Capítulo 22

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Wiliam
Após o lanche matinal naquela manhã de sábado, peguei na mão de May e direcionamo-nos à garagem da frente. May tinha um sorriso radiante no rosto que contaminava e enchia minha manhã. Encostamo-nos a um dos quatro carros na garagem, a Navigator que era da minha mãe, envolvi minhas mãos na cintura de May e enchemo-nos de carinhos enquanto Carlos aprontava- se.
—Saia com Anny e Poncho. — Propus. —Seu pai disse que voltaremos logo. — Expliquei. A ideia de sair com ele me animava, mas eu sentia pesar por privar-me de May.
—Pode deixar. Vou ficar bem. —Tranquilizou-me. — Os dois homens da minha vida estão se entendendo, e estou muito feliz. Vou sair e depois vou visitar o bebê de Dulce, na casa do Christopher. — Ela abraçou-me apertado.
Ao chegar à garagem, Carlos andou até um carro coberto e tirou a lona. Abri mais os olhos, admirado. May sorriu maliciosa, enlaçou meus cabelos com seus dedos e sussurrou em meu ouvido. —Não sabia que você gostava tanto assim de carro. Tô até com ciúmes. — Sorriu, divertida.
Aproximei-me do carro, ainda segurando na mão dela, e explorei fascinado os detalhes do automóvel. Um Bugatti Veiron azul com prata, com portas incomuns que abriam verticalmente. Impressionante. Posicionei-me frente à porta do passageiro, Carlos estendeu a chave em minha direção e sorriu. Pisquei confuso, balançando levemente a cabeça em negativa. Ele insistiu.
—Dirija para mim. Estou meio cansado. — Pediu desanimado. May apertou minha mão, incentivando-me.
—Tudo bem. — Concordei hesitante, e ele entrou.
—Até mais. — Dei um selinho de despedida, e May saiu graciosamente, sorrindo.
Nunca fui de ficar deslumbrado com os bens que eles possuíam. Tinha consciência que meu mundo era um, o deles outro. No entanto isso não tirava o prazer de experimentar. Engoli em seco e sentei no banco do motorista. Ajustei retrovisores, apertei um botão e o motor ligou.

Olhei Carlos um pouco tenso, e ele sorriu encorajador. Saí vagarosamente, testando. O motor era potente, o ronco alto. May nos observou sorrindo, de braços cruzados encostada ao portão. Fiz sinal despedindo-me, e perdi-a de vista quando dobramos a esquina.
— Chegou tem dois meses. — Carlos explicou. —Só saí uma vez nele.
—Ele é... Muito bonito. — Procurei palavras e explorei disfarçadamente o interior, impressionado com o painel artesanal.
—Encomendei na Alemanha personalizado. — Apontou o nome Levy bordado em vermelho no couro do volante. —Tinha que vir com alguns mimos para fazer valer os dois mais seis zeros de euros que eu paguei. — Explicou naturalmente.
Durante a viagem, conversamos assuntos diversos, com demasiada camaradagem. Economia e política fora os principais temas. Vez ou outra ele me estimulava a acelerar, porém eu me continha. Em Olympic, ele instruiu-me a ir direto ao escritório. Eu fiz.
—Como vai, Wiliam. —Cumprimentou-me Felipe, um funcionário antigo do jornal. —Sua mãe está bem?
—Sim. Mora em Phoenix agora. —Ela pretende voltar? —Especulou. —Não. — Olhei em dúvida para Carlos, ele desviou o olhar. —Por enquanto, não. — Assegurei.
Como o assunto entre Carlos e o novo administrador migrou para temas concernentes à empresa, eu saí da sala para esperá-lo fora. Encostei-me ao carro, na sombra da marquise, e passei a ler um livro que eu sempre tinha a mão, para momentos de ócio.
—E ae, Wiliam! Tá sumido? — Desviei os olhos do livro e deparei-me com Daniel.
—Como vai? —Cumprimentei-o com um aperto de mão.
—De boa. —Seu olhar ávido caiu sobre o carro, e sorri compreensivo. Ele não era o primeiro habitante curioso. —Você que tá nesse carrão? — Supôs empolgado e andou em volta do carro. Dois amigos seus lhe acompanharam na animada inspeção.
—É do pai da May. — Esclareci.
—O que te traz a nossa cidade do interior? — Dan questionou. Paul e Zack aproximaram-se dos vidros para observar internamente.
—Vim trazer o Levy. —Apontei para o prédio espelhado.

—E esse anel aí? — Observou minha mão. —Resolveu se enforcar? Balancei a cabeça em negativa. —Mais ou menos... É de compromisso. —Com May Levy? — Arregalou os olhos, surpreso.
—Ela mesma. — Torci os lábios num sorriso.
Seus dois amigos se aproximaram.
—É cara, tem razão de nunca termos te visto com garotas aqui da cidade. Você olha mais para cima. — Zack comentou e deu tapinhas no meu ombro. — Andando num carrão desses. Namorado da filha de um dos homens mais ricos do país!
Abri a boca cético com sua insinuação, e Dan fez uma careta de desaprovação.
—Não entendi a sua colocação, Zack. — Encarei-o irritado, embora ocultasse o humor.
—Tem que explicar? Seu tiro foi certeiro! Além de namorar uma garota gostosa daquela, ainda vai amarrar o teu burro na sombra! — Ele sorriu zombeteiro.
Se ele não tinha intenção de me provocar, era tarde demais. Respirei fundo e contei até dez, sentindo os meus nervos alterados. Dan alarmou-se e acercou-se de mim ao pressentir a ameaça. Contudo, eu não tinha intenção de entrar em vias de fato. Não podia deixar que sons sem significação influenciassem minhas atitudes. —Zack, embora você não mereça a minha explicação, está tendo idéias equivocadas a meu respeito. Eu não preciso do dinheiro deles. Trabalho e estudo para isso. Os bens, o nome e o dinheiro deles, são deles. Pouco me importa. Então guarde os comentários insultantes e depreciativos para si. — Deliberei pausado e firme. —Só um aviso: pondere suas palavras ao referir-se à minha namorada. — Encarei-o destemido.
Ele arregalou os olhos, alarmado, e flexionou o tórax, impávido.
—Wiliam , podemos ir. —Interrompeu Carlos, que se encontrava agora a metros de nós.
Suspirei resignado e desviei o olhar.
—Até mais, Dan. — Despedi-me sem calor, Dan assentiu embaraçado.
—Aparece na reserva. — Disse Dan.
—Vou sim. — Acionei o controle para levantar as portas do carro e entrei, tempo em que observei de esguelha seus olhares fascinados para o carro.
—Vamos à casa de um amigo meu. — Carlos informou quando dei ré.

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