XVII

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" A morte parece menos terrível, quando se está cansado.” — Simone de Beauvoir.

Antigo Império Egípcio, 2526 a.C

   — Nós o encontramos, senhor. – Chavi respondeu contido.

   E agora? pensou Djedefré.

   — O que quer façamos com ele? – perguntou o general.

    — Onde ele está? – replicou tentando esconder o nervosismo.

   — Nas prisões, colocamos ele separado dos outros. – falou com cadência.

   — Leve-me até ele. – pediu inexpressivo.

    Os dois homens seguiram em silêncio pelos corredores, um deles estava aliviado e contente por ter cumprido seu papel. Encontrar o hebreu não foi difícil, ele era uma figura carismática na região, muitos comerciantes tinha ele como fornecedor. No entanto, o ponto crucial para achá-lo havia sido uma vendedora de ervas, uma típica bisbilhoteira que por algumas moedas vendeu a identidade do homem que vez outra tinha sido flagrado com uma cortesã entre as vielas.

   — Não achamos a mulher, ela sumiu completamente. – o militar disse baixo, com uma vergonha palpável na afirmação.

   — Está tudo bem, ela deve ter morrido junto com a praga. – as palavras soaram tão verdadeiras que o príncipe se surpreendeu com a sua habilidade recente de mentir.

    Depois de dois lances de escada, chegaram a um local que era completamente iluminado por tochas, estavam nas masmorras do palácio. Os guardas saudaram a entrada do futuro faraó, enquanto muitos acorrentados pediram por clemência. Ao desbravarem duas câmaras, chegaram ao local onde estava o hebreu. O homem de pele clara, apresentava um hematoma em um dos olhos. A barba castanha estava manchada com sangue e as vestes empoeiradas, ao seu lado um pão bolorento competia a sujeira com o chão.

   — Ora, se não é próximo faraó do grande Egito! – desdenhou o hebreu, sorrindo o que revelou dentes ensaguentados.

    Djedefré se limitou a observar a figura masculina, buscando entender o que de especial o homem possuía. Desejava descobrir o que tinha feito Kytzia se apaixonar de forma tão avassaladora por alguém que parecia tão insignificante.

   — Não vai falar nada imperador, não vai perguntar onde está Kytzia?! – bradou se movendo contra o egípcio, o que fez as correntes tilintarem.

   — Deixe-me sozinho com ele, por favor. –Djedefré pediu.

   Os guardas recuaram, deixando os dois sozinhos.

   — Onde está ela, onde está Kytzia?    – Rephael tentou avançar contra o outro, mas foi contido pelas correntes. – Seu bastardo desgraçado!

   Uma faísca surgiu em Djedefré. Um comichão que lhe provocava a dizer a verdade para o hebreu, ele queria contar onde estava Kytzia e com quem ela ficaria até o fim da vida.

   — Por que se envolveu com uma cortesã? – perguntou fugindo da sua tentação. – Pensei que seu povo só acreditasse que moças castas fossem dignas.

    — Kytzia não era só uma cortesã. – retrucou com ferocidade.

   — Tem razão, ela era minha cortesã. – incitou, sentindo sua confiança crescer.

   — Seu filho do pecado e podridão! – revoltou-se, tentando atacar outra vez. – Kytzia nunca amou você, ela vinha até aqui somente para realizar os objetivos do velho. Ela me amava!Diga-me onde ela está!

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