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   “A paixão aumenta em função dos obstáculos que se lhe opõem.” – Shakespeare.

Antigo Império Egípcio, 2526 a.C

    Jahi abanava a espada no ar com vigor, o homem vinha em disparada na direção do casal, sem nenhum sinal de que hesitaria em usar a arma. Djedefré se levantou involuntariamente, mas não teve tempo para assumir uma posição de defesa, já que antes de seus pensamentos se completarem sofreu o impacto do soldado contra seu corpo. Os dois homens eram muitos diferentes, o soldado era mais alto e mais musculoso, deixando a disputa completamente desproporcional.

    Kytzia sob seu disfarce se ergueu do banco assustada, enquanto o amante de Hetepheres golpeava o futuro faraó. Djedefré conseguia conter as tentativas de esfaqueamento, mas o ataque surpresa não possibilitara um movimento de defesa efetivo.

   A mulher que estava sendo ignorada na briga, buscou por um espaço no conflito, e golpeou o bíceps do braço que segurava a faca, o homem arqueou e gemeu sob o toque bruto da mulher. A arma tilintou no chão, dando espaço para um ofensiva agressiva de Djedefré. O príncipe talhou um pancada no tórax do sujeito, que recuou irresoluto.

   — Já chega, Jahi! – ordenou a mulher, tentando evitar um fim trágico. – Deixe dessas bobagens! Não percebe a besteira que está fazendo?!

   — Eu não vou parar, não vou parar... – ele respondeu alienado.

   — Jahi, eu exijo que pare agora! Ofereço-lhe minha piedade se cessar seus ataques. – bradou o príncipe herdeiro.

   — Não! – rugiu. – Você me prometeu! Prometeu que ficaríamos juntos, que enfrentaria a dinastia para que nós dois tivéssemos um futuro! Ou você pertence a mim, ou pertencerá a morte. E ele irá junto com você! – apontou para o outro homem que ainda mantinha uma posição apaziguadora.

   — Chame os guardas...

   Djedefré começou a falar, mas foi interrompido pelo o amante da princesa que o encurralou em uma das pilastras do pavilhão. Ele retirou uma adága da túnica que usava, ergueu por cima da cabeça e se preparou para apunhalar o homem sitiado. Kytzia, em uma atitude desesperada, jogou-se contra a cena e foi afastada com um solavanco, caindo violentamente no chão. O impacto foi tão agressivo que a corrente do seu amuleto se rompeu, permitindo que o símbolo se descolasse de seu corpo e revelasse sua verdadeira face.

   — Mas o que é isso? – o espanto dominou o semblante do portador da adága.

   Aproveitando-se da distração, Djedefré afligiu um murro na garganta do homem ainda pasmo. Ele bramiu de dor ao sentir a pancada atingir sua traqueia, as lágrimas molharam sua face e os olhos permanecia fixos na mulher caída.

   — Hete...On... – tossiu tentando falar.  – Onde está minha Hetepheres? – a fisionomia era de genuíno desconsolo.

   O futuro faraó pegou a adága que o outro soltara e a prendeu sob os dedos, olhou pedindo auxílio para mulher que permanecia prostrada. Nenhum dos dois sabia como proceder, aquilo não estava nos planos e era um grande incoveniente. Não poderiam deixar Jahi vivo, uma vez que ele agora sabia do segredo do casal.

   — Onde está Hetepheres? – perguntou sem energia.

   — Eu sinto muito. – Djedefré falou.

   Kytzia se levantou com velocidade, pegou o amuleto.

   — Deixe que eu faço. – pediu ela, aproximando-se dos dois homens. – Você já fez demais por mim, deixe que eu carregue o peso dessa culpa. – ela pegou a pequena faca da mão dele.

LINHAGEM [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora