CAPÍTULO XIV

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Boa leitura!

Nas profundezas do presídio, os dois prisioneiros ficavam a cada dia mais amigos. O longo confinamento e as privações pelas quais passavam tinham-nos modificado de
maneiras diferentes.

Finis não perdera a noção do tempo, sabia em que ano se achavam, em que mês, em que dia. Sabia até que horas eram. Jeon ficava impressionado com isso. No entanto, o major não se conformava por ter perdido o sentido de direção que o levara a fazer cálculos tão errôneos quanto ao local por onde deveria continuar cavando. O idoso soldado não entendia como pudera ficar tão desorientado.

Quando, por fim, disse que já era hora de voltar a sua cela para poder dormir um pouco, Gukk tocou-lhe o braço.

— Espere. Seja como for, conseguiu cavar um túnel. Mas... que tipo de ferramentas usou?

Finis assentiu.

— Eu mesmo fiz algumas. Existia uma cama em meu cárcere quando fui jogado nele, e consegui produzir uma alavanca e uma espécie de faca. E fui capaz de cavar quase seis metros com elas.

— Meu Deus! Seis metros!

— Demorou muito. — O major meneou a cabeça, frustrado, completando — Agora entendo que qualquer tipo de fuga é impossível. É meu destino morrer aqui dentro, neste buraco.

— Não! Não deve desistir! — Jungkook incentivou-o. — Se conseguiu cavar um túnel em uma direção, por que não conseguiria em outra? Por que não tentar outra vez?

Finis encarou-o, mal o vendo na escuridão. — Tentar de novo...? — Analisava a ideia. — Deve estar louco, meu rapaz. Não entende? Custou-me três anos fazer as ferramentas! Pode imaginar o quanto trabalhei? Quanto levou cavar até esta cela? Foram mais dois anos! Dois longos e cansativos anos! E trabalhei sem parar, todas as noites, cavando, sangrando meus dedos.

E, tendo nos olhos uma expressão ainda mais selvagem do que a que adquirira naquele sofrimento todo, Finis continuou explicando como seus braços tinham ficado exaustos, como sonhara, como desejara sair dali, como fora extenuante todo seu esforço, que agora não dava os frutos desejados. Contou que pudera localizar um velho cano de esgoto, mas que havia sido bloqueado para evitar fugas. No entanto, fora dentro dele que pudera esconder toda a terra que deslocara.

Jeon ouvia-o, paciente, assentindo, entendendo seu desespero. E, quando o major por fim terminou de falar, argumentou:

— Não cavou à toa, Finis. Você me encontrou e, mesmo se não o tivesse feito, seu projeto, seu trabalho, foi o que o manteve firme até agora. Tinha esperança de ganhar a liberdade amigo, uma razão para continuar sobrevivendo! — Finis deu de ombros, aborrecido, mas Jeon insistiu. — Devemos escavar um outro túnel! Juntos! O que me diz? Um pela parede norte, que nos fará ganhar a liberdade um dia!

Houve alguns segundos de intenso silêncio, enquanto Finis parecia digerir aquilo. Depois, disse, calmo suave:

— Iria demorar tanto... Não tenho mais energia suficiente.

— Então, deixe que eu cave. Tenho força para nós dois.

— Não sei... — O major suspirou. — Pode levar dois, até três anos, talvez ainda mais, para completarmos um túnel que passe pelo pátio da prisão e siga para além das muralhas.

Jungkook sorriu, respondendo rápido:

— Dois anos? Três? Olhe, com a possibilidade de estar livre, eu poderia fazê-lo durante um milênio, se fosse necessário! Quando começamos?

O entusiasmo dele animou o velho soldado, que sorriu, dizendo apenas:

— Estou cansado demais agora, mas se vier a minha cela amanhã à noite, poderemos dar início a nosso plano.

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