CAPÍTULO XI

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Boa leitura!

Quando Jimin completou vinte anos, no verão de 1864, já não era o garoto trigueiro e cheio de alegria que fora no passado. As circunstâncias o tinham forçado a amadurecer cedo, a se tornar sério e responsável para poder cuidar de si mesmo.

Estava completamente só na enorme mansão da Rua Dauphin. Seus pais haviam morrido, os criados, ido embora. Até mesmo a sua fiel escudeira Ruby Lee se fora, ao perceber que
seu jovem patrão não conseguiria sustentar a ambos. Agora ela vivia em casa de alguns parentes no centro da cidade.

Park Jiwoon perdera toda sua fortuna lutando pela causa confederada. Pouco sobrara de tudo o que possuía, junto com a mansão em que a família morava. No verão de 1863 ele morrera, deixando a esposa e filho desesperados. E fora a dor por perdê-lo que acabara levando Marion Park ao túmulo também. Jeon Jungho falecera em combate, durante o terrível cerco de Vicksburg. Carrie, desgostosa, vendera a propriedade por um quarto de seu valor fora embora para Nova Orleans, onde agora vivia com alguns primos.

Diante todas aquelas tragédias, Jimin tentava manter-se firme, altivo, como era costume dos cavalheiros do Sul. Continuava dizendo a si mesmo que poderia
suportar tudo, qualquer coisa, exceto perder Jungkook. E, enquanto tivesse esperança quanto do seu retorno, sobreviveria.

Além do mais, não era o único para quem aquela guerra trouxera muita dor e mudanças radicais. Johanna Parlange enviuvara semanas após ter se casado com um jovem soldado de Montgomery. Juliette jamais se casara. Um ano antes, sua avó morrera e agora as gêmeas lutavam por manter a mansão que habitavam. A Srta. Foster, antiga professora de música de Jimin e Jungkook, já não tinha alunos. Melba Adair, também viúva, fora forçada a vender sua belíssima propriedade, com os magníficos jardins que tantas vezes forneceram flores para as mais belas ocasiões de Mobile. Lydia, sua filha, ainda vivia com ela, numa casinha da Avenida Herndon, na qual não havia terreno algum para que plantassem fosse o que quer que fosse. Os Kim todos viraram prisioneiros de guerra, até a matriarca deles que ousara lutar contra os nortistas malditos.

Os tempos eram duros, mas Jimin sabia que tudo poderia ter sido ainda pior. A cidade de Mobile, com as ligações férreas e de água em relação ao coração confederado, era um ponto valioso para o Sul. Na baía, a entrada para o porto estava bloqueada, no leste e no oeste, vigiada em duas fortificações, Forte Gaines e Forte Morgan. E a água entre os dois era cheia de minas e entulhada com barcos afundados. Por ali tinham passado rápidos vapores do Sul, carregados com algodão e munição, mas as embarcações foram ameaçadas pelas forças federais sem nenhuma trégua.

Quase desde o começo da guerra, o bloqueio feito ali e a falta de homens para administrar as fazendas e os negócios locais tinha levado os cidadãos de Mobile a sofrer pela falta de comida e suprimentos. Pior ainda: os impostos agora eram enormes. Ainda assim, os cidadãos sentiam-se mais confortados pelo fato de que os exércitos da União não ocuparam Mobile. Todos ali tinham ouvido histórias terríveis sobre como os ianques varreram outros lugares do Sul, arrasando e queimando tudo o que estava em seu caminho.

Temendo que Mobile tivesse o mesmo destino, Jimin enterrara a prata da família sob um frondoso carvalho que crescia nos fundos da propriedade. Também enterrara ali alguns tesouros sentimentais: um pente de madrepérola decorado com pedras semipreciosas que pertencera a sua mãe, o relógio de bolso de seu pai, folheado a ouro, e o mais precioso do que todo o mais, o retrato de um jovem de dezesseis anos numa armação de prata. Park, como muitos outros cidadãos, esperava que a cidade fosse tomada pelos ianques a qualquer dia.

...

Jeremiah Tigart, cuja origem fora modesta, sempre invejara Jeon Jungkook pelo que ele possuía: fortuna, posição social e, acima de tudo, o belo Park Jimin. Tudo deveria ter sido seu. Com Jeon fora do caminho, talvez agora fosse mais fácil conseguir o que sempre almejara.

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