Cap 11- Como eu te vejo.

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~Yan.

   Olhar para aquela pirralha morrendo de vergonha foi realmente hilário, embora eu acho que ela me odeia um pouco. Enfim, mas eu não me importo com isso. Pelo menos ela fechou aquela matraca, e não me fez mas nenhuma pergunta, eu realmente não quero falar nada para ela e não é nem pelo motivo da morte, é realmente preguiça de explicar tudo para aquela baixinha insuportável. Eu tenho que usar todos os meus recursos para conseguir que ela confie em mim, mas eu não quero isso, eu não a suporto nem quando estamos sem falar um com o outro, imagina se ela confiasse em mim, iriam ser horas e horas falando da mesma coisa e reclamando das mesmas porcarias da vida "horrível" dela, eu não sei quanto tempo eu vou ficar aturando o fato dela achar que a vida dela é tão ruim, afinal, ela tem uma família, ela tem uma casa e um reino que dá tudo para ela... ela pode morrer algum dia. Mas realmente, sinceramente, a minha paciência vai ter que ficar bem por muito tempo se eu quiser o colar de Safira e consequentemente sair daqui.
    Depois de ficar brincando com meu arco, eu notei que a  pirralha estava saindo da casa com a espada que a Fire deu para ela, ainda não entendi como a Fire teve a coragem de dar a Imperatriz para ela, e ainda tentou se atrever a dizer sobre o colar da Stella. Apesar de que as duas tem muito em comum, incluindo a chatice, os atos infantis, e as irresponsabilidades. Mas isso não era coisa para eu ficar pensando.

Yan: O que quer agora?- Falei resmungando.

    Ela me ignorou totalmente e começou a atacar a árvore com a espada. Cocei os olhos para tentar ver se era isso mesmo, o que será que ela estava fazendo? Fiquei parado observando ela, com aqueles cabelos ruivos cobrindo o rosto, deixando visíveis apenas seus olhos violeta. Eu nunca vi ela calada, ao não ser quando ela estava dormindo, também nunca vi ela focada em algo, o que será que deu nela... será que ela tava imaginando que a árvore era eu?

Yan: Pirralha?- Toquei em seu ombro e ela me olhou por cima do ombro.- Você tá bem?

Stella: Você reclama que eu estou sempre falando ou te perturbando.- Voltou a atenção para a árvore.- Agora é você que não me deixa em paz.

Yan: Pirralha..- Ri.- Se você quer aprender a usar a espada eu te ensino, lembra do nosso acordo? E você me incomoda mas só um pouco.

Stella: No entanto você se queixa.- Sorriu e virou a espada para mim.- Você enrola muito, eu não tenho tempo a perder, então seja legal e me deixe em paz.

Yan: Está me desafiando?- Sorri.- Nada melhor do que um bom jogo.

Stella: Não.- Abaixou a espada.- Era uma tentativa de fazer você se afastar.

Yan: Ah não seria uma má ideia um jogo, seria até melhor para você aprender o básico...- Falei olhando para a cara de tédio de Stella.- Vai pirralha, faz muito tempo que eu não jogo com ninguém.

Stella: E o que você quer dizer com jogar?

    Essa frase, esse tom de voz, o jeito que ela revirou os olhos. Me lembraram a época em que conheci a Ellie, eu fiz esse jogo com ela, só para poder mostrar para todos que eu era um grande guerreiro. Mas eu me senti um pouco mau por ver que Stella fez o mesmo gesto que Ellie, afinal eu nunca mais veria, e isso me desanimou, eu até pensei em desistir mas será que eu deveria me render?
    A saudade da Ellie era uma coisa constante, e eu me lembro exatamente da luz do olhos dela, e som do riso. Ainda mais quando estava lutando comigo, ela era meio sádica eu devo admitir, mas era uma das coisas que eu mais amava nela. E com esses pensamentos eu nem notei que estava olhando fixamente para Stella, que parecia estar bem desconfortável com isso. Eu quis me desculpar, mas eu não queria parecer fraco, então sorri ironicamente. O que fez com que ela revirasse os olhos novamente. 
     Se eu continuasse enrolando para falar, eu sei que perderia a minha oportunidade de me divertir um pouco, mas mesmo assim, o silêncio era uma coisa que até estava boa no momento, eu só podia escutar o som das folhas dançando ao vento, e o som do respirar dela. Nada de odiar, ela até parecia outra pessoa quando olhava para mim espera, o que eu estou pensando? Eu não posso ficar aqui parado como uma esponja do mar. É melhor deixar essa sensação boa para outro momento e explicar como funciona o jogo.

Yan: Bem...- Desviei o olhar.- o jogo é simples. Você vai ter a chance de me acertar três vezes, e eu só vou me defender.

Stella: Mas se isso machucar você...

Yan: Não vai. A espada que você vai usar não vai ser a Imperatriz.- Interrompi.

Stella: O que supostamente eu vou usar para "bater" em você?- Falou fazendo aspas com os dedos.

Yan: Um galho, eu vou usar um também.

Stella: E qual é a graça desse jogo?

Yan: É ai que vem a parte boa, você pode usar qualquer tipo de ataque, seja ele com magia, o que eu suponho que você não saiba usar, ou com qualquer coisa em si.- Dei ombros.- Mas se você não me acertar nenhuma vez, vai ter que fazer o que eu quiser durante um dia inteiro.

Stella: Você tá brincando não é?- Arqueou a sobrancelha.

Yan: O que foi pirralha? Tá com medinho?

Stella: De você?- Riu em tom irônico e me olhou logo depois.- Nunca.

Yan: Então você aceita o meu desafio.- Concluí.- Ah e só mais uma coisa, quando eu digo todo tipo de técnica, eu me refiro a tudo mesmo.

     Quando ela assentiu com a cabeça, eu pulei em uma árvore e peguei dois galhos. Sei que pode parecer um pouco infantil eu me sentir tão ansioso para jogar depois de séculos. Juro que pensei que ela não aceitaria, mas fiquei extremamente feliz quando vi que ela estava querendo se divertir também, concluí isso por conta do seu sorriso. Que logo se desfez quando eu falei "já", e sumi no meio das árvores. 
     Eu pensei que ela demoraria a me ver, então já estava cantando vitória, mas eu me enganei. Eu vi ela se aproximando da árvore que eu estava e sorrindo, como se dissesse: "ganhei". Mas o único que pode com essa arrogância toda sou eu. Saí correndo em volta da casa como uma criança de cinco anos, e para completar, fiquei fazendo barulhos estranhos para caçoar dela. Para a minha felicidade ela parecia estar gostando, dava para perceber pelas suas risadas altas e claras, era um momento que eu sem dúvidas guardaria no meu coração por um bom tempo, apesar de ser com a pirralha que eu menos tenho vontade de estar, mas, mesmo assim, eu pretendo não esquecer desse dia.





















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