Ao ver meu pai, Sebastian e Anny, eu paralisei. Imediatamente, Wiliam se levantou e, solícito, foi até a entrada receber o meu pai. Eu não me movi. Queria fugir, me esconder, então sentei no carro e fiquei observando eles conversando. Um minuto depois, Wiliam apontou para o carro onde eu estava, e meu pai veio furioso em minha direção. Sebastian e Anny vieram logo atrás.
—MAY, SAIA JÁ DAÍ! — Vociferou. —Ou vou registrar uma ocorrência contra o seu amiguinho na delegacia por rapto de menor! — Disse sem me dar chance para pensar. —Quanto a você! — Olhou ameaçadoramente para Wiliam. —Fique longe da minha filha ou você pode sair prejudicado. — Dise apontando o dedo em sua direção.
—Pára, pai... Fui eu quem quis vir! — Pedi apavorada, levantei e fiquei perto do meu pai. —O QUE VOCÊ TEM COM ELE? — Gritou fora de controle.
—Nada, sou só amiga dele. — Respondi num fio de voz enquanto olhava triste para Wiliam. —O Sebastian acabou de me falar sobre a sua 'amizade' com ele. — Disse com descaso. —Você não vê que ele não é para você, filha! — Apontou para Wiliam com desdém.
—Vamos embora, vamos, pai... — Eu disse e comecei a puxar o seu braço. Queria tirar meu pai dali antes que ele começasse a falar coisas que viessem a ofender Wiliam. Todavia meu pai relutava, estava fora de si.
—Você acha que eu te criei pra isso?! — Censurou com acidez. —Pra ver você fugindo para se encontrar...
—PARA, PAI! — Interrompi desesperada. —Vamos embora! Por favor! A gente conversa em casa. — Supliquei e lágrimas de culpa desceram no meu rosto.
Olhei de canto para Wiliam, envergonhada por ver meu pai o diminuindo por minha causa, porém ele estava com o semblante imutável, olhando firme para o meu pai. Os soluços brotavam incontroláveis em meu peito. Eu não devia ter feito isso com nenhum dos dois. Fui egoísta e precipitada.Um tempo desconfortável se seguiu, e ao ver o quanto eu chorava, papai se acalmou e se virou para o Wiliam. —Eu não tenho nada contra você, só não quero que se aproxime da minha filha. — Disse com a voz mais branda. —May sempre foi responsável e seria a última filha a agir assim. Essa 'amizade' está fazendo mal para ela. Então, por favor, fique longe dela. — Pediu educadamente. Wiliam não respondeu, mas o olhava sem vacilar. Papai continuou. —Repito, não é nada pessoal. Só não é certo.
—Tem certeza, Carlos, que não é nada pessoal? — Barbara saiu fora de casa e perguntou incisivamente.
—Não, não tenho nada contra a pessoa do seu filho. Tudo é com relação à May. — Respondeu meio constrangido. Pela característica do seu rosto, ele mostrava estar arrependido do que tinha feito minutos atrás. Ele estava acuado.
—Você não quer que a May namore meu filho, assim como seus pais... — Barbara se interrompeu, enquanto encarava meu pai.
As coisas ficaram piores do que eu pensei que pudesse ficar. Eles agora iriam discutir, ela ia ficar desempregada e... Meu Deus! Sem marido, com um filho doente... Eu nunca iria me perdoar se isso acontecesse!
—Tudo se resume a classe social, Carlos. — Barbara continuou. — Você se tornou igual ao seu pai, manipulando o futuro dos filhos. Olha o que aconteceu com você? — Apontou com acusação para ele. Parecia que a briga era outra. Ela o afetava e nós só observávamos.
Atordoada, olhei para Wiliam e ele parecia gostar do que acontecia. Meu pai pareceu esquecer onde estava e o porquê, olhou para Barbara e segurou o olhar. —Foi.você.quem.desistiu. — Falou entre dentes.
Ela ergueu o queixo. —Lógico, com a pressão dos seus pais, com a Marcia dando em cima de você, as pessoas me olhando torto e me humilhando por ser pobre, como eu não ia desistir? — Eles se encararam por um longo tempo, depois ela continuou. —Mas pelo jeito você não aprendeu. Já viu o que as escolhas erradas fizeram com a sua vida?! — Apontou para ele com crítica. E automaticamente eu soube do que ela falava. Ela estava falando da minha mãe. Isso iria machucar muito meu pai.Respirando fundo, ele me puxou e deu as costas para ela. —Até mais, Barbara, e peça para o seu filho ficar longe da minha filha.
Eu saí de lá atormentada pela culpa e pela dor. Não consegui olhar uma última vez no rosto do Wiliam antes de sair. Ali eu percebi que era o fim de tudo. Como eu pude ter chegado a esse ponto por um capricho? Como eu pude magoar a pessoa que eu amo tanto, que é o meu pai? Isso realmente não tinha chance de dar certo. Só eu não conseguia enxergar. A vida conspirou contra nós desde o início, eu que fui teimosa em insistir.
Chegamos ao carro, Sebastian pegou a chave da Ferrari e voltou dirigindo. Voltei com meu pai e Anny. No caminho, não nos dirigimos uma só palavra.
—May, amanhã a gente conversa. — Carlos disse e subiu apressado para o seu quarto.
Nenhum dos meus irmãos falaram nada, só me olhavam com olhar de acusação. Eles sofriam porque meu pai foi magoado desnecessariamente. Barbara mexeu no seu passado violentamente, expondo as feridas dele para os próprios filhos. Tocar, mesmo que sutilmente no relacionamento do meu pai com a minha mãe, mesmo que ele mostrasse que não, era uma tristeza para ele. Ele é infeliz pela escolha que fez. O que deu forças para ele não se frustrar com a vida, foram os filhos que ele adquiriu nesse casamento. E nós, embora não falássemos no assunto, sabíamos disso. Por isso nos dedicávamos com tanto amor a ele, em gratidão por ele nunca ter nos abandonado, como minha mãe fez.
Amanhã, com certeza ele iria chegar em casa com a passagem comprada para me mandar para o Japão, que era onde minha mãe estava. Tomando nota disso, fui infeliz para o meu quarto, cair em meus prantos.
—Anny, o que aconteceu? — Perguntei mal humorada e sentei-me à mesa para o lanche da manhã. Minha cabeça doía pela noite mal dormida.
—Não foi porque eu quis. Eu tentei... — Anny explicou, triste também.
—Eu não estou dizendo que foi sua culpa, só quero saber como aconteceu. — Pedi mais calma.
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Amor VS Poder
RomanceMay é uma das herdeiras de uma influente organização de notícias e publicidade do país. Musicista alto astral, apaixonada pelo pai e unida aos irmãos, vive num mundo em que luxo e riqueza são parte de quem ela é. Ao conhecer o filho humilde de uma...