CAPITULO I

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Boa leitura!

Mobile, Alabama

Terça-feira, vinte e três de Julho de 1844

Era um dia calmo e quente na cidade portuária de Mobile. As ruas estavam desertas às três da tarde, que era o horário mais abafado do dia. Os homens que trabalhavam nos escritórios da Rua Water já tinham, havia muito, tirado os paletós e afrouxado as gravatas e outros muitos apenas descansavam com os pés apoiados nas mesas, consumidos pelo tédio que o calor provocava.

As senhoras, antecipando o calor intenso da tarde, providenciaram seus afazeres pela manhã e agora estavam satisfeitas no ambiente fresco de dentro de seus lares. Muitas tinham até fechado as cortinas de seus quartos, tirado seus pesados vestidos e agora procuravam tirar um cochilo. Enquanto num dos quartos da mansão de oito colunas da Rua Dauphin, uma jovem banhada em suor e cheia de dores estava em trabalho de parto de seu primeiro filho.

Ao acordar naquela manhã, sentindo as costas em frangalhos e um leve começo de contrações, Marion Park soubera que seu filho não esperaria muito mais para nascer. Olhara para o marido adormecido e sorrira. Era ainda cedo, sete horas, deixaria que ele dormisse um pouco mais. Contudo, não conseguiu esperar mais de cinco minutos. Uma dor intensa atingiu seu baixo ventre, fazendo-a tocar, assustada, o ombro nu do homem adormecido a seu lado. E ele percebeu logo sua aflição em sua expressão e o medo em seus belos olhos castanhos.

— Meu Deus! Está na hora! — exclamou ele, sentando-se depressa. — Você vai ter o bebê! Mandarei buscar o Dr. Ledette! — Park Jiwoon pulou do leito, começando a vestir-se, ansioso. — E melhor ligar para Délia, meu amor! — disse, alarmado.

Marion sorriu. Abriu os braços e chamou-o. — Jiwoon, venha até aqui. — Com o rosto contraído pela preocupação, ele se aproximou, sentando-se junto dela.

— O que foi, meu amor? O bebê já está nascendo?

— Ainda não. — Marion tomou-lhe uma das mãos e colocou-a sobre sua barriga arredondada. — Mas vai nascer em breve. Mas quero que me prometa uma coisa.

— O que quiser querida.

— Prometa que não vai agir como um tolo hoje — Marion pediu com muita gentileza, acariciando os cabelos claros do marido.

Jiwoon franziu as sobrancelhas diante daquele pedido.

— Já me viu agir como um tolo?— indagou um tanto ofendido.

Ela tornou a sorrir, sabendo o quanto aquele homem, por quem se apaixonara à primeira vista anos atrás a adorava, e lembrou-o. — Apenas naquelas ocasiões muito raras em que fiquei doente e você se afligiu demais. — Jiwoon recordou e assentiu grave, enquanto Marion continuava. — Não há nada com o que se preocupar, está bem? Sou jovem, saudável, e estou muito feliz porque nosso primeiro filho está chegando. E pretendo encarar este parto com naturalidade e sem maiores problemas. Agora, meu querido, dê-me um beijo. — Pediu, no entanto a dor de mais uma contração interrompeu o breve momento de paz. — Meu Deus, de novo, não! — Marion gemeu quando o grande relógio de parede do corredor bateu as três da tarde. — Não vou suportar... — sussurrou, o rosto banhado em lágrimas. — Não vou suportar!

Cada um de seus poros vertia suor e, como estava nua, os lençóis se achavam molhados também. Sentia os longos cabelos loiros colados na cabeça e nos ombros, tentava seguir as instruções dadas pelo diligente dr. Gerald Ledette, que a assistia, bem como aos apelos de paciência e determinação que sua fiel camareira, Délia, lhe fazia.

— Empurre com força agora! — dizia a rechonchuda e bondosa Délia. — Não vai demorar muito. — E segurava-lhe a mão, passando-lhe um pano úmido pela testa e pelo pescoço. Mais duas criadas auxiliavam o médico, trazendo uma bacia com água limpa e tecidos macios.

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