CAPÍTULO XVIII

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Boa leitura!

No meio da manhã, Kim Namjoon, que era carinhosamente chamado de Ossos, sentava-se diante de seu patrão, no lado oposto da escrivaninha de mogno do escritório. As pesadas cortinas ainda não tinham sido abertas e a única luz no ambiente de paredes cobertas de madeira vinha de uma luminária sobre a mesa. A luminosidade, assim, era difusa, concentrando-se apenas sobre o tampo da mesa.

Nas sombras do outro lado dela estava o rosto sério de Sutton Vane. Também nas sombras via-se o armário alto cheio de gavetas a suas costas. Ali dentro havia anotações, telegramas, cartas, recortes de jornal, cada item arquivado e etiquetado com um dos nomes de sua lista negra.

Namjoon tentava perceber, na expressão de seu patrão, qualquer coisa que lhe fosse decifrável no que aprendera sobre aquele homem nos cinco anos em que se achava a seu lado. Mas era impossível notar o que quer que fosse. Existia sombra demais diante daquele semblante. Ossos permaneceu em um silêncio respeitoso e compreensivo, esperando, enquanto Sutton lia as páginas que continham as informações chegadas à véspera num envelope que Ossos fora buscar na agência dos correios.

Conforme estudava o material que tinha diante de seus olhos, Sutton inclinava-se para frente, interessado, mas cansado, conteve um bocejo. Ossos sabia muito bem por que motivo Sutton estava com sono nessa manhã. Seu patrão estivera acordado até bem tarde, entretendo Park Jimin-Tigart. Vane informara Ossos de que, depois da ópera, ele o traria para casa e que queria total privacidade. Kim deveria cuidar para que todos os criados estivessem recolhidos a seus aposentos e que não se aventurassem a sair, sob hipótese alguma.

Ossos os ouvira chegando, por volta das onze horas, na noite anterior, quando a carruagem passara ao lado da casa, abaixo da janela de seu quarto. E mais tarde despertara, quando a sr. Tigart se foi. Consultara o relógio e constatara que passava das duas da madrugada. Agora, ali, diante de seu patrão, Namjoon franzia a testa pensativo, imaginando se a sedução que ele organizava em torno da sr. Tigart acontecera de fato naquela ocasião. Não aprovava que Sutton tirasse proveito daquele rapaz. Conhecera-o e gostara de imediato dele. Não queria vê-lo sofrendo, mas quando tentara interferir em seu favor, recebera apenas a quietude gelada de Sutton, que ele sabia muito bem o que significava. Ossos entendia que seu patrão era, de muitas formas, um homem justo e bondoso.

Bondoso até demais, como Ossos nunca vira outro. Mas podia também ser frio e calculista, cruel até, com aqueles que lhe tinham feito mal. Ossos não o recriminava por ter castigado Jeremiah Tigart. O sujeito tivera o que merecia por ter lançado Sutton naquele calabouço com o único propósito de apossar-se de seu amado. Chegara mesmo a se oferecer para ele mesmo fazer o serviço, caso Sutton quisesse ver Tigart morto. Iria dar-lhe grande prazer torcer o pescoço de um covarde como aquele, dissera. Todavia, Sutton não aceitara sua oferta, e Ossos tinha consciência do motivo.

Jungkook não conseguia esquecer que Jeremiah Tigart salvara sua vida quando ainda eram garotos, e jamais conseguiria matar o antigo amigo, apesar de tudo o que ele lhe fizera.

"— Quero que Tigart viva muito, que envelheça sozinho, no exterior, sentindo falta de seu país, de sua casa e de seu lindo companheiro — Jeon, que agora era Sutton, dissera. — Seus dias serão vazios e solitários como foram os meus, naquela prisão."

Outro que se encontrava na lista negra de Sutton e que teria de pagar pelo que fizera era o capitão da guarda do presídio, que tornara a existência de Sutton um inferno na terra: Gilbert Lakid.

Na opinião de Ossos, Lakid merecia uma punição bem pior do que a de Tigart. E a receberia, assim que fosse localizado, tinha certeza. Os homens que Sutton contratara verificavam sempre, com as autoridades, e faziam investigações próprias, mas até o momento não tinham conseguido localizar o miserável. Quando o fizessem, deveriam avisar Sutton de imediato. Porque ele queria punir Lakid pessoalmente por todo o mal que lhe causara. Havia um plano especial em seu íntimo para levar aquele mau caráter à justiça. E esse plano não incluía a morte do ex-capitão da guarda. Era algo muito, muito pior do que a morte.

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