Capítulo 20

884 26 2
                                    

Narrado por Wiliam
Designei-me a tomar posição em meio à situação na qual encontrávamos. Minhas responsabilidades não deviam deixar de ser enfrentadas e, mesmo tendo incertezas quanto ao futuro, se fazia necessário como homem que sou que eu agisse como tal. Portanto decidi por o seu pai a par da circunstância. Era provável que ele nos desse uma direção a que caminho tomar. —Sr. Levy, Wiliam, tudo bem?​—Cumprimentei-o tenso, por telefone. —Sim. Como foi de viagem?
—Foi boa. — Fiquei uns segundos calado, adquirindo coragem.
—O que foi? Algum problema?
—Não um problema, na verdade, quase um, er... Eu não queria falar isso por telefone, mas não deu tempo de conversarmos pessoalmente ontem... — Balbuciei hesitante.
—Fale, meu filho. — Pediu calmo, mas parecia ansioso.
Respirei fundo e segui adiante: É que em um determinado momento eu me descuidei, e May está, er, esperando um filho meu. — Disse num fôlego só.
Ele ficou em silêncio, parecia em choque.
—Isso é uma surpresa. Pensei que fossem conscientes... Não é fácil criar filhos. Wiliam. Não é fácil ter filhos tão jovens... Pensei que só Dulce fosse descabeçada aqui em casa. — Repreendeu calmo, mas acusador.
Eu realmente merecia esse discurso moral pela minha insensatez.
—Eu não sei o que falar. — Resmunguei. A situação abatia-me. Abalava-me não ter respostas a dar. Não podia casar-me hoje com ela. E embora a família dela fosse liberal e não cobrasse, sou o garoto do interior que sonha em criar os filhos, em casar-se com a mãe deles. Eu tinha o dever de ter nos resguardado disso, mas essa não era mais hora de contrição e sim de levar em conta as obrigações de responder pelas minhas ações.
—E agora? O que pretendem fazer? — Perguntou educadamente.
Suspirei, oprimido pela insegurança. —Eu não sei. Não conversamos sobre isso ainda... O senhor sabe, eu não posso dar garantias para ela ainda. — Disse titubeante. Eu tinha tanto a falar, mas só conseguia revelar a minha descrença e tristeza.

O telefone ficou mudo, e a significação das minhas palavras me melancolizaram. Há dias sofria com essa angústia, sem ao menos ter com quem falar. Eu tinha um desejo enorme, uma aflição em mudar a vida, em ter tido uma história diferente. Quem sabe, se a minha história tivesse sido diferente, eu teria mais facilidade em tomar decisões. A minha personalidade foi afetada pela carência na infância e hoje os resquícios dessa época tornam minha natureza fraca, sempre com receios.
Eu queria que fosse fácil tirá-la de casa, assumi-la e sustentá-la com dignidade, nem que meu destino fosse ser um caipira no interior do país... Mas como eu iria levar a herdeira de um império para morar de aluguel com um marido que não tem ao menos uma profissão? Pensar nisso me levou ao desespero. Queria lamentar e chorar pelo meu ato impensado; chorar pelo que eu não tive, pelo que eu não tenho e que pelo jeito não terei. Porque minha vontade agora é desistir de tudo e simplesmente ir criar o meu filho. Mas seu pai não permitiria que ela se casasse comigo nas condições atuais. Por outro lado, eu não quero meu filho crescendo longe do pai, também não quero simplesmente deixar a mãe do meu filho ficar todo o tempo sozinha. Porém, o que eu menos quero é ser sustentado por eles, pelo nome deles, pelo dinheiro deles. Não por orgulho, mas para manter a minha dignidade, que é só o que tenho agora.
Depois de um minuto os dois calados, e eu profundamente abatido, ele quebrou o silêncio. —Wiliam, está bem? — Perguntou complacente.
—Sim, senhor.
—Não é novidade no mundo. Só pensei que planejariam melhor o futuro de vocês.
—Eu lamento... Era o meu plano planejar, mas aconteceu... Não dá para voltar atrás. — Suspirei desolado.
—Tudo bem. Vou conversar com May agora... Wiliam, você sabe que não precisa casar, nem ficar com ela por isso. —Salientou.

Engoli saliva, amargo. —Sr. Levy, eu queria poder casar com ela hoje, pois os dois são tudo que eu mais quero nesta vida... — Minha voz falhou, a ausência de certezas tornava-me mais fraco. O certo era ligar para May, mas não a contaminaria com minha descrença, nem estragaria seu humor para o baile de hoje à noite, portanto só ligaria no dia seguinte.
—Fique calmo, filho. As coisas vão dar certo... Já sabem o nome? — Questionou condescendente, tentando melhorar o clima.
—Sim. Se for homem sim. — Sorri, lembrando da ousadia de May em escolher sozinha o nome do nosso filho.
—Minha maior preocupação é porque ela ia começar a vida agora, iniciar faculdade, morar fora. Mas vai dar tudo certo. Até mais. — Concluiu tranquilo, e um peso foi tirado das minhas costas por pelo menos ter declarado intenções.

Amor VS PoderOnde histórias criam vida. Descubra agora