Capítulo 29

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Em sonho, eu a possuí, mas não tive o corpo saciado. Acordei na hora do prazer assustado e frustrado. Abri os olhos desnorteado e notei May ao meu lado adormecida. Graças. Certamente não percebeu meu estado de agitação anterior.
Seu sono era perturbado, notei por seus movimentos inquietos e resmungos. Acendi a luz do abajur, acariciei seu rosto e solfejei em seu ouvido que a amava. Passei os dedos sobre um vinco em sua testa desejando saber o motivo que até em sono lhe atormentava. Não era habitual que ela fosse preocupada. O normal era que fosse leve e segura.
Ela suspirou mais tranquila e esticou-se. Deixei a cama e fui ao banheiro tomar uma ducha. Ainda era madrugada. Abri o chuveiro e voltei a pensar sobre nossa situação. A insegurança e medo me ameaçavam como um espectro do mal agachado na escuridão de meus pensamentos. Não tolerava a medida arbitrária a que ela nos impeliu, mas sua presença ao menos nutria a falsa utopia de que tínhamos voltado.
Enxuguei-me, vesti outro short e voltei para cama. Acariciei seu pescoço e ombros, e conforme descia os dedos por sua pele perolada e quente, a saudade e desejo reacendeu. Eu precisava da ligação física e espiritual que tínhamos ao fazer amor. Ela gemeu baixinho, um eco distante de seus gemidos enlouquecidos ao alcançar o êxtase. Fechei os olhos ante a lembrança, o centro do meu corpo queimou de necessidade de unir-me a ela.
Pousei a testa em seu braço culpado por desejá-la e passeei os dedos em sua barriga. Quis subir os dedos para seus seios, mas me reprimi. Olhei no relógio. Cinco da manhã. Não dormi novamente. Em breve iríamos nos separar, e eu não tinha esperança de quando vê-la novamente, portanto não iria perdê-la dormindo.
Ela mudou na cama, espalmou o meu peito e murmurou meu nome. Meu coração inflou de esperança por fazer parte de seu sono. Ela se aconchegou mais e colocou a perna entre a minha. Meu corpo registrou o corpo familiar tão receptivo e cálido. Os músculos ficaram mais rígidos.

Repeli o pensamento torpe de acordá-la possuindo-a, como outras noites; ri da situação deprimente, mas mesmo me autocensurando, desci as mãos para base da coluna e a apertei ao meu corpo.
Ela gemeu uma aprovação e alimentou meu desejo doentio. Desprovido de qualquer sentimento de pudor, forcei seu corpo para cima de mim, abri suas pernas escanchada e empurrei nela, segurando o quadril, numa alusão inconfundível a cópula, como um homem concupiscente e desprezível.
Não dei ouvidos ao meu cérebro repressor que dizia que eu me aproveitava sem seu consentimento. Ofeguei, desejei afastar seu short folgado e possuí-la lentamente, conscienciosamente, até que a febre contida em meu corpo se tornasse branda.
‒Nossa, que isso? ‒ May murmurou lânguida, levemente humorada.
Assustei-me e censurei-me pelo que eu fazia, cerrei os movimentos e subi minha mão da nádega para o centro de suas costas.
‒Hmmm, desculpe. ‒ Murmurei desajeitado. ‒Isso foi...er, promíscuo, vil. ‒ Admiti constrangido pelo flagra.
Ela deu um risinho baixo e beijou meu peito nu.
‒O anjinho perverteu-se. Não me deixa nem dormir. ‒ acusou divertida. Fiquei menos desconfortável.
‒Perto de você o anjo é um pecador. O corpo tem vida própria e domina o cérebro. ‒ confessei e beijei o seu cabelo.
Ela levantou o rosto e olhou-me, parecendo incerta, mas manteve-se acariciando meu peito. Inclinou-se, beijou castamente e se afastou, deitando de lado na cama.
Seu olhar ficou repentinamente distante. O silêncio cresceu entre nós. O único som que se ouviu foi do vento fora da janela.
‒Er, você quer a sua chave de volta? ‒ balbuciei hesitante. ‒Você não disse nada sobre eu ter vindo... Está chateada por eu ter invadido o seu espaço?
‒Não. ‒ assegurou e se sentou no meio da cama. Ela parecia apreensiva. ‒Eu não quero que me devolva a chave, mas quero que faça outra coisa por mim... ‒suspirou e olhou-me triste. ‒Quero que deixe a sua aliança comigo.

Fechei os punhos rejeitando mais esse golpe. Abri a boca duas vezes pronto a me opor, mas me calei. Prometi dar o tempo que ela precisava e ceder o que fosse preciso sem perder a esperança. Desde quando decidi vir ontem, me garanti não pressionar ou questionar, portanto, num esforço homérico ocultei a angústia e desolação, tirei lentamente a aliança do dedo, encarando-a, e coloquei-a sobre palma de minha mão.
Sentei frente a ela, as pernas abertas em borboleta. Peguei sua mão direita e fitei a jóia no seu dedo. Suspirei ao lembrar o dia que oficializamos a aliança perante nossa família.
‒Eu não vou deixar a minha aliança com você. ‒ avisei e forcei a aliança dela a sair do anelar. ‒Vou levá-las para polir e guardar. ‒ esclareci. ‒E no mínimo vacilo seu elas vão voltar aos nossos dedos. ‒ salientei convicto, juntei as duas alianças e coloquei-as na mesinha ao lado da cama.
Ela suspirou e olhou pra cima, murmurando algo ininteligível. Deduzi ser uma prece.
‒Já vai se arrumar? ‒ questionei ao vê-la seguir ao banheiro com uma toalha. ‒Ainda não são seis da manhã. ‒ destaquei. Não a queria fora da cama e longe de mim tão cedo.
‒Vai ser rápido. ‒ sossegou-me com um sorriso matreiro e fechou a porta.
Fui à cozinha pegar frutas. Lavei-as, cortei e voltei ao quarto. Ela trajava um conjunto íntimo de algodão em frente ao seu armário. Fixei os olhos nela. Até mesmo em suas peças confortáveis era atrativa e irresistível.
Sentei na cama e coloquei a bandeja de frutas sobre a mesinha, sem privar-me de explorá-la. Ela vestiu uma saia jeans cargo, um palmo meu acima do joelho, e uma blusa frente única. Deitei de lado na cama e apoiei a cabeça no braço enquanto comia maçã.
‒Essa saia deve ser desconfortável, não? ‒ sondei casual.
‒Desconfortável é ficar de calça neste calor da Califórnia. ‒ destacou divertida e calçou uma sandália rasteira ignorando a posse na pergunta. Sentou-se e serviu-se de maçã.
‒O Poncho faz a transfusão amanhã. Estou indo para lá hoje à noite de avião para apoiá-los.

Amor VS PoderOnde histórias criam vida. Descubra agora