•Stella
Acordei no dia seguinte com o vento, uma sensação estranha tomou conta de mim, olhei pela janela. O cheiro da chuva se aproximava do meu quarto em quanto ouvia pequenas gotas se espalhando pelas folhas, próximas às estradas de terra de nossa vila. As pessoas passavam correndo, retirando suas roupas dos varais. A minha primeira reação foi péssima, pois sei que em dias como esse, estar isolada por conta de uma tempestade em potencial, é uma coisa péssima.
Desci a escada resmungando mas algo me surpreendeu, eram Lilith e Sunset, e pelo tom estavam discutindo sobre algo. Fiquei parada olhando para as duas falando, mas por alguma razão eu sabia que Lilith havia sentido minha presença, mesmo assim continuou falando.Lilith: Eu, você e Luna crescemos estudando fora de casa, na teoria e na prática estudávamos em uma boa escola e eu acho que todos têm esse direito! Se você não quer deixar Stella estudar numa escola, eu mesma vou levá-la e buscá-la todos os dias.
Sunset: Formidável.
Lilith: Ora Sunset tem como parar de agir feito criança!?- Virou as costas.
Sunset: Usei uma unica palavra e você se irritou facilmente possuí certeza que a criança aqui sou eu Lilith?
Lilith: Sim! Uma criança com medo que a sua irmã mais nova fique mais forte que você.
Ao terminar a frase Lilith virou-se para Sunset e a discussão parou, pois no olhar de Sunset, pude ver uma expressão de ódio e, possivelmente, tristeza. Foi quando eu me aproximei, e fitei Lilith, e logo em seguida desceu Luna sem aquele sorriso de sempre, o que me fez entender que o que Lilith disse, foi extremamente ofensivo por alguma razão.
Na intensão de amenizar tentei falar algo mas Luna pôs a mão em meu ombro e, quando á olhei, balançou a cabeça negativamente. Como se me dissesse: "Não é uma boa ideia".
Sunset dali saiu, batendo a porta da frente e Lilith começou a cortar algo na pia. Eu apenas me sentei em uma das cadeiras na sala de jantar, ao lado de Luna que estava tão confusa quanto eu... olhei para o relógio de parede, eram oito da manhã, "o que elas estão fazendo em casa ainda essa hora?" pensei. Luna deveria estar trabalhando como guarda real e Lilith deveria estar cuidando daquele cachorro de três cabeças, que eu me arrepio só de lembrar.Luna: Você imagina o que houve?- Disse baixinho.
Stella: Não.- Falei no mesmo tom.
Luna: O que a Lilith disse foi muito grosseiro, ela sabe que Sunset é extremamente vulnerável quando se trata de força.
Stella: Eu acho que durante a discussão aconteceram mais coisas, a gente deve ter pego somente o final.
Lilith: Não deveriam ficar fofocando sobre o problema das pessoas.- Disse colocando as coisas do café da manhã na mesa.- Esse assunto está encerrado.- Se sentou.
Stella: Mas a gente quer saber o que realmente aconteceu.- Dei ombros.
Lilith: Stella será que eu falei outra língua? Assunto encerrado.
Stella: Mas qual o sentido de tudo isso Lilith?
Luna: Stella chega.- Falou baixo.
Stella: Não é justo ficarem brigando o tempo todo e além do mais, eu escutei o meu nome no meio. Eu quero saber.
Lilith: Vamos comer em silêncio. Mas antes agradeceremos aos deuses e as deusas por nosso alimento.- Ignorou o que disse.
Como ela fez, eu a ignorei, e comecei a comer antes mesmo de começarem a agradecer, já que eu realmente estou cansada de ordens, brigas, "segredinhos". E mesmo que eu estivesse acompanhada, eu me sentia sozinha dentro da minha própria casa. Está cada dia pior a sensação de viver com minhas irmãs. Claro, admito que Luna é a única que nunca teve problemas comigo, talvez por nossa pequena diferença de idade. Sunset é a mais velha e se acha no direito de transformar não só a minha vida numa prisão, mas também a de Luna e a de Lilith.
Talvez eu esteja sendo um pouco dura em questão da Lilith, já que ela não só da ordens como a mamãe, como ela cuida como a mamãe e age como ela. Então posso dizer que ela respeita e exige respeito, o que totalmente o contrário do que Sunset faz, ela simplesmente quer tudo do jeito dela não importa o quanto eu tente mostrar que nós três estamos cansadas dessa vidinha miserável e de agir como ela quer.
