XXII

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“Sempre acabamos adquirindo o rosto da nossa verdade.” – Albert Camus.

Antigo Império Egípcio, 2525 a.C

    Dezoito meses após a coração de Djedefré as coisas seguiam de maneira tranquilas, o Egito estava próspero e pacífico. Uma série de reformas havia acontecido, barragens foram construídas e zonas de agricultura tiveram as áreas expandidas. Ainda havia muito para ser realizado, mas os servos conseguiam sentir que estavam sob um governo mais misericordioso.

    Os deuses ainda continuavam a exercer uma poderosa influência, o que desagradava Kytzia de maneira crucial, mas ela estava em situação de impotência. O acordo com Ísis continuava a ser cumprido pelas duas partes, os templos e sacerdotes eram construídos em honra a deusa. Enquanto a entidade cumpria seu papel na proteção da mortal, assim como provia sua fertilidade

   — Oh, senhora! Veja só como o menino já está esperto. – Yunet exclamou, quando o bebê rechonchudo se sentou sozinho no tapete.

   — Sim, o pequeno Akil está cada vez mais inteligente. – Kytzia olhou com ternura para seu filho.

   O bebê havia nascido seis meses atrás, uma criança forte e saudável, exatamente como prometera Ísis. No início, quando descobriu a gravidez Kytzia se sentiu aliviada por cumprir a parte final do acordo. Não sentiu nenhum tipo de afeição pela vida que carregava no útero, até o dia que ele nasceu e os olhos redondos e bochechas fartas derreteram seu coração. Já Djedefré, amou o menino desde o primeiro momento que soube de sua existência.

   — Veja só se não é meu menino? – Djedefré entrou abruptamente no aposento.

   — Como estão as construções? – Kytzia perguntou assim que Yunet saiu deixando a família sozinha.

   — Um pouco atrasadas mais a ala subterrânea ficará pronta a tempo.  – ele respondeu, tocando no ombro da esposa.

   — Tem certeza? - indagou aflita. – A Estrela Menor está próxima do alinhamento, temos que está com tudo preparado!

   — Eu sei, eu sei... – retira o amuleto da mulher, revelando sua verdadeira face. – É uma ala muito grande e cheia de detalhes, não podemos explorar o trabalho do servos como era feito antigamente, por isso demorou um pouco mais...

   — Djedefré...

   — Calma, nada vai acontecer conosco. Realizaremos o ritual, iremos prender Apófis e viveremos sem nenhum peso. – completou, depositando um beijo delicado nos lábios da mulher.

   Kytzia recebeu o gesto com carinho, estava preocupada com iminência do ritual de aprisionamento, o temor só se tornava pior quando olhava para seu filho. Precisava protegê-lo, mais do que necessitava proteger a si mesma. Ísis havia controlado as forças de Apófis nos últimos meses, mas isso não duraria por muito tempo. O demônio anseava por uma vingança feroz, sua raiva era tanta que se aprofundava cada vez mais na escuridão e crueldade.

    A mulher sentia a força da serpente crescer todas as noites, quando a marca cravada em seu antebraço ardia de forma excruciante. Por mais que ela tentasse fugir do seu passado, estava feliz e realizada naquela vida inesperada. Madu e Rephael cruzavam seus pensamentos aleatoriamente, mas nunca ficavam por muito tempo. Sempre mudava o foco para outra coisa, fosse alguma decisão logística do governo ou necessidades do Akil.

***

   Madu estava fugindo há meses, ele conseguira matar o faraó e recuperar a vitalidade, ainda que os planos não tivessem sido cumpridos do modo exato que queria inicialmente. Contudo, suas dívidas com as entidades se acumulavam, Set vivia em seu encalço, assim como Apófis que não ficou satisfeito com a quebra de acordo.

LINHAGEM [CONCLUÍDA]Onde histórias criam vida. Descubra agora