Cap 1- Ninguém vai entrar aqui.

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 •Stella
   
      Dia que parecia voar, a hora passava como uma flecha, enquanto eu, sentada abaixo de uma árvore torta numa colina, ao lado de um lago cristalino, lia calmamente. As copas das árvores se mexiam lentamente com o vento macio da doce e suave primavera.
     Pouco distante, estava meu reino, Marmoria, meu querido e amado reino do ar. Infelizmente, essa bela visão duraria apenas alguns minutos, já que, ao pôr do sol, Sunset, Luna e Lilith chegariam. E odiariam me ver "tão distante" de casa e ainda mais acompanhada. Não mencionei, mas ultimamente, tenho passado a tarde, para a infelicidade das minhas irmãs, especialmente Sunset, com uma amiga de quatro patas. Eu á apelidei de Negreira, pelo fato de seus pelos serem parecidos com uma pedra preciosa, que só é encontrada na mitologia e por conta de ser da espécie de panteras negras. Talvez essa seria a maior decepção das minhas irmãs.
       Negreira e eu temos uma conexão forte, e apesar de não falar, sei que me entende e gosta de mim. Afinal, que animal viria tantas vezes encontrar uma garota sem nenhuma utilidade como eu. Seu tamanho era extraordinário, não que eu fosse muito alta, mas se ela pudesse ficar em pé em apenas duas patas, ela teria quase o dobro do meu tamanho. Acho que tenho por volta de uns 1 metro e 65,  não sei dizer muito bem.
      Antes de ir para casa, verifiquei se tinha pegado tudo o que eu havia trazido para cá. E me despedi de Negreira, já que, por algum motivo, as panteras negras foram banidas de Marmoria. Peguei todas as minhas coisas, e coloquei a mão no pescoço apenas para verificar se eu estava com meu colar, coisa que sempre faço, pois sem ele é como se faltasse algo em mim.
    Chegando em casa, notei que a lareira estava acesa e escutei barulhos de panelas. Provavelmente Lilith ou Luna estavam em casa, deduzi já que se fosse Sunset, ela já teria ido atrás de mim. Então, lentamente, abri a porta.. que de velha fez um ruído, tão alto que me fez ficar parada alguns segundos.

Lilith: Stella.- Assutando-me, entrei com um sorriso tentando amenizar a situação. Notei que ela ainda estava de costas, e colocando a chaleira para esquentar.- Onde estava?

Stella: Bem eu...

Luna: Stella!- Escorregou pelo corrimão da escada e me abraçou forte ao me ver.- Querida por onde andou? Se machucou?

Stella: Nã..

Luna: Nos deixou preocupadas! Não faça mais isso.- Me interrompeu.

Lilith: Ela não vai mais fazer.- Disse calma.- Para o seu quarto.

Stella: Por que não me escutam? É uma história engraçada.- Sorri.- Sabe eu..

Sunset: Veja bem Estrelinha- Ouvi a porta se fechando atrás de mim. E os passos de Sunset cada vez mais próximos.- quando eu tinha a sua idade eu costumava ficar em casa, com meus livros, sem nem sequer desobedecer as ordens da mamãe.

Stella: É, você sempre foi perfeitinha.- Resmunguei.

Sunset: Silêncio!- A lareira e todas as velas que iluminavam a casa se apagaram.

Lilith: Sunset.- Repreendeu.

Sunset: Lilith, não queira se meter nisso.- Foi então que ela segurou em meu braço.