Mas como sempre não tenho voz então minha única razão para estar aqui é o amor que sinto pelas minhas irmãs... pois se fosse por amor á mim mesma eu já teria ido embora... afinal elas só perceberiam no final do dia. Falando em final do dia, eu percebi que ele mau havia começado, e Lilith e Sunset já estavam brigando por minha causa. Isso é problemático tanto para minha, quanto para a sanidade mental delas também. Estar cansada e aturar todos os dias esses tipos de brigas, que as vezes nem fazem sentido. Como por exemplo "não fala essa palavra é feia", e entramos em uma bola de neve onde somos simplesmente espremidas até uma gritar e sair do jeito mais difícil... que é contra a vontade dessa bola de neve. Apesar de tudo o que vivo e sinto, as vezes olho do lado de fora da casa e penso que talvez não haja alguém lá fora disposto a cuidar de mim como Lilith e me fazer rir como Luna... e mesmo com todos os defeitos de Sunset, acho que não existe alguém mais forte que ela em questão de mente... já que ela foi a única que viu de fato mamãe sofrendo cada momento de sua dolorosa morte. Eu que fiquei apenas ouvindo não consigo nem imaginar como teria sido para mim, olhar tudo aquilo acontecendo, fico com medo só de pensar em tudo o que aconteceu.
Queria finalmente poder sentar na frente de uma quentinha lareira, comer os biscoitos incríveis que Lilith faz, ouvir as histórias malucas da Luna e poder me aconchegar no abraço quente da Sunset. É uma pena que isso tenha acontecido uma única vez em nossas vidas, e foi o pior melhor dia de todos... mas depois, quem sabe, eu explico isso melhor. Mas só quem sabe mesmo talvez ninguém nunca entenda o que se passa na minha mente.
Luna havia saído, e Lilith estava do lado de fora regando umas plantas esquisitas que nasceram há alguns dias. Claro que eu não conseguiria sair com Lilith em casa, mas eu realmente queria tentar esse tipo de adrenalina. E então peguei meus livros velhos, os quais já li milhões de vezes, e coloquei em baixo das cobertas para parecer que eu estava dormindo. Peguei meu casaco cinza, coloquei uma calça jeans e tomei meu guarda-chuva em mãos. Pronta para sair um pouco da minha queria odiada casa. Sendo bem sincera, nunca encontrei uma razão para sair escondida como leio em alguns livros, que adolescentes fogem de casa para encontrar com o grande amor, ou para poder beber álcool e sair igual louco xingando as pessoas das vilas alheias.
Pulei pela janela com um único livro na minha mão esquerda, e com a direita o guarda-chuva. E saí andando como se nada estivesse acontecendo.
Ao chegar perto da árvore torta, vi Negreira deitada abaixo dela. Parecia tão tranquila e também senti que ela queria me ver pelo menos gosto de acreditar que sim. (Já que a maioria das pessoas, geralmente, não querem me ver) mas talvez não se aplique a ela já que é um animal... não é? Estou errada? Ah deve ser loucura. Sorri ao pensar nisso, e sem me importar em sujar a roupa, me sentei abaixo da árvore e apoiei o guarda-chuva de modo que eu não tivesse que segura-lo.
E esses dias de chuva sempre me lembraram mamãe, a única que dizia que a chuva é uma dádiva dos deuses. Eu e Luna morríamos de medo. Até me lembro dos dias em que mamãe simplesmente usou os poderes dela para nos assustar. Era responsável? Não nem um pouco. Mas acredito eu que era engraçado, para nós cinco.Stella: Ainda sinto falta dela.- Acariciei Negreira, e abri o livro justamente em uma página que provavelmente foi obra dos deuses aparecer naquele exato momento.
Negreira me olhou meio confusa, pois abri um sorriso bobo no rosto e comecei a ler sobre aquilo. Talvez isso possa me ajudar, e ajudar as minhas irmãs! Quem sabe com isso eu até possa, FINALMENTE, ter a minha paz que tanto desejo!
Passando as páginas do livro, eu me deparei com algo que eu não queria; a parte do mapa que levava até essa coisa que ajudaria está borrado por causa da chuva.
Naquele momento meu sangue ferveu e eu perdi a cabeça. Me levantei do chão e comecei a chutar o chão como se isso fizesse alguma diferença. Quando percebi a minha criancisse e minha falta de maturidade olhei para Negreira que se pudesse me chamaria de louca.Stella: Não me olha assim. Vou ir agora mesmo falar com elas, mas... acho melhor esperar o sol se por, todas vão estar em casa. Vou tomar uma bronca e ficar algumas horas no quartinho. Mas vale a pena, eu acho.
Fitei a pantera que realmente fez uma expressão de quem não aprovava a ideia. Mas era a única coisa que eu poderia fazer. E sinto muito se Sunset, Lilith e Luna vão ficar revoltadas. Não seria a primeira vez e eu prometo que vou me controlar para não explodir e vou me manter focada nisso. É o único jeito de trazer a mamãe de volta e transformar a minha vida de boa para melhor.
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Stella
FantasíaSer um nada em meio a própria vida pode parecer estranho apesar de normal. Stella, uma garota de poucos anos, descobre em menos de um mês, que tudo pode se resumir em sombras e tristeza, rainhas más, estrelas, uma floresta escura e amigos de raças d...