May
Dentro da cantina italiana, todos nos aguardavam com olhares especulativos. Entrei na frente, ao lado de Anny. Wiliam logo atrás.
‒Demoraram ‒ papai comentou, o olhar questionador sobre mim.
‒Eles estavam se comendo no carro! ‒ Poncho zombou. Entrecerrei os olhos censurando-o pela descarada fofoca. ‒Ah, não, desculpa. Erro de interpretação. Eles estavam conversando, ela sentado no colo dele, com a boca na boca dele, e só Deus sabe o que mais! ‒ ironizou fazendo gestos obscenos de um dedo enfiando na sua mão em punho. Sua irreverência levou todos a sorrir.
‒Pare, Poncho! ‒ Anny repreendeu-o. Ele baixou os ombros submisso e piscou furtivamente para mim. Sentei ao lado de Wiliam na mesa.
‒E aí, Wiliam, quais os seus planos para o próximo ano? ‒ papai questionou, embora já soubesse. Eu o tinha atualizado hoje sobre o que Wiliam escolheu. Wiliam cortou pedaços pequenos de pizza.
‒Eu vou concorrer às próximas eleições ‒ revelou tranquilo.
Carlos arqueou as sobrancelhas fingindo surpresa. Eu baixei o olhar, pesarosa e conformada.
‒Desejo toda sorte ‒ felicitou e brindou com a taça de vinho no ar.
Wiliam assentiu, espetou um pedaço de pizza no garfo e me ofereceu.
‒Não precisa cortar pizza para mim ‒ avisei incômoda com os olhares curiosos.
Meus irmãos já não entendiam nossa relação. Ele terminou o caminho do garfo em minha boca.
‒É o costume ‒ justificou-se com um sorriso tímido.
‒Você acha que tem chance de ganhar, Wiliam? ‒ Papai requisitou sua atenção.
‒Acho que sim. As pessoas não me conhecem, mas vão votar no sobrenome ‒ esclareceu, depois olhou-me desconcertado. Eu dei um sorriso forçado, fingindo não me importar.
‒E qual vai ser o sobrenome? ‒ Christopher especulou, completamente por fora do assunto.
‒Evans. O mesmo do senador ‒ contou desconfortável.
Sons de pigarros e olhos arregalados encheram a mesa de tensão. As perguntas não feitas pairavam no ar.‒Ele vai se casar com a filha do senador, como num contrato de fusão ‒ esclareci dando de ombros, minimizando o fato. Ele travou o maxilar carrancudo, inclinou-se e segurou meu queixo. ‒Eu não tenho certeza ainda. Tudo depende de você ‒ ressaltou baixo, me encarando.
‒Você fez sua escolha ‒ acentuei secamente.
‒Você me induziu a escolher quando optou por ostentar um Locke ‒ acusou magoado e voltou sua atenção ao meu pai. Conversaram de igual para igual, debatendo concorrentes com potencial, acertando apoio. Ao fim, decidimos ir em um carro só para o bar, eu, Angelique, Sebastian, Poncho e Anny. Dulce não quis ir por causa de San e de Christopher. Ela hoje usava uma discreta aliança de noivado. Papai e Barbara negaram a ir para se recolher cedo.
O bar ficava a dez minutos do hotel. Ouvia-se a animação à distância. Um coro de formandos alegres acompanhava a banda que tocava ao vivo. Eu segui Wiliam em discreta distância até a mesa do Ivan.
‒Sentem conosco ‒ Ivan convidou, apontando umas cadeiras vazias. Os casais de traidores dos meus irmãos dispensaram o convite e seguiram para a pista de dança sem me incluir. Eu sentei sem opção. Em minha frente sentava-se a irmã do Ivan.
‒Boa noite ‒ cumprimentei educada Koko e Ashley. Eles responderam frios. ‒Pensei que vocês não vinham mais ‒ Sophia comentou, quebrando o gelo. ‒Nossa família foi comemorar antes numa pizzaria ‒ expliquei e encarei Ashley,
desafiando-a a reclamar.
O professor que entregava canudo abordou Wiliam e iniciaram uma conversa.
Eu ergui o queixo ao perceber o minucioso exame adversário de Ashley.
‒Vocês terminaram o noivado? ‒ Koko questionou. Olhei-o de canto num
claro olhar censurador por sua curiosidade intrometida, mas sorri composta.
‒Sim. Nós dois estamos em outra ‒ menti fingindo pouco caso.
Ashley mediu-me novamente, indiscreta.
‒O que você bebe, May? ‒ Ivan questionou solícito, a atenção no garçom ao seu lado.‒Drinque de fruta cítrica, e bem fraco ‒ pedi amistosa. O garçom anotou. Eu
balancei a cabeça no ritmo da música que tocava e bati os dedos na mesa. Ninguém veria em mim postura vencida. Ivan deixou a mesa para conversar com seus amigos. O drinque de kiwi foi servido. Eu apreciei o sabor em goles curtos concentrada na conversa de Sophia sobre o baile no dia seguinte.
Os olhos de Wiliam não desviavam de mim. Eu evitei encará-lo por ter a impressão de ser vigiada por Ashley. A presença dela na mesa me incomodava. Cínica. Provocadora. Eu queria jogar a drinque em seu rosto, chamá-la de chantagista perdedora e rasgar sua blusa indecente de peitos siliconados. Meu lado mais infantil queria puxar seu cabelo e, talvez, enforcá-la... Embora eu me conformasse só em poder ficar em paz com Wiliam.
Mas o que adiantaria? A escolha de Wiliam foi feita!
Tranquei as emoções revoltadas e desviei os pensamentos das frustrações. Meu estômago deu uma pontada de ansiedade. E quanto mais permaneci na mesa, mais crescia o mal-estar. Não queria ser atingida por sentimentos tão escuros, como aversão e raiva, porém era maior que eu. Rangi os dentes sentindo-me derrotada. Sem que eu pudesse evitar, eu queria chorar. As emoções em mim oscilavam inexplicavelmente.
‒Sophia, vou ao banheiro ‒ avisei. Ao levantar, senti náuseas. Lavaria o rosto para me livrar do mal-estar.
O banheiro cheio me desanimou. Eu passei direto para o corredor de saída. Tomar um ar resolveria. Nervosa e angustiada, encostei-me a um carro e suspirei, engolindo o repentino pranto. Uma contração no estômago me fez dobrar. Tossi três vezes, sentindo a pizza voltar. Me dobrei mais, segurei meu cabelo e coloquei tudo para fora, na grama.
‒May! ‒ Wiliam surpreendeu-me alarmado. Expeli mais um jato. ‒O que há? ‒questionou ansioso.
‒Sai! ‒ grunhi e fiz gesto com a mão para ele se afastar. Minha garganta ardia e lágrimas desciam de meus olhos. ‒A pizza fez mal ‒ expliquei fraca. Olhei para cima e respirei fundo.
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Amor VS Poder
RomanceMay é uma das herdeiras de uma influente organização de notícias e publicidade do país. Musicista alto astral, apaixonada pelo pai e unida aos irmãos, vive num mundo em que luxo e riqueza são parte de quem ela é. Ao conhecer o filho humilde de uma...