Capítulo 26

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Tomás

Saio da escola completamente desnorteado por tudo que vi na ginásio. Trechos do que Camila escreveu sobre meu irmão rodam na minha cabeça, me deixando tonto. Apenas noto que está chovendo quando minha roupa já está encharcada enquanto procuro meu carro no estacionamento. 

- Tomás - uma voz feminina me chama. 

Não me dou ao trabalho de me virar para saber que é Jô me chamando, apenas continuo andando apressadamente. Entro no carro e saio com ele cantando pneus. Não entendo como Camila pode ter me escondido isso, eu me abri com ela de todas as formas, pois pensei que não pensaria duas vezes antes de dividir seus segredos comigo mas eu estava completamente enganado. 

Dirijo sem saber para onde, apenas sei que minha casa não é uma opção, preciso me acalmar antes de me encontrar com Diego. Dirijo até chegar ao lugar que meu inconsciente me trouxe. Respiro fundo ao ver o coreto favorito de Luna. Desço do carro e corro na chuva até entrar no lugar. 

O coreto é rodeado por uma armação de ferro branco e com arabescos forjado com oito colunas para suportar o telhado em forma de cúpula. Subo no lugar e observo tudo. Nada mudou desde a última vez que estive aqui com Luna. Me sento no meio do coreto e uma lembrança específica volta a tona.

- Por que estamos aqui? - pergunto enquanto Luna me puxa pela mão. 

- Porque eu amo este lugar e quero ficar em um lugar que eu amo com o namorado que eu amo - ela olha para trás, sorrindo. 

Sua aparência mostra sinais de como seu corpo está sucumbindo a doença. Suas olheiras estão cada vez mais profunda, está cada vez mais magra, seus braços estão com manchas roxas por conta das diárias injeções da quimioterapia (que já havia levado embora seus cabelos também). Contudo, mesmo estando tão cansada, Luna nunca deixa de sorrir. Sua própria força e vontade de viver é inspirador para todos nós que a amamos. 

Subimos no coreto e ela me puxa para sentar no chão ao seu lado. Luna fica olhando para o nada por alguns minutos e eu a observo nesse tempo. Observo o vestido que escolheu para usar no dia de hoje. Foi eu que lhe comprei quando viajei para Paris com minha família, quando eu vi este vestido azul com estampa de estrelas do mar, eu sabia que teria que comprar para ela. Para combinar com a roupa, Luna comprou um lenço para cobrir sua cabeça sem cabelos. 

O câncer pode ter tirado muito de Luna, porém nunca irá conseguir tirar sua beleza.

Seu coração gentil e bondoso é uma preciosidade que deve ser protegido e eu gostaria de poder proteger de todo mal do mundo. 

- Eu estou exausta, Tomás - ela diz baixinho.

Olho para minha namorada e entrelaço nossas mãos.

- Como assim, Luna? 

- Eu amo tudo relacionado a estar viva, amo muito mas eu sinto que meu tempo está se esgotando e percebi que estou muito bem com isso, porque eu estou muito cansada. 

- Você está desistindo de lutar? - minha voz soa trêmula.

Luna me olha e toca meu rosto com mão que não está entrelaçada com a minha. 

- Eu não tenho mais forças para lutar , meu amor. 

- Luna - soluço, desesperado - Não diga isso, por favor. Eu não posso te perder. 

Ela me abraça forte e eu choro em seu peito. A ideia de ficar sem Luna é desesperador, é um sentimento que transcende qualquer palavra. 

Resenha Dores | Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora