Cap 24- O lidar com a chegada.

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•Stella.

      Já fazem seis dias e cinco noites desde que eu fui embora. Acabei me instalando em um vilarejo que Negreira me trouxe enquanto eu dormia. Só espero que não hajam bruxas malucas por colares e nem caçadores que possam revirar meus sentimentos e depois desvirar e deixar pior do que eu já estava.
       Essa tarde eu parei em uma estalagem para poder beber e comer algo, faziam dias que eu não comia nem bebia direito.
      Enquanto eu estava sentada no balcão aguardando meu pedido, me perdi em pensamentos turbulentos, os quais eu nem sequer desejava ter. Para começar, fiquei imaginando se eu faço falta para Yan... mas conclui que não, que ele deve estar bem sem mim, já que tudo o que ele, supostamente, fez por mim... tudo aquilo foi um personagem para me persuadir a dar o colar para ele, ou sei lá, algo do gênero. Só sei que ele mentiu e muito bem aliás, tão bem, que eu nem ao menos desconfiei que ele estava só brincando com meus sentimentos.
       Me pergunto se parecia divertido brincar com meu coração desse jeito, talvez sim, para ele pode até ter sido uma espécie de passatempo. Para mim, tudo o que está acontecendo comigo é injusto, eu nunca fiz nada de mal para ninguém, nunca nem desejei o mal de nenhum ser vivo. Mas admito que me dói bem no fundo, o fato de Yan, um ser que me ensinou um sentimento que eu nunca imaginei sentir, um homem que apesar dos séculos de diferença de idade, me entendia, me fazia entende-lo também... mentiu para mim, me enganou e revirou minha mente como um idiota. O que basicamente ele é. 
        Parte de mim grita para eu ir até a floresta, chamar por seu nome e dizer o quanto eu o amo. A outra parte diz que eu devo continuar me afastando cada dia mais, e me manter longe dele para que um dia eu possa lhe esquecer. Eu chamo isso de guerra entre o cérebro e o coração. Tenho para mim essa ideia, desde a primeira discussão que eu tive com minhas irmãs, como eu disse, parte de mim diz para perdoar, essa a que seria meu coração (que não vê mal nenhum, apenas sente e interpreta o amor como a base de todo o perdão.) e a outra parte diz que eu devo guardar todo mal que me fazem, e depois usar isso como desculpa, ou seja, guardar rancor, esse que seria meu cérebro (racional, que pensa, mas que geralmente está tentando manter o controle e usa os atos errados como base para uma espécie de ódio).
          Verdade seja dita, eu sempre ouvi meu coração acima de qualquer coisa, mas hoje, nessa situação em que me encontro, decidi pensar com o cérebro dessa vez. Rancor nem sempre é a melhor arma, mas com certeza é o melhor escudo. Contudo, eu não sei ao certo se vou ficar muito tempo longe de minhas irmãs, afinal, mesmo que tenham supostamente mentido, elas são da minha família e eu cresci aprendendo que família é acima de tudo, acima de quaisquer problemas e sempre será nosso porto seguro.
           Perdida em um mar de pensamentos, uma coisa me impressionou, a estalagem que antes estava barulhenta por conta do falatório, agora está extremamente silenciosa. Todos os homens e algumas mulheres estavam olhando para a porta, com um olhar muito estranho, como se temessem algo.
           Foi então que, o moço me trouxe meu pedido e eu resolvi tirar minhas dúvidas. 

Stella: Senhor, pode me responder uma pergunta?

???: Por favor seja breve.- Disse apreensivo.

Stella: Por que estão com tanto medo?

???: Escuta mocinha, ele está chegando, e qualquer coisa errada pode fazer com que todos aqui sejam mortos.

Stella: Ele quem?

???: Monster.

      O tom de sua voz foi dramático, ele ajeitou os óculos redondos em seu rosto e depois apertou sua gravata borboleta. Pude sentir seu medo, acho que á quilômetros de distância daria para saber o quão assustado esse moço estava.
      Foi quando, pela porta de madeira, entrou um homem. Apenas pelo jeito de olhar ele parecia assustador. Ele estava usando uma espécie de terno preto e em suas mãos e rosto tinham marcas parecidas com flores, ou que pareciam desenhos feitos por livre e espontânea vontade. Usava também muitos anéis em seus dedos e parecia ser um homem um tanto quanto rico.
       Se aproximando lentamente do balcão, ele estava com os olhos fixados em mim. Fiquei muito desconfortável, então me virei para o senhor que trabalha aqui. 

StellaOnde histórias criam vida. Descubra agora