalmar agora, Erwin!  Você sabe muito bem que eu tenho essa crise antes de cada Teste.
  Ele se senta ao meu lado e coloca uma de suas mãos em meu ombro para me manter sã.
-Eu sei o quanto é difícil. Tive que fazer você voltar ao normal cinco vezes por causa desse seu teste com sua equipe.
  E isso era verdade. Ele sempre ficava responsável em me fazer voltar à realidade a cada teste que fazia com meu esquadrão. Uma vez que volto ao passado é muito difícil eu voltar ao presente. Mas agora não era a hora de eu recuar, pois tenho que lutar contra três pessoas e tenho que conseguir NÃO mata-las, pelo menos. Bom, pelo menos eu nunca cheguei a esse ponto com alguém da polícia, mas já tive um caso com um criminoso a alguns tempos atrás.
-Você preparou o que eu te pedi?
  Perguntei.
-Sim, o tranquilizante já está comigo. Pode ficar tranquila que sei o que fazer.
-Ótimo. Vou começar, ok?
  Ouço-o afirmar e fico mais tranquila para seguir em frente. Por um momento, eu até mesmo penso em desistir disso e jogar tudo para o alto, porém minha vontade em ter os três em minha equipe é maior.
  Fecho meus olhos, relaxo no sofá e começo a fazer um tipo de "viagem no tempo" em minha memória. Volto no tempo em que meus pais ainda eram unidos e começo a me lembrar de cada momento daquela época. Me recordo do massacre do dia doze de novembro, me recordo da fome, dos espancamentos, do bafo de bebida que aquele homem tinha quando se aproximava de mim toda a noite, dos gritos de minha mãe... Me lembro também da época em que eu e meu irmão aprendemos a lutar com meu pai; ele teve que fazer isso por conta dos inúmeros mafiosos que ele tinha para acertar dívidas.
  Sim, agora eu me lembro muito bem... Fui utilizada como arma para benefício de meu próprio pai, e quando cometi aquele mísero erro, fui tratada como uma criminosa pelo homem que me criou até os meus doze anos. Essa era a época em que eu ainda tinha aquele sobrenome que aprendi a odiar desde o momento que vi meu pai subir ao "trono" às minhas custas. Fugi daquele lugar aos quatorze junto com Richard, mas isso não impediu os capangas de meu não amado "papai" de invadirem nossa casa e nos ameaçarem todo o dia; e também não os impediu de cortarem a garganta de minha melhor amiga em minha frente. Tenho a impressão de estar novamente na época mais infernal de minha vida.
  Sinto a fúria crescer em mim, sinto aquela mesma sensação de anos atrás surgir em meu peito novamente e me sinto mais forte do que nunca. A motivação da vingança era o único combustível que me dava essa força, então finalmente consigo abrir os olhos e voltar à realidade. A claridade ofuscante que entrava pela janela  me fez desviar o olhar para o relógio na parede, cujo mesmo marcava 15:58.
-Lara?
  Ouço Erwin falar ao meu lado e o encaro. Consigo sentir seu receio de longe, pois eu tenho consciência do estrago que posso fazer agora, se quisesse.
-Não... Leonor.

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  Leu até aqui e ainda não votou? Que feio :(

  Um capítulo bastante revelador sobre a vida de Lara, não é mesmo??

Assassino PerigosoOnde histórias criam vida. Descubra agora