CAPÍTULO XV

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Segunda fase

Boa leitura!

Mobile - Alabama, Inverno de 1880

— Pelo que ouvi dizer, ele fez fortuna com ferrovias — disse um dos homens.

— Não, não, foi com minas de ouro — foi a opinião de outro.

— Foi com o telégrafo! — declarou um terceiro, como se tivesse toda a certeza do mundo.

— Não é nada disso! — exclamou, ainda, um quarto. — Ouvi dizer que foi com a retirada dos bloqueios, ainda durante a guerra.

— Bem, seja como for — rebateu o primeiro dos interlocutores — o que sei com certeza é que o sujeito é um homem muito rico. Que tem toneladas de dinheiro.

O assunto do grupo era o convidado de honra que ainda não estava presente à reunião dessa noite. O camarada era um completo enigma para todos ali. Sutton Vane acabara de chegar a Mobile, deixando clara sua intenção de fixar-se na cidade. Dizia-se que comprara uma ilha particular junto a costa próxima a Ono, onde pretendia construir uma mansão de veraneio. E o que se sabia ao certo era que adquirira uma mansão na rua do Governo, bem no centro de Mobile.

Além disso, pouco ou nada se conhecia sobre o misterioso cavalheiro que tinha sido convidado para a festa, cujo anfitrião era o coronel George P. Ivy. O idoso soldado jogara cartas com Sutton Vane na véspera, no Clube Magnólia e sentira-se muito bem em sua companhia, embora tivesse comentado que o novo cidadão era um tanto reservado. E, com sua sempre presente hospitalidade sulista, o coronel o convidara para a comemoração em sua casa, insistindo em sua presença.

Na mansão da rua Dauphin, Park Jimin - Tigart preparava-se para fazer uma rara aparição num evento social. Escolhera levar uma vida tranquila, reclusa. Ferido pelo escândalo que rodeara sua separação e pelos rumores sobre o afastamento de seu companheiro do cargo que ocupava no Banco Planters, em decorrência de um possível desfalque, Jimin agora preferia a solidão e a tranquilidade de seu lar. Ou melhor, da casa que, um dia, lhe pertencera.

A escritura da mansão, bem como tudo o mais, se perdera quando Jeremiah tivera de saldar seus inúmeros débitos. E agora, a propriedade que Park tanto amava fora parar nas mãos da Corporação Bay Minette. Não fazia ideia de quem poderiam ser os donos de tal firma poderosa. Talvez ianques abastados. De qualquer modo, sentia-se grato por poder morar ali, já que a corporação permitira sua estada em troca de um suave aluguel mensal.

Jimin sentira-se obrigado a estar presente na festa dessa noite, já que o coronel, antigo e querido amigo da família, insistira para que lhe fizesse esse agrado e estivesse com ele. O coronel passara pelo Hospital dos Veteranos, onde Jimin trabalhava, para fazer-lhe o convite.

A princípio, ele começara a esboçar uma desculpa para não ir, mas acabou mudando de ideia, e o rosto avermelhado e simpático do idoso oficial se iluminara ao ver que o convencera. Parecia que Ivy, na realidade, elaborava algo que, com a presença de Jimin, seria perfeito. E, por gostar, de fato, muito dele, Minie acabara por sorrir, dizendo:

Pode contar comigo, coronel.

Durante todo o longo e infeliz casamento que tivera com Jeremiah Tigart, procurara esconder sua angústia, sem partilhar seu desespero com ninguém, nem mesmo com suas melhores amigas, as gêmeas Johanna e Juliette. Mesmo quando Jemmy, nos últimos dezoito meses antes de partir, começara a procurar a companhia de outros homens e até mulheres, ele se mantivera calado e paciente.

Mobile, como típica cidadezinha, era um local onde não se podia manter segredos por muito tempo e, em breve, todos souberam das indiscrições de Jeremiah. Mas Jimin jamais as comentara, nem com o marido, nem com mais ninguém. Quando ele chegava tarde da noite em casa, bêbado, cheirando a perfume barato, Park não o repreendia. Imaginava, ao contrário, que ele era o maior culpado por tudo aquilo. Nunca o amara e Jemmy o sabia. O fracasso de seu matrimônio era, portanto, culpa de ambos. Assim, havia um ano o escândalo sobre o banco veio à tona e Jemmy pediu a separação, sumindo de Mobile logo em seguida.

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