Cap 13- O jardim de sonhos.

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Stella.

Acordei com o sol batendo na janela. Me levantei, e não estava vendo Negreira. E pensei como estava estranhamente silencioso. Será que estou sozinha? Nada de Yan em nenhum canto da casa.
Seja lá o que está acontecendo, é muito estranho. Tentei chamar por Yan, mas minha voz travou, foi quando decidi sair da casa, não era a mesma floresta, era o jardim.... Da minha casa? Mas como é possível?
Quando virei lá estava a minha casa, eu não pensei que voltaria aqui de novo e tão cedo... será que Yan se cansou de mim e me trouxe.
Foi ai que eu percebi, a casa estava com as luzes acesas. Coloquei minha cabeça na janela, e meu coração acelerou, minha mãe estava sentada na sala com as mãos esticadas para a lareira, corri rapidamente para entrar em casa, para que eu pudesse olhar os seus olhos novamente.
Mas foi estranho quando tentei entrar na casa, a porta só abriu uma pequena fresta, não consegui abrir mais que isso pois ela havia travado, eu quase não via nada lá dentro. Foi quando eu ouvi seus gritos. Não de novo não!
As lágrimas em meu rosto escorriam e eu senti as mãos nos meus olhos. Eu só podia ouvir, e não tinha como fazer nada.

Stella: Não! Eu tenho que fazer alguma coisa!- Levantei do chão ofegante.

Yan: Pirralha?- Correu até mim.- Você tá bem?

Stella: Sim... e...eu tô.- Falei com dificuldade.- Pesadelos.

Yan: Assim você me assusta pirralha.- Disse em tom aliviado.- Bom ainda é noite, melhor você voltar a dormir.

Stella: Não posso dormir...- Senti uma lágrima descer por meu rosto.

Yan: Você tá chorando?- Falou passando o dedão abaixo do meu olho.- Foi muito ruim?

Stella: Antes de tudo, se afasta...- Tirei a mão dele do meu rosto.- vou lá fora tomar um ar.

Yan: É perigoso, a madrugada na floresta das sombras é muito traiçoeira.

Stella: Ah, se você me dissesse ao menos o que é essa floresta em si, eu saberia dos perigos não é...- Revirei os olhos e me sentei no sofá.

Talvez, pela primeira vez, o caçador tinha entendido que eu queria ficar sozinha, e que eu precisava de um tempo para saber o que é a minha realidade. Esses pesadelos se tornaram constantes desde que cheguei aqui as vezes eu desejo que em um desses pesadelos eu consiga entrar na casa para abraçar minha mãe. É um dos meus maiores desejos caso eu não consiga chegar até a Árvore da Vida.
Yan foi um tanto quanto compreensivo, mas eu realmente não queria que ele ficasse tão perto de mim como ficou há uns minutos atrás eu me sinto um pouco estranha, como se eu não entendesse meus próprios sentimentos. E bem eu tenho que concordar que a floresta parece perigosa durante a noite, pois olhei pela janela, e vi olhos vermelhos em meio a escuridão. Alguns eram azuis vibrantes como os raios de Zeus. Era uma coisa que despertava minha curiosidade apesar do medo.
Eu estava acordada em meio a madrugada, e não queria atrapalhar nem o sono de Negreira, menos ainda o de Yan. Então eu me levantei e me dei a liberdade de "explorar" a casa, já que eu só conhecia a sala e o quarto dele. Até o banheiro no final do corredor, mas nunca abri as outras portas. E aproveitando que ele estava no quarto dele, eu resolvi não fazer barulho caso ele se sinta incomodado pelo fato de eu andar pela casa que nem ao menos sou muito bem vinda.
Andando pela casa, notei que o chão era um tanto quanto macio, e me parecia muito com a sala da minha casa. Parando na primeira porta do corredor, eu sabia que o quarto dele era bem na frente. Então lentamente eu abri a porta, que rangeu mas não houve sinal de Yan. E a única reação que eu tive foi "Uau", aquele quarto era muito diferente de tudo o que eu já vi, era muito arrumado, as prateleiras tinham livros e decorações fofas como pequenas arvorezinhas, aquelas que as pessoas vendem no festival de primavera.
O quarto predominava na cor amarela, e haviam pinturas nas paredes, que contornavam todo o quarto como se fosse o dia passando da esquerda para direita. O sol nascia em um lado do quarto, e a noite começava do outro lado. Mas algo que me encantou foi o quadro que ficava no criado mudo, então resolvi pegá-lo apenas para saber o que era. E com o pouco de luz que tinha das velas, eu consegui ver. Era uma mulher, extremamente bela, com os olhos castanhos e cabelos louros, eu nunca vi ninguém parecido... era um sorriso tão sincero, que eu nem ao menos consegui manter a mesma expressão e sorri também. Mas tinha uma coisa estranha, o outro lado do quadro, estava muito quebrado, como se alguém não quisesse deixar ver a outra parte. E uma coisa apertou forte o meu peito, me deixando derrubar o quadro, que fez um som forte ao se quebrar em vários cacos. Ouvi seus passos e depois, o vi na porta com um olhar triste, ao correr para pegar o quadro do chão.

Yan: O que você fez?!- Me olhou com seu olhar de ódio.

Stella: Me desculpa eu só queria...

Yan: Você não tinha que estar aqui! Nunca devia ter entrado aqui.- Pegou meu braço e me levou até a sala, com a dor, pois estava apertando meu braço muito forte, eu caí no chão quando ele me soltou.- Aquela era a minha última lembrança dela!

Stella: Me desculpa por...

Yan: Escuta pirralha!- Interrompeu.- O que sentiria se eu quebrasse o seu coração em pedaços?

Stella: Eu não sei. Não consigo nem imaginar.

Yan: Tenta!- Gritou.- Não consegue né? Eu não imaginava como seria se eu acabasse com a última foto que eu tinha dela! Agora eu sei, então quando você sentir o que é perder alguém ou algo que você ama, ai sim, finalmente vai sentir a minha dor.- Virou as costas.

Stella: Mas eu já perdi...

Yan: E por que pede desculpas falsas?

Stella: Não foram falsas Yan. Você nem deixou eu me explicar.

Yan: Pirralha, eu não quero explicações, você nem sequer entende o que é perder alguém, e depois, perder a lembrança que você tinha dela.

Stella: Agora é sua vez de escutar.- Me levantei do chão.- Acha que só você sofre por ter perdido alguém? Eu perdi duas pessoas que me amavam, e eu ainda afastei minhas três irmãs de mim, eu só cometo erros. Mesmo assim caçadorzinho, eu realmente não compreendo o que eu sinto, talvez eu me sinta culpada as vezes, mas eu consigo guardar para mim, não faço igual a você que precisa me desprezar sempre que cometo um erro, para suprir a dor que sente e não demonstrar ao menos o pingo de senso que você supostamente tem.

Yan: Você cometeu um erro grande ao quebrar aquele quadro.

Stella: Isso já estava quebrado Yan.

Yan: Pirralha... ela era tudo para mim.

Stella: Quem era ela?- Toquei em seu ombro e ele tirou a minha mão e ficou segurando-a por alguns segundos antes de andar.- Por que você sempre esconde as coisas de mim?

Yan: Eu quero te mostrar. Palavras não explicariam, assim que o sol nascer e lá fora estiver seguro... eu... eu quero te levar em um lugar.

Stella: Tudo bem...

Foi estranha a mudança de humor de Yan, ele simplesmente andou calmamente até a cozinha e se sentou numa cadeira. Eu não tenho ideia do que seja esse lugar que ele quer me levar.

StellaOnde histórias criam vida. Descubra agora