Capítulo 10

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Mudei na cama e fitei o teto pelos minutos seguintes com ela em meus braços, sobre meu peito. Cobri-a com o lençol e acariciei a sua pele. Ela estava quieta, absorta, e ainda estremecia ao meu toque. O meu conhecimento sobre uma mulher era muito pouco, mas a sua temperatura e os seus olhos revelavam que ela precisava de muito mais que aquilo... Se ela soubesse o quanto eu queria satisfazê-la totalmente... Suspirei e abracei-a forte.
Eu precisava tomar banho, mas deixá-la naquele momento não era a minha intenção. Pesaroso, beijei-a várias vezes no rosto, nas pálpebras e na testa. Tirei o cabelo emaranhado do seu rosto e observei a sua pele que ainda fervia. May não devia nos massacrar assim. Para a minha sorte, tenho como atenuar os sentidos, mas não conheço um modo de aliviar-lhe sem tocá-la intimamente. Então isso restringe o meu querer em suavizar o seu desejo. Não me sinto autorizado a tocá-la assim, embora os meus sonhos estejam lá. Ela me apertou no abraço, aparentemente se recuperando e sussurrou a música. Eu ri. Não sabia quantas dezenas de vezes o mesmo cd tocara durante àquelas horas aprazíveis que usufruímos.
—May, preciso ir para o banho... — Murmurei em seu ouvido.
Eu queria consolá-la, ficar com ela, mas sentia-me incomodado pela umidade no meu short. Aquele era um efeito que me trazia constrangimento. Eu não escolheria chegar a esse ponto. Era violar meus conceitos completamente. Mas ela não deu chance de me controlar. Quando vi por mim, já tinha perdido o domínio total e o instinto invadiu querendo saciar-me.
—Você já tomou banho... — Sussurrou com rouquidão. Deus, ela não notou. Sorri da sua inocência.
—Mas você não disse à tarde que agora iam ser dez minutos de beijos e em seguida banho? Acho que estou com uns cinqüenta banhos acumulados! — Descontraí.
—Vou com você. — Avisou, me pegando de surpresa.
—Então vamos. — Assenti. No momento, tomar banho com ela tolerável e não ameaçaria seus planos... De roupas íntimas, é claro. Diminuí o volume do som e procurei uma rádio com músicas românticas.

Fui o primeiro a entrar no banheiro, intencionado a adiantar-me, e em seguida ela entrou. Desenrolou-se da toalha sem recato e com os reflexos meio lentos juntou-se a mim no chuveiro, como se fosse natural tomarmos banhos juntos.
Bem, não conheço uma mulher. Não tenho experiência para isso e não sei o que aquilo no quarto lhe proporcionou, ou até que ponto foi bom. Sei que infelizmente, é claro, não a satisfiz. Embora a tenha excitado, não a satisfez. Isso me torna egoísta, porque, confesso sinceramente que adorei cada luxuriosa sensação.
Solícito e tentando de algum modo aliviar seus sentidos, espalhei o sabonete nas mãos, segurei seus ombros e fiz uma massagem. Ela me abraçou pela cintura, abstraída e silenciosa, escondeu o rosto sob meu queixo e fechou os olhos, enquanto eu apertava delicadamente seu pescoço, ombros, braços. Éramos tão afins que eu me sentia com cinco anos de idade, onde se toma banho com seus irmãos e tudo é singelo.
Meu Deus, como eu amo essa receptiva mulher! Queria eternizar em minha mente esse momento em que não éramos corpo, éramos cumplicidade. Eu não precisava mais provas para crer na atração de vidas, na dependência delas e no singular amor que as une.
A água caía cobre nós, e seu gemido de deleite com a massagem, juntamente com seu seio encostado a mim ameaçou minha concentração. Abracei-a forte e não permiti que o roçar do bico em minha pele me tentasse. Era irresistível. Principalmente com ela usando o shortinho de renda branco transparente molhado.
Para distrai-me, arrastei meus pensamentos para o dia que a conheci. Para aquela manhã ensolarada de seu aniversário em que minha vida era vazia e sem importância. Tudo me dava tédio. A vontade de viver diariamente se dava pelo zelo de proteger minha família, cuidar e trazer-lhes um futuro melhor. Então conheci May. E foi como o raiar do sol.

Pena após conhecê-la, ter sido abatido pela realidade. Senti-me como uma criança que após ganhar algo de muito valor, ser lhe tomado novamente... Quando soube quem realmente ela era, senti-me preso às armadilhas do destino. Vi a história da minha mãe se repetir —um Boyer atraído por um Levy—, e tive grande medo... Logo, cortei abruptamente a linha invisível que nos atraiu.
A promessa de reencontrá-la em sua festa de quinze anos me fez oscilar. Eu queria vê-la, era seduzido pela curiosidade de encontrá-la, mas resistia teimosamente. E vê-la naquele dia foi como abrilhantar uma noite cheia de trevas. Meu coração estava frio, sozinho, distante, encolhido... E eu nem conhecia o porquê. Quando a vi e fui beijado, senti-me completo finalmente. Vi que necessitava do equilíbrio que sua presença trazia, a alegria que poderia completar o meu ser.
No entanto, mais uma vez, a vida nos separou.
Eu não sabia quantas vezes o destino iria nos separar. Convenci-me que o melhor era manter distância total desse ser que me completava e me destruía. No entanto éramos manipulados pela força da atração que só algo além do imaginário poderia explicar; e a doença da pessoa comum a nós nos aproximou novamente. Foi aí que May, que é muito mais forte do que eu, lutou incansavelmente por nós. Hoje, finalmente resolvi render-me, embora tenha dúvidas de quando realmente ficaremos juntos de verdade.
Em dúvida, abracei-a mais forte sob a água. Tudo era silêncio. Mas eu amava cada segundo de sua presença, cada centímetro do seu corpo me aquecendo. Eu me apego a ela como à vida que após conhecê-la melhorou significantemente. Não vivo mais por viver, vivo diariamente almejando o dia que irei merecê-la e tê-la por toda a vida.
Ela me deu sua amizade e aceitação naquela manhã há quatro anos e essa amizade se estende até hoje. Ao longo dos anos deu-me sorrisos, sentimentos genuínos, palavras de confiança, perdão e sua fé em mim. Eu a amei desde sempre e a amo.
—No que pensa, Wiliam? — Acariciou languidamente meu peito. —May, você acredita em atração de vidas?

Amor VS PoderOnde histórias criam vida. Descubra agora