Cap 38- Em busca da Luz.

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•Stella.

         Cada folha que caí no chão, é um traço de vento que envolve aquilo que uma vez já esteve preso ao que lhe mantinha seguro e firme. Depois de um tempo, cada dia se torna mais longo para aquela pequena folha, talvez seja porque ela sempre voa com o ar; as paradas são pequenas, não duram muito.  Quando o vento fica mais fraco, a folha pode se segurar em uma pedra, ou qualquer outra coisa que mantenha aquela pequena criaturinha presa, segura, firme, e sem ser levada pelo vento. O vento pode representar várias coisas, mas em cada folha é diferente, alguns podem ser brutos e empurram de uma vez, podem até rasgar a folha, mas... pode soar como um impulso para ir para frente, conhecer novos horizontes, lugares lindos para ver, mesmo que por dois segundos. Rostos novos, novos ares, um jeito diferente de enxergar a vida ao redor. Mesmo que com todos os bem feitos da vida, a folha pode sentir saudade de casa quando veem outras árvores, outros refúgios, mas que nenhum tronco terá os mesmos traços, a mesma grossura, a mesma copa. Jamais será como antes, e eu diria que todos nós somos como folhas, buscando por novas vistas, mas sempre olhando para trás, buscando pelo o que já passou, pelo clichê do dia a dia.
        Hina, Helena, Monster, Yan, Fire e eu, uma vez eu diria que nunca encontraria tantos enigmas em poucas pessoas, em poucos lugares, em poucas vistas. Tantos sentimentos envolvendo o coração, e maneiras diferentes de interpretar essa forma estranha do ser vivo tentar se expressar através de beijos, abraços ou socos e sangue. São sentimentos de mudanças extraordinárias, são pessoas de mudanças gigantes, só espero estar aqui, para vê-los mudar cada dia mais. E se eu pudesse adicionar mais um dia de vida, eu colocaria esse último dia, acima de um penhasco, vendo um pôr do sol, com lindas árvores para ver. O sol ss escorregando como aquarela em papel, como a beleza dos olhos da Deusa Afrodite, como tudo aquilo que um dia eu admirei. E mesmo que tudo seja em vão, essa luta que estamos buscando, eu vejo que por eles, vale a pena estar lá, para vê-los, ajuda-los, para ama-los até nos meus últimos suspiros. E dar a vida por aqueles que eu amo, que eu quero proteger, mesmo que minha vida não sirva como muito apoio, eu quero ser o ar que mantém essas folhas na direção que elas escolherem. É assim que deve acontecer, sempre assim.
        Fire foi com o cavalo de Monster até sua casa juntamente com Hina, para pegarem equipamentos acima dos que ela já trouxe. Helena estava arrumando algo para comermos, Yan e Monster... estavam tirando pedra, papel e tesoura para decidir quem ia ficar me olhando enquanto eu lia o livro que minha mãe Téia havia escrito. Claramente, eu sabia que minha interferência seria idiotice e claramente inútil. Então, dar ombros, e esperar que eles cresçam, que eles mudem, mesmo sabendo que isso demore anos para acontecer.
        Ainda que eu estivesse com a cabeça explodindo de dor, e meus olhos não parassem de lacrimejar lágrimas geladas, eu só queria poder pensar um pouco, no silêncio que se instalou enquanto os dois desempatavam a "competição" deles, e se conheço bem, Yan com certeza foi o dono da ideia infantil, e Monster, eu não sei dizer o porquê dele ter aceitado, mas desde a última briga dos dois, sinto como se essa fosse a coisa mais normal que eles já fizeram juntos desde que se conheceram.
         Olhei para meu livro acima da mesa e uma das lágrimas frias caiu sobre a palavra "Amor". Eu respirei fundo, e limpei aquelas lágrimas sem sentimentos de meus olhos, que já não eram mais meus, mas sim, da cor cinza. Já na página 21, capítulo Oito: "Além da Verdade", onde minha mãe retratava todos os sentimentos de estar grávida, era como pintar um lindo quadro, e descrever a emoção de estar sentindo as vibrações das cores, mas, dessa vez, era mais forte o sentimento, era voraz, era catastrófico, era intenso. Toda dor, mas toda a alegria, misturados em uma emoção profunda de seu coração e com suas palavras: "O sol queria escurecer, a lua queria derreter, e as estrelas queriam queimar. Mas acima de tudo, querida, eu queria ver teu rosto, mesmo sabendo que minhas palavras não seriam suficientes para descrever a amargura de não poder dizer o quão grande é o meu amor." Cada vez mais, eu a conheço, seria bom se, por acaso não haja maneira de eu sobreviver, eu me encontrasse com ela, seja lá onde ela esteja. Os trovões eram fortes do lado de fora da casa, e as gotas caíam sob a janela, poucas, por conta das árvores que formavam um grande guarda-chuva natural.
         Não demorou muito para que todos se reunissem na sala de estar, Fire e Hina voltaram com duas bolsas de couro, parecidas com a que Fire havia trago da primeira vez. Eu ainda estava sentada na cozinha, nenhum deles veio até mim para me chamar, talvez querendo que eu passasse meus dois últimos dias fazendo o que quero. Mas nem tudo são rosas, então, com pouca dor, me levantei da cadeira de madeira, deixando o livro acima da mesa, e fui até a sala onde todos estavam me olhando preocupados, dessa vez, até mesmo Hina me fitou com cuidado, como se estivesse preparada para me ajudar caso algo acontecesse. Eu sinto que essa atitude deles vá permanecer até que tudo esteja bem, ou que eu esteja morta.
       
Fire: Enfim... trouxemos equipamentos de proteção e caça. Acho que deve servir.- Disse se abaixando para abrir as bolsas.

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