      Reconheci o lugar que ela estava me puxando, era uma portinha de madeira, que ficava no andar de cima. Ela me empurrou para dentro do quartinho, tão minúsculo que era impossível de ficar em pé. Sunset costuma fazer isso, mas o impressionante, é que é apenas comigo. A última vez que ela me jogou nesse quarto empoeirado, eu tinha nove anos. Pensei que não faria mais, já que estou com meus 15 anos e faltam apenas doze dias para meu aniversário.
      Então, abracei minhas pernas e me encolhi no cantinho, coisa que eu fiz há quase sete anos atrás. Mas daquela vez não foi o mesmo motivo. Lilith e Luna estavam voltando da escola já formadas como bruxas, e então, sem que elas vissem, assim que chegaram em casa.. peguei a varinha de Luna, e tentei fazer um feitiço que havia visto em um livro de magia. Sunset não só me prendeu aqui, como me fez ficar acorrentada por quatro horas seguidas dentro desse mesmo lugar. Me lembro bem, aqui era até limpo, já que aqui era o lugar favorito de Sunset, principalmente quando ela precisava chorar ou por seus sentimentos para fora. Sei disso pois no dia que eu vi fiquei de castigo aqui também.       
    Hoje em dia, esse lugar é quente, empoeirado e com teias de aranha. Aqui tem uma pequena janelinha redonda, que a vista dá exatamente para o por do Sol. Estava bem embaçada por conta da poeira.
     Me encostei na parede e fiquei quieta sem nada para fazer, com a mente vazia e abraçando minhas pernas. Sem querer adormeci, uma verdadeira soneca, daquelas que parece que se passaram horas, quando na verdade só foram alguns minutos.
     Quando a noite caiu e a lua estava forte, a porta se abriu rangendo. Foi quando abri os olhos e vi o olhar sereno de Lilith.

Stella: O que faz aqui?- Falei baixo ainda com medo de ficar por mais tempo.

Lilith: O que fez foi errado, mas não foi certo Sunset te colocar aqui de novo.- Sorriu.- Vem, arrumei seu banho e o jantar está na mesa.

Stella: Vai arranjar problemas com a Sunset se me tirar daqui sem a permissão dela.- Falei coçando os olhos.

Lilith: Pequena estrelinha...- Beijou minha testa.- "Haja o que houver, não tenha medo de arriscar a faísca de coragem que existe em seu enorme coração."- Sorriu após terminar a frase.

Stella: Quem falava isso era a mamãe...- Suspirei.- Engraçado, você até me chama como ela me chamava e se esforça muito como ela se esforçava. Se parece muito com ela Lilith.

Lilith: Adorei o elogio Stella, mas acho melhor se levantar daí.

     Obedeci e logo em seguida abracei Lilith. Eu não olhei para trás após sair de dentro do quartinho. E então entrei no banheiro e tomei um longo banho, fresco, e após sair fiquei com meus cabelos, ruivos, molhados mesmo. Vesti minha camiseta cinza e um short azul que eu tenho. E assim que desci vi Sunset me fuzilando com os olhos, porém sem nenhuma palavra.
     Me sentei na mesa e Luna me serviu, mas por algum motivo eu queria que toda aquela frieza saísse dali. Então decidi quebrar o gelo e talvez não tenha sido uma boa ideia.

Stella: Então... é... como foi o dia de vocês?- Sorri de canto e após tomei um gole de suco.

Luna: Ah foi divertido! Nós fomos ao parque, depois fomos ao castelo porque sabe como é né?- Falava rápido.- A Lilith tá de olho no guarda bonitão que segue a princesa para cima e para baixo!- Riu.

Lilith: Luna...- Balançou a cabeça negativamente enquanto sorria.

Luna: Mas é verdade! Aquele guarda é fofo demais, até me lembra você quando era criança.

Lilith: Luna eu sou mais velha.

Stella: A Lilith tá namorando...- Cantarolei.

Lilith: Stella...- Riu.

Luna/Stella: A Lilith tá namorando! A Lilith tá namorando!- Cantamos em uníssono.

Sunset: Chega!- Bateu na mesa.- Será que não posso ter um jantar em paz?!

       Era de costume nos sentarmos sem a Sunset na mesa, justamente por conta de sua implicância com a hora do jantar. Diz que é um momento de silêncio absoluto, então ela sempre janta no quarto. Mas hoje, sinto como se tudo o que está acontecendo fosse de propósito para deixar o meu belo dia, de forma cinza e sem graça.
       Ao terminar, ajudei Lilith na cozinha e todas fomos aos quartos. Olhei para a janela e fitei a lua brilhante do lado de fora, as estrelas, a noite em si... e suspirei, mais um dia errado, mais um dia sem cor. Me pergunto quando isso irá acabar, e se tem uma forma de acabar.

StellaOnde histórias criam vida. Descubra agora