Cap 37- Cinza.

16 2 1
                                    

•Stella.

       Quando amanheceu, acordei olhando para os lados, tentando entender se tudo o que aconteceu ontem foi só um sonho. Mas, quando vi que estava vestida com aquele vestido que Yan havia me emprestado, eu soube que não tinha sido um sonho. Respirei fundo, e vi que Helena não estava no quarto, então me levantei e quando abri a porta, ouvi a conversa vindo da cozinha.
       Minha cabeça estava doendo e eu estava meio fraca. Foi nesse momento que eu me lembrei do que estava acontecendo comigo, talvez isso fosse consequência da cor cinza que se espalha pelo meu corpo.
       Ouvi o som das conversas vindo da cozinha, mas fui até o banheiro para me olhar no espelho. Talvez fosse um erro me ver assim, pois essa cor em mim, era uma coisa estranha que eu não aceitava de jeito nenhum. E soltando uma pequena lágrima, pude notar que estava gelada como neve. Meus cabelos estavam totalmente cinzas, meu braços, minhas mãos, tudo, menos meu olho. Que ainda se mantinha da cor roxa, exceto pela parte que devia ser branca, a qual já estava coberta pela causa da minha lenta morte.
        Ainda no banheiro, minha mente começou a gritar que eu devia apenas desistir de tudo. Esse abismo entre o cansaço e a vontade de continuar viva, era tão grande. Se estou me apagando, talvez seja melhor eu manter o brilho deles, sem que se preocupem comigo, talvez seja melhor eu simplesmente... apagar de vez. Estão dispostos a dar a vida pra salvar a minha, mas, por qual razão eu levaria eles junto comigo? Se tudo der errado, eu sinto que vou deixar as pessoas que eu amo indo para o abismo onde eu estou indo lentamente. Todo esse pensamento, somando com a dor intensa em minha cabeça, era como uma agulha atravessando minha cabeça, e outras vinte por todo meu corpo, eu estava me sentindo mau tanto mentalmente quanto fisicamente. 
       Fechei a tampa do vaso sanitário, e me sentei para me acalmar um pouco. Embora todos os meus sentimentos confusos, eu ainda sim, precisava estar bem por eles. Preciso mostrar que estou bem para que acreditem nisso, eu preciso acreditar que estou bem.
       Me levantei, e fiz um coque no cabelo, e olhei uma parte do meu pescoço, que ainda tinha a cor da minha pele, eu respirei fundo. Era estranho me ver assim, era estranho estar morrendo da mesma forma que minha mãe Téia morreu, o pior é não conseguir imaginar como ela se sentiu, e se foi igual a mim. Acho que mesmo que sabendo que Helena é minha mãe, ou o que sobrou dela, eu ainda sinto falta dos olhos de Leonor, e queria ao menos imaginar se algo em mim se parece com Téia. Eu ao menos queria entender quais razões me fazem pensar em tanta coisa de uma vez, o porquê dessas confusões, desses sentimentos repentinos, as coisas parecem estar passando mais rápido a cada dia, é como se tudo á minha volta estivesse me preparando para o que pode simplesmente me destruir internamente, para o que está prestes a desmoronar, acho que tudo a minha volta está me mostrando que depois dessa escuridão de cor negra, vem o cinza, o frio, a parte onde fecho meus olhos, quando minha alma for em direção ao abismo, aquele lento que eu comentei. Eu falhei na minha única obrigação, existir, e continuar brilhando, na maioria das vezes é isso que as estrelas fazem, eu até gostaria de saber qual o sentimento do último suspiro, mas... eu sinceramente não queria que fosse tão rápido.
        Quando esse pensamento veio até minha cabeça, eu passei a imaginar, como deve ser, tentar puxar o ar, não conseguir. Tudo isso, sem conseguir enxergar, sem poder ouvir, e de repente um sono longo, com a alma indo embora, pronta para partir em direção ao mundo dos mortos. Meu medo, é que tudo isso possa ser dolorido, tão doído quanto a minha pré-morte, pois devo admitir que esses últimos dias têm sido difíceis, e eu só sinto frio desde que eu tento sentir calor, a única coisa que me lembro todos os dias, é que cada dia que passa, mais próxima eu estou do cinza, daquele longo sono, do último suspiro.
        Eu saí do banheiro deixando a porta aberta, e fui a caminho da cozinha, que por algum motivo travei antes de entrar, e só ouvi a conversa, foi como se algo tivesse me avisando que era melhor esperar antes de me enfiar na cozinha. Foi nesse momento, que eu simplesmente me mantive em silêncio, apenas ouvindo as vozes lá dentro.

StellaOnde histórias criam vida. Descubra agora