•Stella.
Stella: Você disse com suas próprias palavras: "Eu te falo tudo no caminho".- Falei distorcendo minha voz.
Eu estava igual uma maluca falando com Yan, que estava me ignorando totalmente. A única coisa que ele fazia era resmungar, me imitando, além dos suspiros que dava a cada pergunta que eu fazia. Algo me dizia que ele queria que eu sumisse dali. Mas eu não posso ignorar esse meu lado tagarela e curioso, isso eu herdei da minha querida Luna. Eu não sei se deveria me orgulhar ou me sentir mau por isso, mas eu não estava nem ai para isso no momento. Só queria saber sobre esse suposto "quinto mundo" que Yan citou lá dentro, e eu não iria parar de falar até ele me dizer tudo sobre esse mundo que ele está para me contar... mesmo que ele me odeie por isso... é meio que um preço a pagar pela vontade dele de ter meu colar.
Stella: Caçador,- Cutuquei seu ombro.- já estamos quase chegando, e você não disse uma só palavra.
Yan: Você tem certeza de que as suas irmãs não te expulsaram de casa?
Stella: A vontade delas era me prender lá.
Yan: Você é realmente desnecessária e muito tagarela pirralha.
Stella: As vezes a gente tem que tentar esquecer os nossos problemas, então eu fico tagarelando.
Yan: Quais problemas uma garota que vivia as custas da família teria? Ou melhor, o que alguém com família está fazendo numa floresta?
Stella: Nem sempre os problemas são bloqueados pela família ou pelos bens materiais.- Revirei os olhos e desci das costas da Negreira.- As vezes a própria família é a razão dos problemas.
Yan: Ah pirralha conta outra.
Stella: Estou falando sério, você devia saber disso.
Yan: Pirralha sabe o que eu devia saber?- Dei ombros.- Eu deveria saber que ajudar você me daria dor de cabeça. Eu devia ter pegado o seu colar e te jogado no lago.
Stella: É eu concordo. E eu devia arrancar o seu dedinho.- Cruzei os braços.
Yan: Nem vou perguntar qual o sentido disso. Você é só uma criança, deve ser difícil para você manter uma simples conversa.
Stella: Eu não sou uma criança... eu já vou fazer dezesseis anos.
Yan: Eu vou fazer duzentos e quarenta.
Stella: Você é o que? Algum tipo de pós-morto ou sei lá?
Yan: Pirralha, daqui até em casa, eu não quero que diga mais nenhuma palavra.
Assim eu fiz. É eu sei que obedecer ele seria uma baita idiotice, mas eu não tinha mais o que fazer, se eu ficasse falando ele perderia a paciência e poderia cancelar o nosso acordo. Apesar, de que ele vai me contar tudo sobre esse quinto mundo, sobre o meu colar e de brinde, quero que ele me fale mais sobre ele. Podem ser muitas curiosidades, mas eu nunca vou me acostumar com segredos, mentiras ou omissões. Gosto muito de saber de tudo, não é atoa que estou sempre lendo.
Fomos andando até em casa, sobre aquele caminho de terra. Como eu não estava de sapatos, meu pé estava muito confortável sentindo aquela terra. Eu sorri. Em dias de chuva quando mamãe estava viva, nós brincávamos no jardim, não demorava muito para que uma de nós ficasse doente, mas mesmo assim, era divertido. Dias como esse, eram simples porém amados, e lembrados, tenho certeza que não só por mim, mas por elas também... e até mesmo mamãe, que mesmo com seu corpo morto, sua alma é viva amando todas nós e os dias mais simples. Pelo menos, essas são as lembranças que eu tenho da mamãe, um ser adorável, com sorriso brilhante e lindo como a luz das estrelas.
Então chegamos na casa. Ele abriu a porta e fez um sinal como se me chamasse. Foi estranho, eu pudia jurar que íamos começar a treinar hoje, mas ele se sentou no sofá e tirou os sapatos. Depois saiu da casa e se sentou em frente ao lago, e com os pés na água ele me chamou e eu me sentei ao lado dele, fazendo a mesma coisa.Yan: Pirralha.- Fitei-o.- Não me entenda mau mas há certas coisas que eu não posso te contar. Certas coisas, que tirariam o meu sonho.
Stella: Mas...
Yan: Não acabei.- Interrompeu.- Eu sei que fiz aquele lance do dedinho, mas a realidade é que eu não posso te contar tudo. A única coisa que se pode fazer, é deixar você descobrir tudo sozinha.
Stella: Por quê? Com qual sentido?
Yan: Pirralha, ela não quer saber de você. Ela só quer o seu colar. Se eu te contar tudo ela não vai querer só o colar, ela vai querer os nossos pescoços.- Ela?
Stella: Está falando da Fire?- Olhei meio confusa.
Yan: Não, a Fire é um ser insignificante perto dela.- Suspirou.- Estou falando da minha Rainha, da rainha do quinto mundo.
Stella: Dúvido.- Cruzei os braços.- Você até agora me deu a entender que não existe esse quinto mundo.
Yan: Eu não queria dizer isso no caminho, estávamos muito expostos.
Stella: Ah caçador qual é?- Abri um sorriso irônico e olhei o lago.- Você tá tentando me confundir.
Yan: Stella me escuta.- Estranhei o fato de me chamar pelo meu nome.- Há muitas coisas que eu não confio em dizer para você, mas por algum motivo eu quero que você fique viva. Dá para respeitar isso?
Stella: Dá sim...- Suspirei.- o pior não é que você desconfie de mim. Afinal, eu também não tenho razões para confiar em você. Mas nós temos um trato Yan, eu só quero saber o que é esse quinto mundo que a Fire falou, e também, quero saber sobre essa floresta. Como isso me mataria? Já que não me quer viva e por isso não conta, pelo menos me diz quais os riscos que eu tenho aqui.
Yan: Você é uma tremenda duma teimosa e tagarela. Pirralha, compreenda, quando ela disse quinto mundo, ela estava falando daqui.- Pôs a mão na testa.- A realidade é que eu não sei o que eu tenho que ficar explicando para você.
Stella: É porque você nem ao menos olha nos meus olhos quando fala!- Me irritei.- Você me trata como uma parasita, como uma criança que está te azucrinando.
Yan: Tá bom pirralha, já entendi.- Na tentativa de levantar Yan não teve sucesso, já que eu segurei o seu braço no impulso.- Pirralha, se quiser me tocar é só dizer.- Sorriu.
Stella: Yan eu não estou brincando.
Yan: Mas eu também não.- Desfez o sorriso.- Ah você quer mesmo?
Stella: O que? Nem morta.
Yan: Então já pode soltar...- Apontou para a minha mão. Foi só ai que percebi, que eu ainda estava segurando seu braço
Saí dali ofegante, eu admito que não estou acostumada a passar por esse tipo de constrangimento, quem ele pensa que é para ainda ficar rindo disso? Me sentei no tapete da sala e Negreira me olhou com desprezo. Como quem diz: "É sério Stella?". Pelo menos era essa a minha interpretação. Olhei pela janela e ele estava atirando com o arco e flecha nos galhos de árvores.
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Stella
FantasySer um nada em meio a própria vida pode parecer estranho apesar de normal. Stella, uma garota de poucos anos, descobre em menos de um mês, que tudo pode se resumir em sombras e tristeza, rainhas más, estrelas, uma floresta escura e amigos de raças d...