Capítulo 4

768 22 0
                                    

Desci as escadas apressada, e Sebastian estava esparramado pelo sofá de couro como um gato de hotel.
—Vai sair, May? — Perguntou o espião ao me ver descer arrumada. Eu vestia um short de brim preto, uma blusa de alça de seda bege, e uma sandália de salto médio, combinando com minha bolsa caramelo.
—Sim, nós vamos. Eu e Anny. Eu vou comprar um óculos de sol e umas roupas. O meu óculos arranhou na viagem. — Expliquei, e provavelmente ele tivesse captado o nervosismo na explicação minuciosa e desnecessária.
—Nós também vamos ao cinema. — Anny complementou, pegou a minha mão e me puxou para sairmos. Era difícil conseguir enganar o meu irmão. Ele me conhecia demais. —Acho que hoje não. Eu não estou a fim de sair e mais tarde tenho compromisso. — Disse desinteressado, sem tirar os olhos da TV.
—Quem disse que você precisa ir? — Levantei o queixo. — Nós passamos o semestre todinho saindo sozinhas? Por que isso agora?
—Porque você não é muito de confiança. — Insinuou e me olhou sério. —Só faltava essa! Agora você vai ficar me controlando, é?
—Não é porque eu quero, May. É por que você precisa. Em alguns momentos você fica fora de si. Eu só quero te ajudar. Mas não se preocupe, vai ser só nas férias. — Sorriu cínico.
—Eu não estou entendendo do que você está falando? — Eu sabia do que ele falava, mas plantaria a dúvida.
—May, é férias. Eu já sei o porquê de você ter terminado com Christopher no dia que começou as férias. — Olhou-me com acusação. — Eu já vi do que você é capaz para ir atrás do caipira.
—Sebastian , aquilo já tem quase oito meses. — Balancei a cabeça, censurando-o. —Se a gente já não tinha nada naquela época, imagine depois daquela cena?! — Me defendi dramaticamente. Não é uma mentira. Realmente não temos nada sério.
— Imagine se tivessem! — Ironizou, ao tempo que mudava o canal na TV.
Suspirei. Eu tinha que jogar baixo para fazê-lo sair do meu pé. O único jeito era fazendo chantagem emocional. Ele estava merecendo.

—Sabe, Sebastian , até que enfim você tocou nesse assunto. Eu venho engolindo isso há meses. Você é um traidor. Você já foi meu melhor amigo e irmão. Eu confiava em você. Eu não te perdoei ainda pelo que você fez. Eu acho que você devia ficar bem bonzinho comigo, se você quiser que eu te perdoe algum dia, porque pra mim você é um traidor e, além de tudo, um espião. — Sentei, fazendo drama.
Ele sentou e me olhou como se eu o tivesse esmurrado. Rá! Vinguei. Eu só queria que ele pensasse que irmãos se protegem e se ajudam. E não perdoei mesmo, não! Vai demorar pra confiar nele de novo.
—Tudo bem. — Baixou a guarda. —Eu posso ir com vocês? — Levantou-se
Se eu dissesse que não, ele iria suspeitar, logo. —Pode. — Aceitei neutra. —Almoçamos por lá e depois vamos ao cinema. —Isso era psicologia reversa. Com certeza iria funcionar.
Ele pensou um pouco, olhando para mim, depois deitou de novo. —Podem ir. Não estou a fim de sair.
—Então vamos, Anny. — Prontamente peguei a chave do carro e a bolsa. —May... — Sebastian chamou, com olhos pidões. —Você está com raiva de mim mesmo? — Quis saber. Eu já me aproximava da porta.
—Bom, raiva não, mas não é a mesma coisa entre nós. — Respondi sincera e pus a mão na maçaneta da porta.
—May... Você gostava mesmo dele? — Putz! Quantas vezes mais o Sebastian iria me chamar?
Pensei um pouco antes de responder. Se eu falasse que sim, ele ia ter certeza que eu não desisti. Se eu dissesse que não, iria mentir. E eu sinceramente queria evitar mentir.
—Eu não vou responder, quero que você responda. O que você acha? — Deixei que ele pensasse.
Sebastian me encarou por um longo tempo, depois balançou a cabeça com desaprovação e se deitou no sofá novamente
—Tchau. — Falei e saí.
Logo que chegamos ao estacionamento, Anny comentou: May, você está ficando bandida, hein! —Eu não menti, Anny, só usei a oportunidade para falar. Expliquei e saí do estacionamento lateral.

Chegamos ao centro da cidade às dez e meia e fomos direto para uma grande loja de departamentos da cidade. Resolvi comprar logo o que estava precisando, depois ligaria para os meninos. Eles com certeza estariam em alguma loja fazendo suas compras também.
As opções de lançamentos de óculos eram muitas, mas eu ainda precisava escolher. Logo encontrei o que queria. Também encontrei um que ficaria muito lindo nele... Mas outra hora eu compraria para ele. Com certeza ele não iria aceitar meus presentes hoje.
Escolhi um Ray Ban lançamento para mim, depois atravessamos a rua e fomos procurar sandálias e acessórios. Em todo o tempo que andávamos pelas ruas, eu olhava todos os lados com esperança de encontrá-los. Mas foi em vão as minhas tentativas. Eles não deviam estar por ali.
—Anny, liga para os meninos agora. — Liguei o carro e nos dirigimos a um restaurante francês no centro mesmo. — Acho que já deu o tempo das compras deles. Talvez eles queiram almoçar conosco.
Ela pegou o telefone na bolsa e fez a ligação.
—May, está caindo na caixa. — Informou após tentar duas vezes. —Então vamos passar em uma livraria, mas continua tentando.
À medida que os minutos iam passando, uma aflição foi tomando conta de mim. Estava com medo de não conseguir encontrá-los. A vida devia mesmo conspirar contra nós. Se eles terminassem de fazer compras e não nos encontrassem, com certeza iriam embora. — Vamos fazer assim: almoçamos rápido e depois a gente roda pelo centro para tentar encontrar o carro da Barbara. — Dei a opção depois de várias tentativas de telefonemas frustradas.
—Tudo bem.
No restaurante, escolhi sentar perto da janela. Assim teria opção de vê-los, caso passassem por ali. Pedimos o almoço e em seguida o telefone de Anny tocou.
—Oi. — Anny atendeu e me olhou cautelosamente. —Estamos almoçando no La voir, no centro... Ainda não... Tá eu peço... Beijo.
—E ai? Eram eles? — Perguntei esperançosa.
—Não, era o grude do Sebastian . Ele vem almoçar com a gente. — Informou com os lábios torcidos.
—Tudo bem. — Suspirei frustrada.
Sebastian chegou com olhos brilhantes e sentou em nossa mesa.

Amor VS PoderOnde histórias criam vida. Descubra agora