Capítulo 22

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Cinco minutos, José de Alencar

Gabriela, cravo e canela, Jorge Amado

Memórias póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis

Paixão segundo GH, Clarice Lispector

Estou na biblioteca da escola tentando encontrar um livro que me ajude a ter inspiração para escrever um novo romance. Estou na sessão de clássicos da literatura brasileira mas nada me agrada o suficiente para inspirar um romance adolescente clichê. Respiro fundo, frustrada. Fazem dias que não consigo sair de meu bloqueio criativo e nada me faz conseguir me livrar dele. 

Sinto meu celular vibrar no bolso de minha calça anunciando uma nova mensagem. É um número desconhecido e tem um vídeo. Clico para assistir, a curiosidade me vencendo. No vídeo aparece meu site Resenha Dores na tela de um computador, logo depois uma pessoa manuseia o mouse com uma luva preta de couro, aperta uns botões no teclado e diversas palavras aparecem na tela. Franzo a testa sem entender nada do que está acontecendo e então, o entendimento aparece como um soco no estômago quando aparece na tela a localização da minha casa e meus dados do e-mail que utilizei para criar meu site. 

Fui hackeada. 

Encosto em uma das estantes atrás de mim, tentando recuperar o ar que fugiu de meus pulmões. Quando achei que não podia piorar, chega outra mensagem do mesmo número: 

Me encontre na praça perto de sua casa hoje à noite , sozinha ou todo mundo, inclusive seu namorado, saberá do seu segredinho.

Tudo em torno de mim fica turvo. Escorrego pela estante até chegar ao chão e colocar meu rosto entre minhas mãos pensando no que fazer. Eu serei muito imprudente ao ir me encontrar com esse chantagista sozinha mas ao mesmo tempo, que escolha eu tenho? Jamais imaginei que alguém poderia ser tão maldoso ao ponto de fazer isso comigo. 

- Camila? - levanto a cabeça e encontro o olhar preocupado de Carla, a bibliotecária da escola - Está tudo bem? 

Dou um sorriso fraco para tranquilizá-la. 

- Só estou com dor de cabeça - minto. 

- É melhor você ir até a enfermaria, dependendo de como for, Helena te libera para ir embora. Você quer ajuda para ir até lá? 

Me levanto e balanço a cabeça.

- Não precisa, Carla mas muito obrigada, mesmo assim. 

- Não tem de quê, querida. 

Caminho até a enfermaria, agradecendo por Tomás, Diego estarem em aula  e Jô estar na aula de ballet. Minha amiga saberia como me ajudar, porém não quero envolvê-la nesta história, pelo menos não antes de saber quem é essa pessoa e o que ela quer de mim. Entro na enfermaria e encontro Helena sentada atrás de sua mesa costumeira. Ela levanta o olhar para mim e se levanta rapidamente. 

- Camila? Meu Deus, você está pálida. O que você está sentindo? 

Desespero, penso comigo mesma.

- Estou com dor de cabeça, acho que vou menstruar ou alguma coisa me fez mal - minto novamente. 

- Entendo - ela me analisa atentamente - Vou liberá-la para ir para casa, tudo bem? 

Balanço a cabeça em afirmação, segurando minhas lágrimas que estavam ameaçando a cair. Ela me entrega o papel com minha liberação e eu vou voando para meu carro. Não consigo aguentar mais e minhas lágrimas caem em cascata e descontroladamente por meu rosto. Quem teria interesse em me chantagear? O que essa pessoa iria querer de mim? Choro até que tenha condições de dirigir até minha casa e aliviar um pouco a angústia crescente em meu peito. 

Resenha Dores | Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora