Capítulo 44

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Epílogo
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Agradecimentos

Rafaella

- Quer que eu leia em voz alta, mãe?

- Quero... quero sim!

Ela diz balançando a cabeça assentindo e sentando no sofá, respiro fundo e sento ao lado dela, abrindo o envelope e em seguida a carta.
Quando vejo a letra de Raissa, meu coração acelera e sinto meus olhos se inundar de lágrimas.
Então, começo a ler, e imaginar a doce voz mandona da minha irmã.
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Mãe e Rafa,

Bom, se estão lendo essa carta, quer dizer que eu morri no parto da Dalila e, melhor, vocês duas então juntas e bem.

Rafa, quando me dei conta de que poderia morrer no parto, eu senti medo, medo de ir embora e deixar a minha filha sozinha, então, a cada dia que passava, eu começava a entender porque eu iria morrer.
Além de dar vida e dar a chance da minha Dalila de viver, eu comecei a entender que a minha morte daria para Rafa a chance de se tornar a melhor mãe do mundo.
Eu falava: posso estar doida, Rafaella nunca pensou em ser mãe, se eu morrer e deixar Dalila com ela, Rafa vai surtar e Deus sabe o que vai acontecer com as duas?
Quando Rafa conversou com Dalila, ainda em minha barriga, lembra Rafa?
Eu entendi que sim, eu precisa dar a você a chance de mudar de pensamento e de vida.
Então escrevi a primeira carta dando a guarda da Dalila para você.
Então teve um dia em que você surtou na frente do computador, eu comecei a rir, mas ali eu percebi  que você surtaria caso eu morresse no parto e com certeza, você levaria ela para a Irmã Rose.
Então escrevi a segunda carta.
Isso é para mostrar o quanto eu te conheço, irmã, talvez até quando estava na barriga da mamãe.
E se hoje você está lendo essa carta, quer dizer que eu estava certa.
Sei que menti, sei que te magoei, muitas coisas podem ter acontecido durante esse período, mas eu te amo e tudo o que fiz foi pensando na gente.

Mãe, a vida inteira, desde aquela noite quando nos deixou no orfanato, eu alimentei uma mágoa tão grande da senhora que eu não sabia aonde ela poderia me levar.
Tinha raiva porque eu acordava de madrugada chorando, querendo a senhora e tudo que eu tinha era a irmã Rose tentando me acalmar, mas não era a mesma coisa, não era o mesmo amor que eu sentia quando você acordava e corria para o meu quarto na nossa antiga casa.
Toda essa mágoa, eu comecei a alimentar a mágoa da Rafa.
Meu Deus, se foi difícil ela te perdoar, eu tenho culpa, uma grande parcela de culpa nisso tudo.
A vida inteira eu disse a Rafa o que você fez, o que poderíamos ser se não tivesse nos deixado e isso, toda minha mágoa alimentou a mágoa dela, que se tornou raiva e ódio.
Quando a vi pela primeira vez, eu me lembrei da senhora imediatamente, eu sempre me lembrei do seu rosto e eu sempre soube que quando eu a visse na minha frente novamente, eu a reconheceria, saberia quem a senhora era, e foi isso que aconteceu, assim que eu a vi, mãe, eu soube na hora que você era a minha mãe.
Seu sorriso, seus olhos, boca, a cor da sua pele, mãe, o seu jeitinho todo meigou com seu filho Felipe.
No começo, eu até me senti chateada por ver o amor que dava a ele e o amor que poderia ter dado para a gente, mas eu sei, mãe, que por algum motivo você não pode dar.
Você não se parece nada com a mulher que nos deixou no orfanato da irmã Rose, se parece com a mulher que cuidava da gente antes do nosso pai morrer, alegre, gentil, que dançava comigo pela sala de estar e me enchia de beijos para poder dormir.
Não sei o porque deixou a gente naquele orfanato, mas hoje, enquanto escrevo essa carta é estou grávida da Dalila e sabendo que posso morrer no parto, eu quero sair desse mundo complemente livre de sentimentos ruins, mãe.
Quando a vi e percebi que era você, decidi perdoar a senhora por ter abandonado a gente, porque eu sinto que a senhora só nos deixou no orfanato da irmã Rose para que Rafa e eu fôssemos cuidadas da melhor forma possível, porque com certeza, naquele momento a senhora não ia conseguir.
A senhora abriu mão da gente para que assim pudéssemos ficar realmente bem e agora, mamãe, finalmente eu entendo e consigo entender, porque eu estou abrindo mão de mim e da minha vida para que a minha Dalila fique bem e viva!

Quando fazia parte do orfanato, uma vez, Irmã Lúcia me apresentou uma frase de uma Santa, a frase era tão linda que levei ela para a minha vida e hoje, eu sei que ela faz parte da minha vida de uma forma altamente grandiosa.

"Amor e Sacrifício é assim intimamente ligado quanto o Sol e a Luz . Não se pode amar sem sofrer e sofrer sem amar"
Santa Gianna

O que você fez foi um sacrifício, mãe e eu sei que você ama a gente mais do que a ti mesmo, e sei que sofreu durante esses anos.
E eu estou me sacrificando para dar vida a minha filha, assim como um dia você fez.
Obrigada, Mãe!

Obs: essa é a última carta! ♡

Com amor,
Raissa!
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Abraço mamãe assim que termino, ela está em lágrimas e não consigo conter as minhas.
Raissa era inteligente e sabia exatamente o que estava fazendo quando decidiu se sacrificar para que Lila pudesse nascer.
Lembro como ela ficou quando irmã Lúcia citou essa frase na nossa catequese, lembro que Raissa ficou muito emocionada e pediu para a Irmã dar a ela o card que estava com a frase, ela dormiu com aquele card por dias, até que perdeu.

- Irmã Rose me disse que ela havia me perdoado - mamãe diz quando nos afastamos, sua voz completamente embargada. - Ela escreveu uma carta e disse que me perdoava, mas não dessa forma, eu cheguei a achar que ela não tinha me perdoado de verdade. Mas agora, ouvindo tudo isso, eu me sinto a mulher mais sortuda. Minhas filhas, as minhas duas meninas me perdoaram mesmo e tudo o que eu fiz esta jistificado.

- Amor e sacrifício é assim... - digo pegando sua mão, sorrumos - são intimamente ligado quanto o Sol e a Luz. Não se pode amar sem sofrer e sofrer sem amar!

- Eu te amo! Amo muito!

- Eu também te amo, mamãe!

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Até a próxima

De repente mãe - Completa - Em RevisãoOnde histórias criam vida. Descubra agora