Capítulo 17

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Narrado por May
Segunda à noite, quando meu pai chegou e viu a Navigator que ele deu para Barbara aqui na garagem, eu vi a dor em seu rosto, que mesmo que ele tentasse esconder, foi perceptível. Nessa hora eu tive certeza que eles não nos mereciam. Pena Poncho ter uma família como aquela. O Sebastian, coitado, ficou desconsolado. Parecia que a garota da família também queria dar um fora no meu irmão.
Na verdade, não sei porque nos permitimos sofrer assim. Todos aqui em casa são bonitos, conhecidos, com chances de conseguir pessoas muito melhores. Então nós vamos superar... A minha família entrou nessa por minha causa e eu farei de tudo para sairmos juntos dessa.
Até que meu pai nos chamou para fazermos uma viagem, mas isso seria uma fuga da realidade, e realmente não precisamos disso. Nós vamos enfrentar diariamente. E vamos esquecer esses últimos meses. Afinal, foram poucos meses, nada que uma vida toda pela frente não supere. Tudo bem que hoje estamos fracos. No entanto nada melhor que um dia após o outro para esquecermos isso.
—Pai, vou passar as férias indo para o jornal todos os dias. — Informei, olhando para o clipe que passava na TV, porém sem prestar atenção. Todos estavam distraídos na sala. Anny estava deitada com a cabeça no colo do meu pai e Sebastian deitado no outro sofá. Todos pensativos e distantes.
Dulce, agora que assumiu o namoro com Christopher, ficava presa com ele em seu quarto quase o dia todo. Não devia nem saber o que se passava. Eles tinham motivo para estarem felizes. Dulce me surpreendeu. Pelo jeito estava adorando o fato de ser uma futura mamãe.
Eu torci que os dias passassem logo. Queria a felicidade de volta à minha casa. Esperava que esse bebê nascesse logo. Iríamos amar ter algo novo trazendo luz.
—May, são suas férias... Você tem que descansar. — Papai alertou preocupado. —Pai, eu quero ir trabalhar. Não quero ficar dentro de casa.

Se fossem outros tempos, papai diria: eu disse que ele não era para você. Mas dessa vez ninguém ousou falar nada. Estávamos todos no mesmo barco, restava-nos somente respeitar um a dor do outro. Ah, mas eu iria sair dessa... A partir de amanhã colocaria novos planos em prática. Iria ocupar todos os meus horários disponíveis para evitar pensar nele.
—Tudo bem. E Anny? — Meu pai questionou.
—Por que ela não vai também? Nem que ela fique meio expediente e volte. Pelo menos não vai passar o dia em casa vendo TV. — Propus e ela sentou, parecendo interessar-se. —Vamos também, Sebastian. De repente tenha alguma área de informática precisando dos seus serviços.
—Vou pensar, May. — Sebastian respondeu desanimado. Eu tinha dó do meu irmão. Ele era o mais carente daqui e parecia gostar mesmo daquela garota.
Terça-feira, cheguei cedo ao jornal sem imaginar o que fazer, mas pretendia ficar com meu pai e aprender mais serviços de sua rotina. Colocamos Anny para atender telefones na recepção. E ela pareceu se divertir. Quis até colocar um terninho para viver a personagem de garota trabalhadora.
—Pai, e o escritório de Olympic? — Perguntei enquanto conferia uns gráficos de investimentos com ele.
—Mandei um funcionário para lá. Ontem, ficaram só os funcionários habituais, mas hoje já começou outro gerente. — Explicou evasivo. Ok, era bom evitar falar o nome da Barbara.
A manhã se passou produtiva. Ele foi paciente, e eu aprendi coisas novas. Descobri que o maior investimento financeiro dele era em imóveis, além de ações na bolsa. Eu devia imaginar, mas ele não costumava ficar ostentando os bens que possuía. Concluí que se eu fizesse mesmo o curso de Negócios iria aprender a investir nosso dinheiro em algo rentável.
Anny foi embora depois de almoçarmos juntos. Eu voltei a auxiliar meu pai, e a tarde passou tranquila. —Oi, May. Não sabia que você estava aqui. —Brandon comentou logo que entrou na sala do meu pai. Eu estava sozinha.
—Preciso ganhar o pão. —Gracejei brincalhona.
—Você ficou bem aí. —Bajulou, referindo-se ao fato de eu estar sentada na cadeira do presidente. Eu ri.

—Ah, obrigada. Tô querendo derrubar meu pai. —Brinquei. Ele sorriu.
—Você foi embora cedo da festa sábado. —Mudou de assunto e sentou na cadeira em minha frente.
—Estava um pouco cansada e com dor de cabeça. — Respondi sem querer prolongar o assunto.
—Hoje à noite vai sair uma turminha para um barzinho na rua do lago, está a fim de ir?— Convidou amistoso.
—Vou pensar... Eu tenho aula de francês hoje à noite... — Interrompi e parei pensativa... Quer saber? Eu não ia mais fazer francês coisa nenhuma. O único motivo de estar matriculada nessa aula era para poder conversar com Wiliam, mas agora, ele que conversasse com a Sophia a vida toda! Era tudo que ele queria mesmo! —Brandon, que horas vocês vão chegar lá?
Ele olhou-me um pouco surpreso. —Umas oito e meia. Você vai levar o namorado? —Não. Ele só veio para a festa. — Torci os lábios e abaixei a cabeça. Eu não iria sofrer. —Então oito e meia esteja lá. — Disse e saiu
Mais tarde, passei na escola de línguas e pedi para cancelarem o meu curso. Porém a atendente pediu insistentemente que eu somente mudasse de curso, afinal, eu já havia pagado por todo o ano. Aceitei. Resolvi fazer língua alemã.
Cheguei em casa, tomei banho e abri o closet. Putz, o cheiro dele estava impregnado em todos os cantos do meu quarto. O pijama que ele usou continuava no closet, espalhando seu cheiro. Senti algo queimar dentro de mim e respirei fundo... Eu tinha que me livrar disso. Suspirando, peguei tudo dele e coloquei em um saco plástico. Eu não iria jogar fora, era óbvio. O melhor era lhe enviar tudo pelo Fedex. Controlando as emoções, me envolvi com os seus pertences e não vi o tempo passar. Passava das oito e meia quando terminei, mesmo assim, não desisti de sair.

Amor VS PoderOnde histórias criam vida. Descubra agora