Cap 7- Dia.

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•Yan.

    Eu não sei qual o problema dessa pirralha, mas ela me faz pensar na possibilidade de eu ajudar... e se eu conseguir mesmo o colar de Safira, a rainha finalmente vai me tirar dessa maldita floresta. Mas ficar servindo de babá da Stella é uma coisa que eu não pretendia.
    Entramos na casa, e para nossa surpresa, Negreira estava tranquilamente deitada no tapete em frente a lareira. Stella se sentiu aliviada, mas eu senti foi realmente um peso a mais... além de abrigar uma pirralha na minha casa, eu teria que suportar a gatinha de estimação dela. Eu estou ficando muito mole mesmo.
     Se ela vai ficar aqui, eu precisaria caçar o dobro de comida, então eu precisaria arranjar um jeito de ensinar essa pirralha ao menos usar uma arma qualquer, para começar. Mas não tenho a menor vontade de fazer isso... já que para conseguir a arma para ela, eu teria de reencontrar alguém que eu realmente não desejo ver nem por mil moedas de ouro.

Yan: Hoje não tem comida, então sei lá dorme que a fome passa.

Stella: Como assim?

Yan: Já é fim de tarde. Não vou te ensinar nada hoje, menos ainda vou caçar essa hora, a floresta fica um caos durante a noite.

Stella: Está bem... é... onde eu durmo?

Yan: Deita em qualquer lugar pirralha, ou quer que eu junte poeira para você se deitar?

Stella: Simpatia é tudo, não é, caçadorzinho?

Yan: Tchau.- Abri a porta.- Vou no lago tomar um banho.

Stella: Acabou de dizer que a floresta fica um caos e...

Yan: Pirralha, eu sei me cuidar, o problema é você lá fora, com esse colar você é o alvo principal dos monstros da tristeza.

Stella: Ok então.- Deu ombros.- Só não morre.

Yan: Digo o mesmo para você, animais da sombra tendem a ser meio... agressivos.- Sorri ironicamente olhando para Negreira.

    Eu precisava me afastar daquela menina. Respirar um pouco era realmente necessário para mim, já que eu estava realmente cansado, proteger essa pirralha está me dando um trabalho. Claro que eu poderia ter deixado ela morrer e depois tomaria o colar das mãos nojentas daqueles "vultos". Mas não teria a menor graça, lamento muito a morte de alguns deles, Íris ficaria uma verdadeira fera se me visse fazendo o que eu fiz hoje. Entretanto a culpa não é minha, ela que me pediu para fazer esse serviço de pegar o colar... então vou fazer do meu jeito.
      Sentei na beira do lago e olhei para o alto, as árvores cobriam todo o céu. Mas estava muito escuro, era começo da noite. Por mais que eu tenha tentado evitar, eu não consigo deixar de pensar na forma que os monstros tomaram... era a Ellie. Eu sei que eram apenas ilusões, mas mesmo assim, minha cabeça não deixa de voltar naquela mesma lembrança. Já devia ter me acostumado, essas criaturas me perseguem há séculos e eu nunca me importei... por que justamente hoje isso mexeu comigo dessa maneira? Talvez eu esteja realmente precisando sair daqui talvez eu esteja precisando, para melhorar, sair do lugar onde eu adoeci.
     Por um lado, até estou me sentindo meio mau por usar a pirralha apenas para conseguir o colar. Mas por outro ponto, eu vou fazer algo em troca então... não há nada de errado nisso. Pelo menos eu acho.
     Tomei um banho no lago e me vesti ainda com o corpo molhado. Entrei na casa e a pirralha estava deitada no chão. Sério que ela achou que eu estava sendo sincero quando disse que era para ela deitar em qualquer lugar? Que pelo menos fosse um pouco longe do caminho onde passo. Suspirando eu a peguei nos braços e coloquei no sofá. E fui para o meu quarto para ver se em duzentos anos, eu poderia ter uma noite normal e sem problemas. Onde eu conseguiria dormir sem ver demônios das sombras e da tristeza tentando entrar na minha casa.
     Infelizmente meu sonho de noite normal foi para o buraco junto com meu sono. Eu estava com o corpo cansado, mas minha mente estava parecendo uma guerra entre o cansaço e a vontade de ficar acordado. Não que eu queira passar a noite inteira em claro, mas eu estava com pensamentos estranhos, que giravam em torno do colar. Se eu consegui-lo vou viver como a muito tempo eu não vivo. Mas ao mesmo tempo, não vou estar com alguém que me ama, ou que eu amo... então seria uma vida vazia. Talvez eu consiga preenche-la conhecendo os dois mundos que ainda me faltam conhecer... ou não sei... talvez com loucuras. Mas uma vida eterna, sem dúvidas, vão haver coisas para fazer.
    Me sentei na mesa e fiquei olhando pela janela os vultos lá fora passando, mas acho que estavam apenas procurando o que fazer, já que supostamente eles nem sabem que Stella e o colar estão aqui dentro. Ou... melhor... até agora eles não sabiam. O que essa maluca está fazendo agora?! Ouvi-a gritar de desespero na sala, mas não havia nada lá.

Stella: Por favor deixa a gente em paz!- Gritava repetidas vezes.

Yan: Pirralha... para de brincar vai, está tarde. Vai dormir.- Cheguei perto e notei seus olhos fechados. Pesadelos?- Acorda.- Falei encostado no sofá, frente a frente com o rosto de Stella.

Stella: O que?!- Abriu os olhos que se encontraram com os meus.- Mas o que está acontecendo?

Yan: Você ainda tem sonhos de criança como consegue se assustar com "pesadelinhos"?- Falei me afastando.

Stella: Eu estava gritando?- Disse se sentando e suspirando.- Eu pensei que eu já tivesse superado isso...- Disse baixo.

Yan: Você não estava só gritando, estava esguelando feito uma gazela parindo.

Stella: Seja mais educado seu idiota.- Falou me dando um tapa.

Yan: Você quer falar de educação enquanto me bate? Que ironia.

Stella: Vou voltar a dormir, melhor do que ficar olhando para esse elemento de chatice.

Yan: Tá, beleza... entendi vou deixar você dormir.

    Quando eu vi os olhos dela... algo estranho aconteceu, era como se os olhos dela dissessem mil coisas. Mas quando ela abriu a boca o "momento" passou. Essa pirralha consegue ser extremamente irritante! Até a voz dela me dá vontade de fazer algo que eu provavelmente me arrependeria depois.

....

     Eu acabei adormecendo sentado na cadeira. Mas quando acordei, vi que do lado de fora estava claro, era dia e estava bem cedo. Então fui me vestir e arrumei minhas coisas... hoje eu começaria a "ensinar" a pirralha a pelo menos se mover mais rápido. Já que ela tem medo da própria sombra, e trava quando está nervosa. Isso só de ver qualquer um percebe.

Yan: Beleza pirralha, acorda.- Falei gritando e batendo uma panela na outra.

Stella: Qual é a necessidade disso?

Yan: Olha só, eu não tenho tempo para ficar esperando sua boa vontade de acordar.

Stella: Bom dia Negreira.- Falou passando a mão na cabeça da mesma.- Tá bom, o que vamos fazer hoje?

Yan: Vamos pular em árvores.- Se sentou e me olhou com um ar de deboche.

Stella: Eu pensei que tivesse entendido que eu quero aprender a lutar, e não virar uma espécie de macaco.

Yan: Escuta bem pirralha, você é uma verdadeira decepção quando se trata de batalha. Já que você trava quando tem medo. E nem sabe nadar para constar.

Stella: Você é uma decepção como pessoa e nem por isso eu falei nada.

Yan: Mas eu não quero aprender a ser uma boa pessoa. Quem quer aprender alguma coisa aqui é você.

Stella: Olha aqui senhor simpatia, eu não vou ficar pulando de galho em galho para você me empurrar na primeira oportunidade.

Yan: Qual é pirralha? Tá amarelando?

Stella: Não... eu só...

Yan: Não quer pular em árvores? Está bem... vamos começar com o básico então.- Falei interrompendo.- Vou te levar até a casa de uma amiga, vamos pegar uma arma para você.

Stella: É sério!?- Sorriu feito uma criança.- Ah eu sabia que você era realmente um fofo Yan.- Pulou e me abraçou.

Yan: Ta ta ta, agora me solta. Fica feliz no seu canto e eu fico no meu.- Pude ver sua expressão de vergonha e seu rosto meio avermelhado.

     Eu estava sentindo que ela me daria trabalho até chegarmos lá, mas eu também senti que não tinha escolha. E apesar de tudo, eu precisaria ver a pessoa que eu menos desejo ver. Mas se é necessário para ter o colar de Safira na minha mão... eu faria tudo. Ou melhor, quase tudo.


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