Não era o indicado falar de imediato com Poncho sobre a mensagem. Do jeito que ele é bocudo, era capaz de me entregar na primeira oportunidade. Portanto, desci fingindo normalidade, lanchei e deitei no sofá. Anny e Poncho já estavam lá. Eles tinham quase a mesma idade. Então, ora brincavam, ora brigavam. E eu tinha que assistir pacientemente suas discussões. Mais tarde, Sebastian juntou-se a nós. Como era domingo, ele colocou um filme de ação para vermos. A única que não se juntou a nós foi Dulce, minha irmã rueira e cabeça de vento.
Christopher, como sempre, todo dia vinha bater o cartão, e hoje não foi diferente. Além de ter dado aula de bateria a Poncho, também ficou o restante do dia vendo filme conosco. Assim, o dia passou rápido.
Acordei no dia seguinte com o despertador tocando, tomei um banho, vesti o roupão e fui ao quarto do Poncho.
—Poncho, se arruma que nós vamos sair. — Sussurrei, dando um tapinha em suas costas. —Pra onde, May? — Resmungou sonolento.
—Para um parque aqui perto.
—Não vou. Tô com sono. — Murmurou bocejando e escondeu a cabeça com o cobertor. —Vamos, Poncho, levanta! — Ralhei carinhosa. Ele pôs parte do rosto para fora.
—Só se você me beijar. — Fez um bico hilário de peixe.
Revirei os olhos.
—Vamos! Seu irmão vai te encontrar lá. Ele veio se despedir.
—Ah! Você prefere ele, né? — Resmungou fingindo ofensa. —Ele é bicha, May, nem adianta. — Embrulhou a cabeça de novo. —Não se lembra do seu aniversário não, que você quase subiu em cima dele, e ele num fez nada?
—Você nos viu? — Perguntei sem graça.
—Lógico. Eu segui vocês. E depois que vi você atacando ele, fui chamar minha mãe e a Angelique para ver. — Revelou naturalmente. —Minha mãe ficou chocada com aquele proibidão na parede. —Sorriu zombador. — Mas ele é inofensivo, não é? Vou ter que dar umas dicas para ele. Se fosse eu no lugar dele, levantaria seu vestido, colocaria suas mãozinhas na parede e...—Poncho, quinze minutos para você! — Interrompi-o perplexa com o rumo da conversa. — Põe um boné e passa esse protetor solar. — Adicionei séria, coloquei o protetor na cabeceira e caminhei para a porta.
—Meu Deus! Todo mundo quer mandar em mim! — Resmungou e esperneou, jogando o cobertor no chão.
Voltei para o meu quarto sorrindo, passei perfume e creme, coloquei um short bege, blusa de alça branca e um tênis. Eu tinha noção de que precisava avisar alguém, por isso segui o corredor e fui falar com Sebastian no seu quarto.
—Pra onde?! — Quis saber, levantando um pouco a cabeça da cama. —Levar o Poncho no parque.
—Pra que? — Esfregou os olhos, deitado de bruços.
—Passear, jogar. — Respondi, como se fosse o óbvio.
—Não mente. Te conheço. Você tá nervosa.
Respirei fundo e resolvi falar a verdade. Sinceridade e lealdade compunham a base da nossa família.
—O irmão dele vem vê-lo. — Revelei tranquilamente.
Ele abriu mais os olhos, espantado. —E você vai lá atrás dele?! — Perguntou acusadoramente.
—Não. Vou levar o Poncho. — Sorri com falsa inocencia.
—Olha, eu não vou falar de novo para você se valorizar. — Começou o sermão. —Também não vou falar de novo que ele não é para você. Se você quer ir... — Deixou um tom de ameaça no ar.
A fim de persuadi-lo, deitei a cabeça nas suas costas e acariciei sua nuca. —Por favor, não conta para o meu pai. — Supliquei.
—Só se ele não perguntar.
—Sebastian, eu sempre amei você. Você já foi meu amigo. — Chantageei manhosa. —Eu me preocupo com você, May. — Explicou amolecido.
—Eu estou bem. E a gente é só amigo. Não temos nada.
—Ah, é? E aquele amasso na sua festa?
—Er, aquilo foi só um feliz aniversário. — Disse descaradamente e, ao ver que ele estava amansado, levantei para sair antes que ele falasse mais alguma coisa. —Tchau. Te amo! — Saí sorrindo. Ele podia ser ciumento, mas tinha coração mole.
Cantando distraída, preparei uma mochila com duas esteiras dobráveis, protetor solar, toalha, água, frutas e biscoitos. Minutos depois, Poncho desceu com uma bola na mão.—Você não vai jogar no sol. — Adverti, lembrando os cuidados os quais ele precisava. —Tudo bem, mamis! — Rolou os olhos.
O parque ficava distante da minha casa quinze minutos a pé. O que me rendeu quinze minutos agüentando as brincadeiras atrevidas de um menino atentado.
—May, sabia que todas as meninas dizem que eu beijo bem? —Disse como se fosse a revelação do ano.
—Ah é? Bom para você. — Sorri e continuei andando.
—Eu posso beijar você, se você quiser. — Ofereceu, abraçou meu pescoço e fez biquinho de novo. —Sai fora, seu assanhado! — O empurrei sorrindo.
Ele parou, colocou a mão no queixo e olhou para as minhas pernas. —Sabe, você até que dá um caldo. Dá uma voltinha ae! — Pediu girando o indicador no ar. Eu não me movi. Ele continuou brincando. —Deixa eu ver se é dura. — Beliscou meu bumbum e correu.
—Ai, pentelho! — Corri atrás dele para bater.
Depois de me fazer de boba tentando pegá-lo, ele parou, rendendo-se, abraçou o meu pescoço apaziguador e voltamos a caminhar.
—Fala para mim, May, você é a fim do meu irmão, não é? — Perguntou sério.
—Não. Só estamos tentando ser amigos. — Respondi simplesmente, ao mesmo tempo em que tentava me convencer.
—Eu não sou bobo. Já presenciei uma cena caliente e duas discussões. O modo como vocês agem parece novela mexicana. Fuego, chispas e pasión. — Ironizou em espanhol. —Qualquer otário percebe a vibração.
—Não é isso, Poncho. — Neguei, me odiando por ter deixado tão nítido.
—Ok. Então negue para sempre. Meu irmão está indo embora. Você vai perder uma chance. — Alertou, e não parecia o atentado infantil que convivi os últimos dias.
Chegamos ao parque faltando quinze minutos para nove horas. Como era segunda-feira, o local estava praticamente vazio, somente com alguns meninos jogando bola na quadra coberta. Rapidamente Poncho se enturmou.
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Amor VS Poder
RomanceMay é uma das herdeiras de uma influente organização de notícias e publicidade do país. Musicista alto astral, apaixonada pelo pai e unida aos irmãos, vive num mundo em que luxo e riqueza são parte de quem ela é. Ao conhecer o filho humilde de uma...