Cap 27- Amanhecer.

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Stella 

      Negreira e eu estávamos andando numa mata que eu não faço ideia de onde seja. O pôr do Sol já estava chegando e eu não sabia onde iria passar a noite. Mas confesso não estar tão preocupada com isso, no momento, eu apenas desejo um livro bom para ler e me acalmar.
     Essa última semana tem sido realmente insuportável, nenhum momento eu tive paz, e quando eu tive, eu só consegui pensar nele e em como eu sinto saudade. Mas o que eu poderia fazer? Voltar e dizer: "Olha você me enganou, me iludiu e me fez me apaixonar muito por você. Mas eu voltei porque te amo, mesmo que tenha sido mentira tudo o que a gente viveu, eu te perdoo." Claro que eu não faria isso, embora vontade não me falte. E eu imagino que seja esse o motivo pelo qual eu preciso ir o mais longe possível, para que eu nunca volte para aquele lugar.
     A respeito do Mon, eu queria poder jogar o anel fora, mas por alguma razão, ele se ajustou perfeitamente no meu dedo, ficando de uma forma que eu não desejava. Pensando nisso eu fitei por uns instantes e depois eu olhei para Negreira que parecia cansada, então achei melhor descer e parar para que ela pudesse descansar. Sobre nossa viagem, estamos andando há um bom tempo sem parar talvez por isso Negreira tenha dormido assim que paramos.
      Me sentei ao seu lado e ela me envolveu, provavelmente na intensão de me esquentar. Pois estava ficando frio e ao meu ver íamos passar a noite ali mesmo. No entanto, eu nem ao menos consegui pregar os olhos.. me mantive acordada pois minha cabeça estava doendo e eu estava muito pensativa.
      Tinham duas razões pelas quais eu não conseguia nem sequer dormir, e eu chamo essas duas coisas de mãe estrela e mãe de coração. Seria estranho eu dizer que gostaria de ter conhecido a Téia da mesma forma que eu conheci a Leonor? Talvez seja, mas imagino que eu teria uma relação boa com ela. Gostaria de enfim conhecer alguém que viveu com ela, que á conheceu... mesmo que seja impossível, mesmo que seja uma loucura imaginar que exista alguém nos quatro... ou melhor, cinco mundos que conheça minha mãe. E sobre Leonor, devo admitir que sinto sua falta todos os dias da minha vida, e, conforme passo em alguns vilarejos, eu vejo algumas crianças, em especial meninas, que estão se divertindo com seus pais, ou em específico as suas mães. Me pego até parando nesses lugares e encarando as pessoas, que se assustam com a minha presença. 
       Mesmo muito confusa e muito pensativa e vendo que a noite estava ficando mais clara. Eu estava cansada e precisava ao menos tirar um breve cochilo. Dormi e só me lembro da sensação de estar descansando.

Me levantei do chão quando me acordei, e acabei me encontrando na floresta das sombras. Algo fazia com que eu quisesse ir embora, mas também eu sentia vontade de estar ali, então eu corri floresta á dentro e não esperei mais nenhum sentimento bobo que me fizesse querer voltar.

E quando eu notei, vi sentado, naquele mesmo lago onde eu quase me afoguei, Yan. Naquele mesmo momento, eu quis voltar e ir embora. Mas, do mesmo jeito que aconteceu da última vez que estive aqui, eu caí no lago... ou melhor, algo me empurrou lá; e dessa vez, eu consegui olhar para trás mas só vi seus pés que usavam uma bota feita de couro acinzentado, enquanto andava para ir embora. E, de desespero por estar me afogando, eu comecei a gritar. O que me fez perceber que eu estava apenas... Sonhando?

Stella: Socorro!

      Abri meus olhos e me encontrei numa cama. Tentei reconhecer o lugar, porém foi em vão, eu não tinha ideia de onde estava. E para completar a minha preocupação, eu não sabia onde Negreira havia ido parar, junto com a minha espada.  Então, com uma dor infernal na minha cabeça, eu me levantei e passei a observar os aspectos do lugar onde eu acordei; a cama ficava no canto daquela sala, andando mais um pouco havia um sofá vermelho e velho, enfrente a lareira de tijolos alaranjados. Um fogão enferrujado e uma mesa de madeira podre a qual estavam arrumadas, uma na frente da outra, duas cadeiras com acento de veludo amarelo. A casa estava totalmente fechada, tanto janelas, as quais estavam com cortinas da cor do sofá, quanto a porta que tinha um pequeno espelho pendurado. Não citei o imenso tapete empoeirado de cor também vermelha, que tinha desenhos em preto, e que estava bordado ao seu redor com a cor marrom.
      Tentei abrir a porta, mas estava trancada, e o mesmo se aplicava para as janelas. 
      Entrei em um completo desespero, e pedi para que os deuses por favor não me deixassem ficar presa em uma jaula novamente, eu não quero ficar sozinha de novo em um lugar escuro. Pensando nessas coisas acabei caindo no chão e comecei á respirar muito rápido, meu coração acelerou e eu só conseguia pensar nos dias em que eu fiquei presa e sendo torturada por Íris... mas claro, como pude ser tão burra de dormir no meio do nada? Sendo que existem pessoas que me odeiam e eu nem ao menos sei o motivo, essas pessoas podem ter me sequestrado enquanto eu dormia naquele lugar...
      A minha cabeça começou a doer mais ainda e eu gemi de dor. Era como se um som agudo entrasse devagar nela e me fizesse sentir a dor de uma injeção, porém, no corpo todo. Não entendo qual o meu problema, mas por algum motivo tentei abrir a porta de novo. E quando me aproximei da porta, me olhei no espelho e um dos meus olhos estava cinza. Com o susto que eu tomei, eu acabei esbarrando na mesa, e caí no chão. O que está acontecendo comigo? O som novamente voltou e eu estava começando á sofrer mais ainda.
      Minha vida desde que minha mãe morreu, não tem sido nada normal, primeiro os problemas com minhas irmãs e se eu soubesse que eu iria começar a ter problemas com meu próprio corpo, eu nunca teria saído de casa.

StellaOnde histórias criam vida. Descubra agora