"A alma resiste muito mais facilmente às mais vivas dores do que à tristeza prolongada.
- Jean- Jacques Rousseau"
Londres, março de 2012.
Havia muito tempo que o sol não surgia na cinzenta Londres, o inverno tinha sido rigoroso e frio.Mas agora o inverno ia embora, e a primavera se aproximava, com uma luta preguiçosa do sol contra as nuvens nebulosas que pareciam ser atraídas magneticamente para Inglaterra na maior parte do ano.
Raios luminosos tentavam florescer no céu, enquanto Antonia analisava um jarro de argila encontrado em uma ruína Inca. Sua especialidade eram os povos da Crescente Fértil, mas por vezes, ela se aventurava nos povos primitivos da América Latina. O laboratório de análise tinha a temperatura e entrada de oxigênio controladas, para preservar as peças de milhares de anos que ali ficavam. O bip do sistema de abertura da porta fez com que a pesquisadora tirasse os olhos da peça, e visse o rosto amigo.
— Tonia, estão ligando para você – falou a moça loira, ainda na entrada. – acho que é a sua irmã, ela disse que não conseguiu ligar para seu celular. – completou Emily com sua tradicional tranquilidade.
-– Ah, obrigada. Não havia percebido que estava sem bateria.– respondeu para a amiga.
— Você nunca percebe. – retrucou a outra com um sorriso arteiro.
Fazia quatro anos que Antonia havia saído do Brasil, e ela ainda não tinha se acostumado com o clima de temperatura baixas. Mal podia sair do apartamento no outono que seus dentes começavam a tremer, Eddie toda vez que flagrava o sofrimento dela realizava uma série de piadas, com intuito de provocá-la.
Mas que culpa tinha ela de ter nascido no caloroso nordeste brasileiro, onde temperaturas abaixo dos vinte graus Celsius são uma raridade que faz todos colocarem o único casaco grosso do armário. Agora, porém, o armário de Antonia só tinha roupas pesadas e grossas, com tantas camadas que sua mãe ao receber um desatou em uma gargalhada.
Sentia falta de ouvi cotidianamente aquela risada, que sempre vinha posteriores a uma das piadas da irmã caçula. Era doloroso, aflitivo não vê-las mais todos os dias, mas era necessário. Foram muitas horas em claro estudando para o vestibular, vinda de escola pública, com as contas atrasadas em casa, uma universidade particular não era uma alternativa viável.
Depois de três anos de ensino médio de esforçado estudo, a nota dela tinha sido alta o suficiente para o curso de maior concorrência. A mãe chorou ao escutar que a filha iria para uma universidade pública federal, os professores de Antônia ficaram em polvorosa pelo resultado da moça, alguns até sugeriram que ela fizesse medicina. No entanto, o que Antonia queria fazer era História.
Ninguém foi capaz de mudar a decisão da menina, que aos dezessete anos estava certa da própria vocação. Queria passar a vida vasculhando artefatos, traduzindo documentos e explorando ruínas a fim de entender povos antigos. E esse era seu destino, tanto que concluiu o curso com louvor, ganhou prêmios por suas pesquisas acadêmicas e foi convidada para uma fazer o mestrado na Inglaterra, assim que concluiu sua pós-graduação.
Aceitou sem hesitar, no momento que recebeu o e-mail gritou até a voz sumir. Essa era recompensa por seu esforço. Ela não queria deixar a família, mas era óbvio que uma oportunidade como esta era irrecusável. Não era só sobre conhecimento, mas também sobre uma mudança de vida. Ia poder ajudar a mãe, pagar os estudos da irmã e claro se exibir para irmão que desacreditava de historiador como profissão.
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LINHAGEM [CONCLUÍDA]
Historical FictionEm 2526 a.C., a Quarta Dinastia Faraônica reinava próspera e plena no Antigo Egito. Sob a proteção dos deuses, a realeza desfrutava de uma realidade luxuosa, enquanto servos se sacrificavam para atender os caprichos dos nobres. Até que uma mulher, t...