Cap 39- Família.

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•Stella.

        A sala era gelada e quieta, Fire e eu caminhávamos com machado e espada empunhados, e embora me sentisse cada vez mais fraca, eu sabia que precisava me manter forte e em pé. Fire me olhava pelo canto do olho demonstrando sua forma de preocupação silenciosa. 
        O medo era inigualável, mas o tremor nas pernas não era por causa disso. Me sentindo ainda mais frágil e gelada, eu tremia de frio e fraqueza, enquanto cruzávamos o imenso, vazio e congelante salão. 

Fire: Você está bem?

       Mesmo que tenha dito o mais baixo possível, o som de sua voz fez eco nas paredes de destroços do castelo. Eu apenas assenti com a cabeça, respondendo sua pergunta de forma que não fizesse tanto barulho. Ela apenas balançou a cabeça negativamente mostrando que sabia que eu estava mentindo. Ainda sim, mantendo o rumo até os calabouços.
       Embora eu não demonstrasse, estava apreensiva de voltar naquele lugar, e não conseguir sair de lá. Eu sabia que, lá, era onde as grades atormentavam seus prisioneiros, que lambiam o chão para se alimentar da pouca poeira suja que lhes sobrava de comida, e bebendo de seu próprio sangue para não dissecar, mesmo que talvez seja a lembrança mais dolorosa daquele lugar, eu ainda me lembro do sofrimento de Stanley, aquele monstro feito de sombras, que gritava implorando por socorro, e por mais que ele fosse monstruoso e horrendo, ainda parecia ser um ser com muitos sentimentos, um deles, o mais forte, sofrimento.
      Paramos rente a escadaria do imenso calabouço, a qual era iluminada por uma tocha que emanava sua luz de fogo. Eu respirei fundo enquanto via Fire descendo na minha frente, e só tomei coragem de descer quando ela olhou para trás notando minha hesitação inesperada e confusa. Foi quando uma imensa galeria de corredores apareceu em nossa frente, numa escuridão absoluta, grades tampando as celas que abrigavam seres de todos os tipos e raças, era como se alguém nos desse boas vindas ao nosso maior pesadelo. 
      Alguns acorrentados. Outros definhando quase em puro osso, arrastando suas unhas nas paredes e no chão, e poucos conversando sozinhos e perdidos dentro de sua cela, desfrutando da real, e mais impiedosa, forma de vida.

Fire: Stella.

Stella: O que foi?

Fire: Precisamos tirar eles daqui.

Stella: Bem...

      Eu me ajoelhei no chão, próxima a uma sela onde um corpo pequeno e desnutrido estava deitado perto das grades. Aquilo me fez perder, por um momento, completamente a minha dor física, pois apenas senti dor emocional. Meu peito doía só de ver aquela criatura jogada daquela maneira, só de saber que existe esse tipo de punição, como se o ser vivo não significasse absolutamente nada. Segurei a mão daquela criatura, entre as grades e ela me olhou, piscando um pouco seus olhos percebi que estava dando o seu máximo para me enxergar.

Stella: Por favor me diz que trouxe algo de comer dentro dessa bolsa.

Fire: Só armas.- Suspirou.- Aliás..- Disse me dando a adaga que Hina teimou em pegar.- é melhor que fique com você. Pois sei como é difícil perder uma pessoa de sua família, então não quero que façam com Íris o que você não quer que aconteça. A decisão vai ser sua.

Stella: Eu não acredito que Íris possa ser tão cruel em deixar essa pobre criatura assim... mas ainda sim, é uma pessoa que eu não tenho certeza se eu quero que sofra.- Peguei a adaga.

Fire: Eu acredito, e é por isso estamos aqui, para impedirmos que ela possa machucar mais pessoas.- Pegou em meu braço me obrigando a levantar.- Mas agora você precisa ser forte, não pode ficar se lamentando pelo o que já se lamenta sozinho.

Stella: Você tem razão.- Forcei um sorriso.- Vamos.

      Andamos por diversos corredores, encontrando seres que pediram por ajuda. Seres que ainda tinham vida e consciência, que ainda podiam ser salvos. Mas meu coração se esquentou ainda mais, quando, ao fundo de um dos corredores, duas mulheres estavam chamando pelo meu nome. Eu corri em direção as grades, sorrindo ao ponto de chorar de felicidade.
      Sunset e Lilith, mesmo dentro daquelas grades, estavam comigo e eu não poderia sentir mais felicidade nessa vida. Me joguei de joelhos quando as encontrei, e entre as grades, passaram suas mãos e eu pude, finalmente, senti-las. 

StellaOnde histórias criam vida. Descubra agora